segunda-feira, 7 de outubro de 2013

E A REDE SE ABRIGOU NO PSB

 


Estamos a exatos 353 dias das eleições e os fatos se sucedem numa rapidez e em quantidade tal que faço minhas análises sem a pretensão de ter repostas prontas. Em minhas análises duas coisas são essenciais: muita cautela e maciças doses de chocolate. Sabíamos que teríamos surpresas até o último momento do prazo para filiação e mudança partidária. É que partidos e atores políticos negociaram suas recolocações como se estivessem em um leilão, sendo que os políticos seriam as peças a serem leiloadas, literalmente.


Vimos que a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, não logrou êxito ao solicitar seu registro junto ao TSE. Nenhuma surpresa, pois havia forte movimentação em Brasília para impedir que a REDE se tornasse um partido. O governo federal, o PT, a bancada ruralista, para citar alguns, se deram as mãos para inviabilizar o partido que colocaria Marina Silva no jogo. Com ela em segundo lugar nas pesquisas a luz de alerta acendeu no Palácio do Planalto e no Congresso Nacional.


Se sem um partido para chamar de seu, Marina ameaçava, imagina com uma agremiação legalizada e legitimada pela sociedade? Falo em ameaça, porque o discurso e a prática de Marina é algo que atrai pessoas não pelo excesso e sim pela escassez. Marina ficou sem partido e se filiou ao PSB no sábado em um festivo e concorrido ato.  A filiação a outro partido não foi surpresa, pois cerca de oito legendas fizeram convites formais a Marina. Inclusive o Partido Verde, do qual ela já foi filiada.


A surpresa mesmo, o inusitado, foi Marina ter ido para o PSB. Porque é o PSB? Não, porque o PSB já tem Eduardo Campos como candidato a presidente da República. Candidatura irreversível, tanto que o PSB desocupou suas gavetas no governo federal. Como o mesmo partido não pode ter dois postulantes ao mesmo cargo majoritário, meu caro Watson deduz que Marina será vice na chapa com Eduardo Campos, a não ser que o governador de Pernambuco seja tomado pelo espírito de Madre Teresa de Calcutá. Mas, isso não acontecerá, pois na política tudo acontece menos milagres. O fato, é que depois de ver a REDE sendo barrada pelo TSE, Marina tomou um banho de realismo político e entendeu que teria que compor para levar adiante seu projeto eleitoral.

 

Aquele discurso um tanto quanto purista que Marina sabe bem fazer terá que ser reformulado. Pois, na política ser realista é antes de tudo aceitar que para se alcançar fins ideais é preciso traçar meios pragmáticos, objetivos e, no limite, pouco éticos. Ela se filiou ao PSB para poder ser candidata e para ter espaço para divulgar e defender sua agenda ecológica, ética, moral e social. Na verdade, a REDE continua a existir como movimento autônomo e seus membros vão se distribuir pelos partidos.

Alguns, ariscos a política partidária, seguem sem se filiar a uma legenda e defendem que a REDE lance a anticandidatura de Marina, i.e., ela faria campanha, pediria votos, faria promessas e propostas como candidata, mas não poderia ser votada. Mas, muitos atuam na política partidária. O deputado federal Miro Teixeira, liderança da REDE, trocou o PDT pelo PROS. A REDE vai agir tal qual a bancada evangélica. Ao invés de pertencerem a um só partido, os parlamentares de Cristo se espalham pelas agremiações, mas atuam bem próximos.


Marina tomou emprestada das organizações da década de 70 a estratégia de se abrigar num partido legal para atuar. O MDB Jovem foi o espaço que o MDB cedeu para que os adversários do regime militar pudessem atuar sem maiores perseguições. Marina disse em seu discurso de sábado, quando assinou a ficha de filiação ao PSB, que a Rede é o "primeiro partido clandestino criado na democracia". Ela deixou claro que entra no PSB, mas carregando sua REDE e que dela não abrirá mão.


Marina disse que recebe do PSB uma "chancela institucional e moral" para atuar no espectro político partidário. Eduardo Campos, ao seu lado, estampava um sorriso de orelha a orelha. Claro, quem não gostaria de ter uma “puxadora” de votos como Marina. Eduardo Campos conseguiu trazer Marina Silva para o PSB. Coisa que Lula, Dilma e o PT não tiveram a menor habilidade para fazer. Esse foi um golaço de Campos ou um grandioso frango de Lula que já disse que Marina no PSB é um soco no fígado.


Mas, esse cenário é indefinido. Por mais que neguem, o acordo PSB/REDE é para lançar uma chapa puro sangue com Eduardo candidato a presidente e Marina a vice.  O plano é perfeito, mas na política 2 + 2 quase nunca é igual a quatro. O PSB não deu abrigo a REDE para abrir mão da candidatura de Eduardo a presidente. A REDE não vai carrear votos para o PSB para se deixar misturar e perder sua identidade. Essa aliança é puramente eleitoral e circunstancial.


Não é a toa que na entrevista coletiva de sábado Marina repetiu a exaustão que o PSB está acolhendo a REDE de forma programática e que ela não deixa de existir. Na verdade, a REDE está se abrigando, no partido socialista, da intempérie que a atingiu. A questão é: se a aliança é programática, quem vai engolir o programa de quem? O PSB vai se tornar um ardoroso defensor da causa ecológica? Ou a REDE vai fechar os olhos para o pragmatismo eleitoral de Eduardo Campos? Aguardemos os próximos lances.

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