A presidente Dilma
foi à Suíça discursar no Fórum Econômico Mundial, de Davos, e visitar a sede da
FIFA em Zurique. Depois, ela foi descansar em Lisboa e seguiu viagem para Cuba,
onde inaugurou um porto, financiado com recurso do BNDES. A mídia nativa e a
oposição não falam em outra coisa. Preocupam-se com a estadia de Dilma em Lisboa,
e de quem pagou a conta, e arrancam os cabelos porque ela foi render homenagens
a ditadores anacrônicos, como os irmãos Castro.
É estranho que não
se queira comentar o fato da presidente ter ido se encontrar com o todo
poderoso Joseph Blatter, um tipo de ditador bem mais perigoso do que o
decrépito Fidel Castro. O encontro de Dilma com o Sr. Blatter foi o fato mais
grave dessa viagem. Enquanto conservadores e reacionários querem saber o que
tinha no hotel onde Dilma se hospedou em Lisboa, Blatter, uma espécie de Ricardo
Teixeira piorado, cuspia em nossa soberania, enquanto a presidente fazia cara
de paisagem para os fotógrafos.
O Sr. Blatter não é chefe de Estado, mas mesmo assim se sentiu no
direito de interpelar a chefe do Estado brasileiro. Mas, isso não é tão grave,
ainda. Doloroso, penoso, foi a presidente Dilma te permitido que o Sr. Blatter
a emparedasse daquela forma. Oficialmente, se divulgou que aquilo era uma visita
de cortesia. Um comunicado dizia que é praxe o presidente do país sede da Copa
da FIFA ir a Zurique. Pode até ser, mas é hábito da FIFA tratar um chefe de
Estado como um subalterno qualquer? O Sr. Blatter queria saber da presidente como
andam as obras para a Copa. Ele questionou sobre os atrasos e acidentes que vem
ocorrendo nas suntuosas arenas que estamos construindo. Claro, Dilma não soube
responder. Aliás, alguém saberia?
Mas, o que o Sr. Blatter queria mesmo saber era sobre a questão da
segurança. Não que ele esteja preocupado com a nossa segurança pública. Na
verdade, a FIFA esta ansiosa quanto às condições de segurança que o Brasil pode
vir a oferecer a seus visitantes. Se me fosse dado o direito de interpelar o
Sr. Blatter eu diria a ele para entrar na fila. Pois, além dele, existem 198
milhões de brasileiros preocupados com todo esse estado de coisas e com essa
violência que fragiliza nosso Estado de direito. O Sr. Blatter foi incisivo,
mordaz e objetivo. Ele cobrou da presidente Dilma garantias de que as
manifestações não vão interromper a Copa da FIFA e que nenhuma das partidas do
torneio será adiada ou mesmo realocada.
Num dos comunicados da FIFA se afirma, com todas as letras, que não
será tolerado qualquer tipo de interferência nos eventos da Copa e nas partidas
entre as seleções nacionais, devido a questões internas do país sede. A FIFA impõe
a nós que paremos nosso processo político e social enquanto a Copa do Mundo
estiver acontecendo. Terminado o evento, com as seleções tendo ido embora, aí
poderemos até nos matar em praça pública que a FIFA estará pouco se lixando. Mas,
não para por aí. O Sr. Blatter está preocupado com as eleições presidenciais
aqui no Brasil. Porque ele está preocupado com as fragilidades de nosso sistema
democrático? Claro que não. A questão é se a eleição vier a atrapalhar a Copa
da FIFA. Se pudesse, diria ao
Sr. Blatter que o que me preocupa é se a Copa da FIFA vai atrapalhar as
eleições de outubro. Talvez ele não saiba que nossa elite política costuma
fazer com o futebol o mesmo que faz com a indústria da seca. Joseph Blatter
teve a audácia de perguntar a presidente Dilma se ela vai mesmo comparecer as
solenidades de abertura e encerramento da Copa da FIFA. Se houvesse em Dilma algum
resquício da guerrilheira de outrora, ela poderia ter pergunta o que é que a
FIFA tem haver com isso.
O problema é que
depois das vaias que Dilma levou, na Copa das Confederações, a FIFA receia que
a presidente não queira mais se expor. É que passou pela cabeça dos homens de
Zurique que Dilma esteja mais preocupada com sua reeleição do que com a Copa. De
fato é isso mesmo. Mas, a elite política brasileira não está perdendo nenhuma
oportunidade de se beneficiar com a realização da Copa da FIFA em nosso país.
Dilma irá, sim, a abertura da Copa e se a seleção brasileira for a final, lá
ela estará.
O Sr. Blatter teve a
petulância de interpelar a presidente para deixar claro que é o Estado
brasileiro o único que pode colocar ordem na casa, depois dos protestos na Copa
das Confederações, dos que vem acontecendo e dos que ainda vão ocorrer. Para
Blatter nada pode atrapalhar a audiência e o lucro dos patrocinadores. A FIFA
quer que os canais de televisão, que pagam para transmitir imagens da Copa,
mostrem jogos de futebol. Pode mostrar, também, as nossas belezas naturais.
Mas, nada de ficar mostrando manifestações e outras questões sociais. O que ele quis dizer
foi que a FIFA não quer saber o que o governo vai fazer. Ela não está
preocupada se vai ser preciso colocar o Exército na rua e até decretar estado
de sítio. O que a FIFA quer é que a Copa ocorra bem e que os lucros não sejam
atingidos. Blatter propôs que as Arenas sejam blindadas, apenas não disse com o
que. O que ele quer é ver a bola rolando nos horários e dias determinados. Para
isso ocorrer vale tudo, até emparedar a presidente da República e cuspir em
nossa soberania.
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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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