Nos tempos em que vivíamos assolados pelo espiral inflacionário, um
amigo contava o diálogo entre dois brasileiros: um otimista e o outro
pessimista. Ele dizia que o otimista afirmava que a situação era tão
desesperadoramente ruim que ainda iríamos comer lixo. Vejam bem, era o otimista
quem dizia isso. O pessimista, para não ficar atrás em termos de negativismo,
retrucava que o pior de tudo é que o lixo não ia dar para todos os brasileiros.
Alguns, não teriam sequer lixo para comer.
Esse diálogo, claro,
não aconteceu de verdade. Apesar de que passamos décadas tendo motivos de sobra
para encarar nossa realidade econômica e social da forma mais pessimista
possível. Hoje, podemos nos dar o luxo de sermos ao menos realistas. Apesar de
que, o brasileiro é um otimista por definição. Mesmo tendo sido formados sob o
tacão da escravidão e do colonialismo, desenvolvemos, como estratégia de
sobrevivência, esse jeito bem humorado de enxergar nossa realidade. Já passamos
por épocas tão ruins que não nos restou outra alternativa a não ser sermos
otimistas em relação ao futuro. Nosso passado e presente foram tão deficitários
que perdemos o direito de sermos pessimistas em relação ao futuro.
Eu sempre vejo essas
pesquisas, que aferem o otimismo e o senso de humor do brasileiro, de forma
reservada. Até relutei em analisar a pesquisa, que o IBOPE fez, dando conta que
57% dos brasileiros acreditam que 2014 será melhor do que 2013. É lógico que eu
não vou esperar que este ano seja pior do que ano passado. Pelo contrário,
temos mais é que torcer para que as coisas e a vida melhorem. Eu acredito que
deve ser a isto que chamamos de otimismo. Inclusive, não acho que devemos ser
nem otimistas e muito menos pessimistas. É que num e noutro caso estamos
maximizando um estado de coisas. Na verdade, o otimista e o pessimista se
parecem por exagerarem em seus desejos e vontades.
Ao analista não cabe ser
nem uma coisa e nem outra. Eu sou um realista por definição. Entendo a política,
o sistema e o Estado em que vivemos e o funcionamento de nossas instituições de
uma forma realista. Eles são o que são graças a nossa cultura política. É claro
que a pesquisa do IBOPE reflete as impressões que as pessoas tem em relação a
economia. É por isso que apenas 35% dos norte-americanos acreditam mais em 2014
do que em 2013. Do ponto de vista econômico, a vida nos EUA não tem sido fácil.
Não que a nossa vida seja bem melhor. É que já fomos tão sofridas em termos de
crescimento e desenvolvimento econômico que qualquer melhora nos faz sorrir.
Com esses pífios resultados na econômica, deveríamos ser bem mais realistas
para 2014.
Eu mostrei, num POLITICANDO da semana passada, que a revista
inglesa “O Economista” traçou um perfil nebuloso para a economia de países,
tidos como em desenvolvimento, a exemplo do Brasil. A revista deu conta de um
cenário econômico com crescimento anêmico, trouxe que a criação de empregos
está esfriando e que a inflação está subindo.
E nem precisaria ler a matéria, basta ir à feira para ver que os preços
estam sempre em alta. Mas, o que vamos fazer com esse nosso otimismo
incorrigível?
Talvez a presidente Dilma
deva se preocupar com o fato de que o otimismo dos brasileiros tenha caído 17
pontos percentuais justamente no ano em que ele tentará se reeleger. Talvez os
marqueteiros de Dilma devessem olhar as taxas dos outros anos. Em 2011, 72% dos
brasileiros eram otimistas. Em 2010, eram 74%, e em 209 eram 73%. Essa taxa de
57% de otimistas deveria ser algo para se preocupar? Não, diriam os
marqueteiros, pois daqui a pouco vamos ter a Copa da FIFA e vamos ter o mundo
colorido do guia eleitoral, no radio e na TV, onde não vai haver espaço para
pessimistas e realistas, só para otimistas, e de preferência daqueles cegos e
surdos.
Interessa ver que nós, nordestinos, somos os mais otimistas pela
pesquisa do IBOPE. No Norte e no Centro-Oeste 65% dos brasileiros são
otimistas. No Sudeste são 47% e no Sul são 43%. Aqui, 72% de nós acreditamos
que 2014 será muito melhor do que 2013. Como? De que forma teremos um 2014
melhor se continuamos ameaçados pela violência gritante, se seguimos inseguros
do ponto de vista hídrico e se, na política, só teremos mais do mesmo como
opção eleitoral?
A pesquisa do IBOPE foi
parte de levantamento feito pela Rede WIN que afere taxas de otimismo em 65
países. O Brasil ficou em 7º lugar no ranking dos países mais otimistas. A
Índia e a China aparecem em 5º e 6º lugares respectivamente. Já Dinamarca,
Suíça e Japão aparecem nos últimos lugares como países menos otimistas. Essas
são as nações rebeldes sem causa. Mesmo ricas, não otimizam suas
possibilidades. Nós, ao contrário, rimos a toa, felizes da vida, só não se sabe
bem por que.
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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