O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, mais conhecido
por sua sigla IPEA, é uma fundação vinculada à Secretaria de Assuntos
Estratégicos da Presidência da República com relevantes serviços prestados a
sociedade e ao Estado brasileiros. As pesquisas do IPEA nos abastecem de dados
em várias áreas do conhecimento e não só na economia. O IPEA dá suporte técnico
e institucional às ações governamentais para a formulação e reformulação de
políticas públicas e programas de desenvolvimento.
No final do mês de
setembro o IPEA publicou um levantamento dando conta que a implantação da Lei
Maria da Penha, em 2006, não causou o impacto que se esperava. A conclusão não
é nada boa e mostra que esta lei tem tido pouca efetividade. O IPEA concluiu
que a Lei Maria da Penha não causou a redução dos casos de mortes de mulheres em
decorrência de relações passionais e de conflitos entre os gêneros. A
explicação para isso é até bem simples de se entender.
É que desde que a
lei foi promulgada, em 2006, que ocorrem em média 5.000 casos de assassinatos
de mulheres por ano no Brasil. Vejamos os dados coletados pela IPEA, não
esquecendo que o fato de termos uma lei como esta já diz muito do que somos. Fôssemos
uma sociedade mais evoluída em termos de hábitos, costumes, valores e cultura
política e não precisaríamos ter uma lei que prevê punições específicas e duras
para coibir a violência doméstica contra a mulher.
O IPEA aferiu que de 2001 a 2011
50 mil mulheres foram assassinadas em todo o Brasil. Isso mesmo! É como se a
metade da população, de uma cidade como Patos, tivesse sido assassinada em um
espaço de 10 anos. Entre 2001 e 2006, período anterior à implantação da Lei
Maria da Penha, a taxa de mortalidade de mulheres brasileiras era de 5.28 por
100 mil habitantes. Isso quer dizer que a cada grupo de 100 mil brasileiros, 5
ou 6 mulheres foram assassinadas.
Já no período que compreende os anos entre 2007 e 2011, este
índice praticamente não se alterou. O IPEA aferiu que a mortalidade de mulheres
foi de 5.22 por 100 mil habitantes. O caro ouvinte me desculpe, mas eu vou
insistir na afirmação. Até a Lei Maria da Penha ser promulgada, em 2006, para
cada grupo de 100 mil brasileiros havia 5 mulheres assassinadas. Hoje, quando a
Lei completa sete anos de existência, para os mesmos 100 mil brasileiros quase
6 mulheres são assassinadas. Por que, com uma lei como essa, os assassinatos
não param ou pelo menos não diminuem? Qual o nosso problema para com a lei?
Porque será que tanto resistimos em respeitar nosso ordenamento jurídico?
Porque essa lei tem baixa efetividade?
Antes, deixe-me explicar o que significa uma lei ter
efetividade. Não basta que a lei seja vigente, ela precisa ser respeitada,
legitimada e cumprida. Uma lei é efetiva quando atestamos que ela é eficaz em
relação aos fins para os quais se estabeleceu. A efetividade se prova quando a
lei se impõe sobre quem quer que seja. Uma norma jurídica será tanto mais
efetiva quanto mais for observada tanto pelos aplicadores do direito quanto
pelos destinatários dessa norma, i.e., o cidadão.
Para a pesquisadora do IPEA, Leila Garcia, a taxa de
assassinatos de mulheres não diminui pela falta de aplicação da Lei Maria da
Penha. Ela afirmou que a “lei em si é
boa, mas não está sendo aplicada com o rigor necessário”. O que acontece é
que na maioria dos casos a mulher é assassinada justamente depois de buscar
abrigo sob o manto protetor da lei. O processo é assim: a mulher se cansa de
ser agredida física, emocional e psicologicamente pelo seu companheiro. Então,
ela vai até uma delegacia da mulher e presta queixa. Quanto seu companheiro é
interpelado pelos representantes da lei se revolta e termina praticando o
assassinato. É que muitos homens continuam vendo suas mulheres como um bem
próprio.
Como a Lei Maria da Penha sofre
solução de continuidade vão surgindo novas leis que se pretendem mais rigorosas
ainda. O projeto de lei 292/2013 propõe a tipificação do crime de FEMINICÍDIO
no Brasil. Feminicídio é a morte da mulher em decorrência de conflito de gênero
cometido por homens, geralmente parceiros. Enfim, é o crime onde a mulher é
assassinada pura e simplesmente por ser mulher. Em geral, o feminicídio se
relaciona ao estupro.
E eu ainda preciso lembrar que esses dados
apresentados pelo IPEA podem não refletir nossa real situação, pois bem sabemos
que faz parte de nossa cultura política a subnotificação dos casos de
homicídios. A senhora Maria da Penha precisou passar por toda sorte de
violências, nas mãos de seu marido, para que essa lei fosse promulgada. Quantas
Marias da Penha ainda terão que ser assassinadas para que finalmente esse
estado de coisas venha a mudar?
Você tem algo a dizer sobre essa COLUNA ou quer sugerir uma pauta? gilbergues@gmail.com
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
Um comentário:
Muito o testo. Bem esclarecedor. Gostaria de receber mais sobre esse assunto. Principalmente sobre a eficiência da lei maria da Penha.
Postar um comentário