sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

2014 NÃO É UM ANO PARA SE TRABALHAR


Os parlamentares do Congresso Nacional retornam, na próxima semana, às atividades em Brasília para um ano legislativo em que trabalharão quase nada, pois além das eleições gerais, ainda vamos ter a Copa da FIFA. Os trabalhos vão se iniciar com uma sessão conjunta entre a Câmara dos Deputados e o Senado Federal e já para apreciar seis vetos presidenciais. Na verdade, existem mais de 30 vetos aguardando para serem analisados no Congresso.

De acordo com a Constituição Federal, seguem para a sanção ou para o veto presidencial os projetos de lei, e os projetos de lei complementar, aprovados na Câmara dos Deputados e no Senado.  Antes de qualquer coisa, os ministérios envolvidos com o tema examinam a constitucionalidade do texto, sua adequação ao interesse público e, claro, se ele não atinge os interesses do próprio governo e de seus aliados.

Feito isso, o projeto de lei vai para presidência da República. Através de um ato, que pode ser isolado, a presidente Dilma decide se ratifica ou se veta, integral ou parcialmente, o projeto. Eis aí toda a força do nosso sistema presidencialista. Se ela sanciona o projeto, encerra-se a discussão. Mas, se o projeto de lei for vetado, retorna para que o Congresso Nacional analise o veto que pode, então, ser derrubado. A esse processo se dá o nome de separação, ou equilíbrio, dos poderes. Apesar de que, temos o presidencialismo de coalização. O governo federal dispõe de mecanismos dos mais eficientes para impedir que seus vetos sejam derrubados.  Com tantos ministérios, e com tantos aliados, os vetos tendem a sobreviver.

 
É preciso não esquecer que, desde dezembro, os vetos são apreciados através do voto aberto. Este foi um pequeno avanço no sentido de termos mecanismos de controle mais eficientes sobre as atividades de nossos representantes. Na análise do primeiro veto o governo já deve ter a sua primeira derrota. Ao que tudo indica, o Congresso vai derrubar o veto integral da presidente Dilma sobre o projeto de Lei que regulamenta a criação de municípios, proibida por uma PEC desde 1996.

Na mensagem do governo ao Congresso, que será lida na abertura dos trabalhos dessa primeira sessão, a presidente Dilma afirma que a criação de novos municípios contraria o interesse público por demandar considerável aumenta de despesas. Mas, os deputados e senadores não devem considerar isso, pois a criação de novos municípios, em um ano eleitoral, tem alto efeito apelativo sobre os eleitores. Muitos parlamentares, candidatos à reeleição, vão querer usar esse projeto em suas campanhas.

Nos outros vetos a serem apreciados tem de tudo. O governo vetou vários aspectos da Lei de Diretrizes Orçamentárias e da chamada minirreforma eleitoral. O problema é que é a conjuntura eleitoral que vai orientar a análise dos parlamentares. Consta, também, da agenda do Congresso neste ano, a apreciação do Projeto de Lei 6.244/13, de autoria do governo federal, que propõe criar nada mais nada menos do que 8.843 cargos em diversos órgãos da administração federal. O Ministério do Planejamento diz que essa montanha de novos cargos não causará impacto imediato sob o orçamento da União, pois só se criará a despesa com a realização de concursos públicos em 2015.

Mas, um dia vai haver impacto financeiro, sim, e o governo estima que ele será da ordem de R$ 958 milhões. Esse projeto de lei será festivamente aprovado, pois todo o espectro político brasileiro, inclusive a oposição, ganha com a criação de cargos. Afinal, sempre se pode dar um jeitinho para colocar o protegido desse ou daquele aliado num desses cargos do 2º ou do 3º escalões. Novos cargos servem para o governo acalmar os ânimos daqueles parlamentares mais rebeldes, mais questionadores. Servem, também, para mover um parlamentar da bancada oposicionista em direção à bancada situacionista.

A Agência de Notícias da Câmara anunciou que os deputados devem votar, em abril, a PEC 352/13 que trata da Reforma Política. Essa PEC trata do financiamento de campanhas, da eleição de deputado por região (o sistema distrital), da coincidência de eleições, do voto facultativo, da clausula de barreira, etc, etc, etc. Um funcionário desatento da Agência Câmara deve ter colocado a PEC da Reforma no release a ser distribuído para os órgãos de comunicação, pois se o Congresso não tratou da reforma política num ano sem eleição, como 2013, imagine se vai se dar ao trabalho de faze-lo neste ano com eleições gerais e Copa da FIFA?

O Congresso ainda tem que promover alterações na legislação contábil e tributária. Mas, esqueçamos disso, também. Se ninguém quer reformar a política, o que dirá do sistema que mantém a máquina governamental funcionando em pleno ano eleitoral?

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