quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

PARA QUE SOBERANIA, SE TEMOS A COPA DA FIFA?

 
A presidente Dilma foi à Suíça discursar no Fórum Econômico Mundial, de Davos, e visitar a sede da FIFA em Zurique. Depois, ela foi descansar em Lisboa e seguiu viagem para Cuba, onde inaugurou um porto, financiado com recurso do BNDES. A mídia nativa e a oposição não falam em outra coisa. Preocupam-se com a estadia de Dilma em Lisboa, e de quem pagou a conta, e arrancam os cabelos porque ela foi render homenagens a ditadores anacrônicos, como os irmãos Castro.

É estranho que não se queira comentar o fato da presidente ter ido se encontrar com o todo poderoso Joseph Blatter, um tipo de ditador bem mais perigoso do que o decrépito Fidel Castro. O encontro de Dilma com o Sr. Blatter foi o fato mais grave dessa viagem. Enquanto conservadores e reacionários querem saber o que tinha no hotel onde Dilma se hospedou em Lisboa, Blatter, uma espécie de Ricardo Teixeira piorado, cuspia em nossa soberania, enquanto a presidente fazia cara de paisagem para os fotógrafos.

O Sr. Blatter não é chefe de Estado, mas mesmo assim se sentiu no direito de interpelar a chefe do Estado brasileiro. Mas, isso não é tão grave, ainda. Doloroso, penoso, foi a presidente Dilma te permitido que o Sr. Blatter a emparedasse daquela forma. Oficialmente, se divulgou que aquilo era uma visita de cortesia. Um comunicado dizia que é praxe o presidente do país sede da Copa da FIFA ir a Zurique. Pode até ser, mas é hábito da FIFA tratar um chefe de Estado como um subalterno qualquer? O Sr. Blatter queria saber da presidente como andam as obras para a Copa. Ele questionou sobre os atrasos e acidentes que vem ocorrendo nas suntuosas arenas que estamos construindo. Claro, Dilma não soube responder. Aliás, alguém saberia?

Mas, o que o Sr. Blatter queria mesmo saber era sobre a questão da segurança. Não que ele esteja preocupado com a nossa segurança pública. Na verdade, a FIFA esta ansiosa quanto às condições de segurança que o Brasil pode vir a oferecer a seus visitantes. Se me fosse dado o direito de interpelar o Sr. Blatter eu diria a ele para entrar na fila. Pois, além dele, existem 198 milhões de brasileiros preocupados com todo esse estado de coisas e com essa violência que fragiliza nosso Estado de direito. O Sr. Blatter foi incisivo, mordaz e objetivo. Ele cobrou da presidente Dilma garantias de que as manifestações não vão interromper a Copa da FIFA e que nenhuma das partidas do torneio será adiada ou mesmo realocada.

Num dos comunicados da FIFA se afirma, com todas as letras, que não será tolerado qualquer tipo de interferência nos eventos da Copa e nas partidas entre as seleções nacionais, devido a questões internas do país sede. A FIFA impõe a nós que paremos nosso processo político e social enquanto a Copa do Mundo estiver acontecendo. Terminado o evento, com as seleções tendo ido embora, aí poderemos até nos matar em praça pública que a FIFA estará pouco se lixando. Mas, não para por aí. O Sr. Blatter está preocupado com as eleições presidenciais aqui no Brasil. Porque ele está preocupado com as fragilidades de nosso sistema democrático? Claro que não. A questão é se a eleição vier a atrapalhar a Copa da FIFA. Se pudesse, diria ao Sr. Blatter que o que me preocupa é se a Copa da FIFA vai atrapalhar as eleições de outubro. Talvez ele não saiba que nossa elite política costuma fazer com o futebol o mesmo que faz com a indústria da seca. Joseph Blatter teve a audácia de perguntar a presidente Dilma se ela vai mesmo comparecer as solenidades de abertura e encerramento da Copa da FIFA. Se houvesse em Dilma algum resquício da guerrilheira de outrora, ela poderia ter pergunta o que é que a FIFA tem haver com isso.

 

 O problema é que depois das vaias que Dilma levou, na Copa das Confederações, a FIFA receia que a presidente não queira mais se expor. É que passou pela cabeça dos homens de Zurique que Dilma esteja mais preocupada com sua reeleição do que com a Copa. De fato é isso mesmo. Mas, a elite política brasileira não está perdendo nenhuma oportunidade de se beneficiar com a realização da Copa da FIFA em nosso país. Dilma irá, sim, a abertura da Copa e se a seleção brasileira for a final, lá ela estará.

O Sr. Blatter teve a petulância de interpelar a presidente para deixar claro que é o Estado brasileiro o único que pode colocar ordem na casa, depois dos protestos na Copa das Confederações, dos que vem acontecendo e dos que ainda vão ocorrer. Para Blatter nada pode atrapalhar a audiência e o lucro dos patrocinadores. A FIFA quer que os canais de televisão, que pagam para transmitir imagens da Copa, mostrem jogos de futebol. Pode mostrar, também, as nossas belezas naturais. Mas, nada de ficar mostrando manifestações e outras questões sociais. O que ele quis dizer foi que a FIFA não quer saber o que o governo vai fazer. Ela não está preocupada se vai ser preciso colocar o Exército na rua e até decretar estado de sítio. O que a FIFA quer é que a Copa ocorra bem e que os lucros não sejam atingidos. Blatter propôs que as Arenas sejam blindadas, apenas não disse com o que. O que ele quer é ver a bola rolando nos horários e dias determinados. Para isso ocorrer vale tudo, até emparedar a presidente da República e cuspir em nossa soberania.

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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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