segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

“AFINAL, PORQUE SOMOS TÃO VIOLENTOS?”


Em Hamlet, tragédia do dramaturgo William Shakespeare, um príncipe tenta vingar a morte de seu pai. A peça trata de vingança, corrupção, violência e moralidade. Num certo momento, Hamlet diz a famosa frase: “Há algo de podre no reino da Dinamarca”. Shakespeare escreveu Hamlet entre 1599 e 1601, mas ele trata de coisas que vivenciamos em nossa realidade. Eu não diria que tem algo de podre no reino da Paraíba, mas existem coisas que não se explicam ou que soam de forma estranha.

Na semana passada, ficamos sabendo que Campina Grande e João Pessoa estam entre as 50 cidades mais violentas do mundo. Em dezembro o Ministério da Justiça revelou que a Polícia Militar da Paraíba é a mais bem avaliada de todo o Brasil. Se a nossa polícia é tão boa, tão bem avaliada pelos paraibanos, porque as duas principais cidades da Paraíba estam frequentando esse ranking nada honroso? Se Hamlet visitasse a Paraíba diria que há algo de podre nesse pequeno reino.

Vamos entender a questão. A ONG mexicana Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal divulgou pesquisa com as 50 cidades mais violentas do mundo em 2013. Na lista só aparecem cidades com mais de 300 mil habitantes. Dessas 50 cidades, 16 são brasileiras e 09 são do Nordeste. A única capital nordestina não relacionada foi Teresina e Campina Grande é a única cidade do interior do Nordeste a figurar neste rol. Vejam que somos grandes até quando o assunto é violência. Como a função principal do POLITICANDO é analisar os fatos de nossa realidade e para não incorrer no erro do governo, que contestou os dados da pesquisa da ONG mexicana sem nem bem conhece-los de perto, eu fui ao site da ONG e busquei outras informações.

Eu vi, por exemplo, que a ONG Conselho do Cidadão descobriu que sociedades que não fazem restrições, para que seus cidadãos adquiram armas, não são as mais violentas do mundo. O melhor exemplo vem dos Estados Unidos da América. A ONG afirma que são os países, como o Brasil, que desenvolvem políticas de restrição às armas de fogo, que apresentam os maiores índices de violência. Por favor, não se surpreenda com esse dado, pois ele explica muito de nossa realidade. Sociedades democráticas são menos falso moralistas do que sociedades, como a nossa, que fingem que controlam o uso e venda de armas de fogo. Nos EUA é mais fácil saber a origem de armas usadas em crimes, pois existe um real controle sobre a venda delas.

A questão é que nos EUA é bem mais fácil comprar uma arma num estabelecimento comercial do que no submundo criminoso. No Brasil, a burocracia para se comprar uma arma é monstruosa, daí as pessoas preferirem o mercado ilegal para adquirir armas. Em Campina Grande, por exemplo, onde é mais fácil comprar uma arma? Num loja especializada, que emite nota fiscal da compra de um revolver, ou na Feira da Prata, onde se pode comprar vários tipos de armas sem nenhum tipo de burocracia?

 

A ONG Conselho do Cidadão afirma que o desarmamento não detém os delinquentes, pois eles podem adquirir armas pela via ilegal. A ONG diz aquilo que já sabemos: as proibições só desarmam os inocentes, deixando-os mais vulneráveis aos criminosos. Assim, o Brasil aparece em 13º na pesquisa da ONG mexicana, com uma taxa de quase 30 homicídios por 100 mil habitantes. E que não se diga que os mexicanos estam nos perseguindo, pois o México aparece em 9º lugar na mesma pesquisa.

No ranking das 50 cidades mais violentas do mundo, Recife está em 30º lugar e Maceió no 6º lugar. A capital alagoana teve 86 assassinatos por 100 mil habitantes em 2013. João Pessoa ficou em 10º com seus mais de 515 homicídios em 2013. Ela é seguida por Manaus, Fortaleza, Salvador, Vitória, São Luís, Belém e por aí vai. Essa informação põe por terra a ideia de que uma cidade precisa ser grande, e com mais de um milhão de habitantes, para poder ser violenta. Campina Grande fez por merecer o título de 9º cidade mais violenta do Brasil por causa dos 184 homicídios do ano passado. O fato é que, em Campina Grande, temos em grande quantidade as maiores causas para a violência.

A ONG mexicana apontou como causas para o crescimento da violência o tráfico de drogas, a atuação de grupos de criminosos e a impunidade. A solução para a violência consistiria em duas ações. Uma, seria o combate à impunidade. E a Outra seria a ação policial para se prevenir crimes. A questão não é se nossa polícia combate ou não o crime. A questão é a forma como ela combate. As estratégias parecem equivocadas, do contrário não estaríamos nessa posição.

O crime organizado se instalou em nossa cidade porque encontrou pouca resistência. Os criminosos procuram sempre as facilidades, eles não gostam de dificuldades. Definitivamente a melhor estratégia para se combater a crescente criminalidade não é tentar desacreditar pesquisas sérias e bem feitas como a da ONG mexicana.

Você tem algo a dizer sobre essa COLUNA ou quer sugerir uma pauta? gilbergues@gmail.com

AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

Nenhum comentário: