terça-feira, 28 de janeiro de 2014

COM QUANTAS ORDENS DE FAZ UM ACORDO


Entre as décadas de 60 e 80 era muito comum, no meio da esquerda brasileira, o uso da expressão “baixar o santo”.  Foi por meio desse eufemismo que a esquerda definiu o que seria o processo de tomada de decisão pela via não democrática. “Baixar o santo” era uma forma mais suave, mais agradável e até engraçada, que a esquerda, que por sinal originou o PT, tinha para se referir a imposição autoritária de uma ideia ou de uma política a ser seguida. Os que queriam mudar o sistema econômico, social e politico do Brasil, pela via revolucionária, evitavam coisas como “a direção decidiu que o caminho é este”. Também, não se dizia que a “direção decidiu, ponto final, não tem mais discussão”.

Essas expressões autoritárias eram substituídas por “baixar o santo”. Quando se dizia que “baixaram o santo na reunião”, estava-se afirmando que uma decisão tinha sido tomada, pela maioria ou não (isso nunca importou) e que nada mais poderia ser feito. Na verdade, a expressão correta para isso era “centralismo democrático”. Outro eufemismo fartamente utilizado pelos comunistas para aliar em um mesmo espaço a discussão (supostamente democrática) com a imposição de ideias e práticas. Se não fosse possível encontrar o consenso através da discussão, ele se instalaria através da imposição. O que importava mesmo era a unidade. O que interessava era que todos pensassem e agissem em comum, não importando por quais meios.

Na semana passada, o presidente do Diretório Nacional do PT, Rui Falcão, veio à heroica Paraíba para “baixar o santo”. É que o PT paraibano só toma uma decisão depois que lhe é injetado na veia uma concentrada dose de centralismo democrático. Estando no poder a tanto tempo e tendo deixado de ser um partido socialista, se é que algum dia foi, o PT conserva características que herdou da esquerda que o originou no final da ditadura militar. Uma delas é a forma centralizadora e autoritária de decidir.

Rui Falcão veio à Paraíba para avisar aos navegantes que não ousem contrariar os interesses nacionais do PT. Rui Falcão foi o portador da mensagem que Dilma e Lula têm enviado para os diretórios estaduais e municipais do PT. O problema é que existem dois Partidos dos Trabalhadores em nosso Estado. Um é situacionista, se recusa a abandonar os postos conquistados junto ao governo de Ricardo Coutinho. O chefe desse PT governamental é o deputado federal Luiz Couto. Esse PT não interessa ao PT de Lula e Dilma, pois ele se alia ao PSB de Ricardo Coutinho e Eduardo Campos e ao PSDB de Cassio Cunha Lima e Aécio Neves. Mas, temos o PT oposicionista que quer lançar candidatura própria ao governo do Estado.

Rui Falcão se abalou de Brasília até aqui para dizer que esse PT pode ser o que quiser desde que não atrapalhe a campanha pela reeleição de Dilma Rousseff na Paraíba. Ele trouxe a mensagem de que pode tudo menos não ter palanque para Dilma na Paraíba. Rui Falcão disse que pode ter até dois palanques para Dilma. Um comandado pelo PT oposição, junto com o PSC de Leonardo Gadelha e o PP de Aguinaldo Ribeiro. Seria o palanque do Blocão.  O outro seria do PMDB e de quem mais quiser a ele se juntar.


Inclusive, o PMDB não tem criado dificuldades para apoiar Dilma em suas passagens pela Paraíba. Aliás, quem cria problemas para Dilma na Paraíba é o próprio PT. Confuso esse partido, não é mesmo? Mas, Rui Falcão deixou uma mensagem subliminar para quem interessar possa. Ele disse que a direção nacional do PT não deu aval para a candidatura da advogada Nadja Palitot e que esse lançamento foi local, de iniciativa de um grupo do PT da capital. Conhecendo bem o PT, eu diria que essa é a deixa para que, daqui a uns três meses, Rui Falcão retorne a João Pessoa para dizer que o Diretório Nacional não reconhece uma candidatura própria e que o PT tem que compor com aliados nacionais, leia-se PMDB.

Rui Falcão não perdeu a viagem, pois ele conseguiu fazer o sindicalista Marcos Henriques desistir de sua pré-candidatura. Tão rapidamente como surgiu, ela desapareceu. Falcão deve ter baixado o santo da democracia petista sobre o sindicalista. Nadja Palitot disse que o PT vai caminhar unido, com apenas uma candidatura. Ledo engando da pré-candidata, pois se tem algo que inexiste no PT é união. É por isso que ele ainda se utiliza de expedientes como o tal centralismo democrático.

Indicativo de que rumo tomará o PT da Paraíba foi o encontro de Rui Falcão com a cúpula do PMDB. Antes mesmo de encontrar seus companheiros, Rui Falcão foi ter com o senador Vital Filho, com seu irmão Veneziano Vital e o deputado Manoel Jr. Eles saíram do encontro sorridentes, como se tivessem tomado uma grande decisão. Após esse encontro, Rui Falcão foi se encontrar com os petistas paraibanos para dizer a eles que já tinham “baixado o santo”, que estava tudo combinado e que, democraticamente, a cúpula decidiu o que a base deve fazer.

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