Entre as décadas de
60 e 80 era muito comum, no meio da esquerda brasileira, o uso da expressão “baixar o santo”. Foi por meio desse eufemismo que a esquerda
definiu o que seria o processo de tomada de decisão pela via não democrática. “Baixar o santo” era uma forma mais
suave, mais agradável e até engraçada, que a esquerda, que por sinal originou o
PT, tinha para se referir a imposição autoritária de uma ideia ou de uma
política a ser seguida. Os que queriam mudar o sistema econômico, social e politico
do Brasil, pela via revolucionária, evitavam coisas como “a direção decidiu que o caminho é este”. Também, não se dizia que
a “direção decidiu, ponto final, não tem
mais discussão”.
Essas expressões autoritárias eram substituídas por “baixar o santo”. Quando se dizia que “baixaram o santo na reunião”, estava-se
afirmando que uma decisão tinha sido tomada, pela maioria ou não (isso nunca
importou) e que nada mais poderia ser feito. Na verdade, a expressão correta
para isso era “centralismo democrático”.
Outro eufemismo fartamente utilizado pelos comunistas para aliar em um mesmo
espaço a discussão (supostamente democrática) com a imposição de ideias e
práticas. Se não fosse possível encontrar o consenso através da discussão, ele
se instalaria através da imposição. O que importava mesmo era a unidade. O que
interessava era que todos pensassem e agissem em comum, não importando por
quais meios.
Na semana passada, o presidente do Diretório Nacional do PT, Rui
Falcão, veio à heroica Paraíba para “baixar
o santo”. É que o PT paraibano só toma uma decisão depois que lhe é
injetado na veia uma concentrada dose de centralismo democrático. Estando no
poder a tanto tempo e tendo deixado de ser um partido socialista, se é que
algum dia foi, o PT conserva características que herdou da esquerda que o
originou no final da ditadura militar. Uma delas é a forma centralizadora e
autoritária de decidir.
Rui Falcão veio à Paraíba para avisar aos navegantes que não ousem
contrariar os interesses nacionais do PT. Rui Falcão foi o portador da mensagem
que Dilma e Lula têm enviado para os diretórios estaduais e municipais do PT. O
problema é que existem dois Partidos dos Trabalhadores em nosso Estado. Um é
situacionista, se recusa a abandonar os postos conquistados junto ao governo de
Ricardo Coutinho. O chefe desse PT governamental é o deputado federal Luiz
Couto. Esse PT não interessa ao PT de Lula e Dilma, pois ele se alia ao PSB de Ricardo
Coutinho e Eduardo Campos e ao PSDB de Cassio Cunha Lima e Aécio Neves. Mas,
temos o PT oposicionista que quer lançar candidatura própria ao governo do
Estado.
Rui Falcão se abalou
de Brasília até aqui para dizer que esse PT pode ser o que quiser desde que não
atrapalhe a campanha pela reeleição de Dilma Rousseff na Paraíba. Ele trouxe a
mensagem de que pode tudo menos não ter palanque para Dilma na Paraíba. Rui
Falcão disse que pode ter até dois palanques para Dilma. Um comandado pelo PT
oposição, junto com o PSC de Leonardo Gadelha e o PP de Aguinaldo Ribeiro.
Seria o palanque do Blocão. O outro
seria do PMDB e de quem mais quiser a ele se juntar.
Inclusive, o PMDB
não tem criado dificuldades para apoiar Dilma em suas passagens pela Paraíba.
Aliás, quem cria problemas para Dilma na Paraíba é o próprio PT. Confuso esse
partido, não é mesmo? Mas, Rui Falcão deixou uma mensagem subliminar para quem interessar
possa. Ele disse que a direção nacional do PT não deu aval para a candidatura
da advogada Nadja Palitot e que esse lançamento foi local, de iniciativa de um
grupo do PT da capital. Conhecendo bem o PT, eu diria que essa é a deixa para
que, daqui a uns três meses, Rui Falcão retorne a João Pessoa para dizer que o
Diretório Nacional não reconhece uma candidatura própria e que o PT tem que
compor com aliados nacionais, leia-se PMDB.
Rui Falcão não
perdeu a viagem, pois ele conseguiu fazer o sindicalista Marcos Henriques
desistir de sua pré-candidatura. Tão rapidamente como surgiu, ela desapareceu.
Falcão deve ter baixado o santo da democracia petista sobre o sindicalista. Nadja
Palitot disse que o PT vai caminhar unido, com apenas uma candidatura. Ledo
engando da pré-candidata, pois se tem algo que inexiste no PT é união. É por
isso que ele ainda se utiliza de expedientes como o tal centralismo
democrático.
Indicativo de que
rumo tomará o PT da Paraíba foi o encontro de Rui Falcão com a cúpula do PMDB.
Antes mesmo de encontrar seus companheiros, Rui Falcão foi ter com o senador
Vital Filho, com seu irmão Veneziano Vital e o deputado Manoel Jr. Eles saíram
do encontro sorridentes, como se tivessem tomado uma grande decisão. Após esse
encontro, Rui Falcão foi se encontrar com os petistas paraibanos para dizer a
eles que já tinham “baixado o santo”,
que estava tudo combinado e que, democraticamente, a cúpula decidiu o que a
base deve fazer.
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário