Estamos
a exatos 353 dias das eleições e os fatos se sucedem numa rapidez e em
quantidade tal que faço minhas análises sem a pretensão de ter repostas
prontas. Em minhas análises duas coisas são essenciais: muita cautela e maciças
doses de chocolate. Sabíamos que teríamos surpresas até o último momento do
prazo para filiação e mudança partidária. É que partidos e atores políticos
negociaram suas recolocações como se estivessem em um leilão, sendo que os
políticos seriam as peças a serem leiloadas, literalmente.
Vimos
que a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, não logrou êxito ao solicitar seu
registro junto ao TSE. Nenhuma surpresa, pois havia forte movimentação em
Brasília para impedir que a REDE se tornasse um partido. O governo federal, o
PT, a bancada ruralista, para citar alguns, se deram as mãos para inviabilizar
o partido que colocaria Marina Silva no jogo. Com ela em segundo lugar nas
pesquisas a luz de alerta acendeu no Palácio do Planalto e no Congresso
Nacional.
Se sem um
partido para chamar de seu, Marina ameaçava, imagina com uma agremiação
legalizada e legitimada pela sociedade? Falo em ameaça, porque o discurso e a
prática de Marina é algo que atrai pessoas não pelo excesso e sim pela
escassez. Marina ficou sem partido e se filiou ao PSB no sábado em um festivo e
concorrido ato. A filiação a outro
partido não foi surpresa, pois cerca de oito legendas fizeram convites formais
a Marina. Inclusive o Partido Verde, do qual ela já foi filiada.
A surpresa mesmo, o inusitado,
foi Marina ter ido para o PSB. Porque é o PSB? Não, porque o PSB já tem Eduardo
Campos como candidato a presidente da República. Candidatura irreversível,
tanto que o PSB desocupou suas gavetas no governo federal. Como o mesmo partido
não pode ter dois postulantes ao mesmo cargo majoritário, meu caro Watson deduz
que Marina será vice na chapa com Eduardo Campos, a não ser que o governador de
Pernambuco seja tomado pelo espírito de Madre Teresa de Calcutá. Mas, isso não
acontecerá, pois na política tudo acontece menos milagres. O fato, é que depois
de ver a REDE sendo barrada pelo TSE, Marina tomou um banho de realismo
político e entendeu que teria que compor para levar adiante seu projeto
eleitoral.
Aquele discurso um tanto quanto
purista que Marina sabe bem fazer terá que ser reformulado. Pois, na política
ser realista é antes de tudo aceitar que para se alcançar fins ideais é preciso
traçar meios pragmáticos, objetivos e, no limite, pouco éticos. Ela se filiou
ao PSB para poder ser candidata e para ter espaço para divulgar e defender sua
agenda ecológica, ética, moral e social. Na verdade, a REDE continua a existir
como movimento autônomo e seus membros vão se distribuir pelos partidos.
Alguns, ariscos a política
partidária, seguem sem se filiar a uma legenda e defendem que a REDE lance a
anticandidatura de Marina, i.e., ela faria campanha, pediria votos, faria promessas
e propostas como candidata, mas não poderia ser votada. Mas, muitos atuam na
política partidária. O deputado federal Miro Teixeira, liderança da REDE,
trocou o PDT pelo PROS. A REDE vai agir tal qual a bancada evangélica. Ao invés
de pertencerem a um só partido, os parlamentares de Cristo se espalham pelas
agremiações, mas atuam bem próximos.
Marina tomou emprestada das
organizações da década de 70 a estratégia de se abrigar num partido legal para
atuar. O MDB Jovem foi o espaço que o MDB cedeu para que os adversários do
regime militar pudessem atuar sem maiores perseguições. Marina disse em seu
discurso de sábado, quando assinou a ficha de filiação ao PSB, que a Rede é o "primeiro partido clandestino criado na
democracia". Ela deixou claro que entra no PSB, mas carregando sua
REDE e que dela não abrirá mão.
Marina disse que
recebe do PSB uma "chancela
institucional e moral" para atuar no espectro político partidário.
Eduardo Campos, ao seu lado, estampava um sorriso de orelha a orelha. Claro,
quem não gostaria de ter uma “puxadora” de votos como Marina. Eduardo Campos
conseguiu trazer Marina Silva para o PSB. Coisa que Lula, Dilma e o PT não
tiveram a menor habilidade para fazer. Esse foi um golaço de Campos ou um
grandioso frango de Lula que já disse que Marina no PSB é um soco no fígado.
Mas, esse
cenário é indefinido. Por mais que neguem, o acordo PSB/REDE é para lançar uma
chapa puro sangue com Eduardo candidato a presidente e Marina a vice. O plano é perfeito, mas na política 2 + 2 quase
nunca é igual a quatro. O PSB não deu abrigo a REDE para abrir mão da candidatura de Eduardo a
presidente. A REDE não vai carrear votos para o PSB para se deixar misturar e
perder sua identidade. Essa aliança é puramente eleitoral e circunstancial.
Não é a toa que na
entrevista coletiva de sábado Marina repetiu a exaustão que o PSB está
acolhendo a REDE de forma programática e que ela não deixa de existir. Na
verdade, a REDE está se abrigando, no partido socialista, da intempérie que a
atingiu. A questão é: se a aliança é programática, quem vai engolir o programa
de quem? O PSB vai se tornar um ardoroso defensor da causa ecológica? Ou a REDE
vai fechar os olhos para o pragmatismo eleitoral de Eduardo Campos? Aguardemos
os próximos lances.
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A
CAMPINA FM.
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