sexta-feira, 28 de março de 2014

AFINAL, O QUE QUEREMOS COM MAIS UMA ELEIÇÃO?




Ontem eu falava da entrevista que a presidente do IBOPE Inteligência, Marcia Cavallari, concedeu ao jornal espanhol “El País”. A entrevista é um soco no estômago do brasileiro que só pensa na Copa do Mundo e em vender seu voto em outubro. É certo que o jornal “El País”, como de resto a imprensa europeia, tem se dedicado a martelar nossas mazelas e esse jeito desorganizado, descompromissado, que temos de encarar a vida e a nossa própria organização social e política. Mas, Marcia Cavallari é brasileira e pode, então, falar mal de nós mesmos. Sem contar que sendo estatística, cientista política e especialista em Pesquisas de Opinião ela pode, sim, opinar sobre muita coisa. Cavallari confirmou que há um desejo de mudança.

O problema é que não existe quem possa encarnar esse sentimento. A elite política brasileira se mostra incapaz, pelo histórico descompromisso que tem para com as questões sociais, de apresentar alguém com este perfil. Já das camadas populares não deve aparecer alguém que represente o sentimento de mudança, pois, também historicamente, nosso povo não foi suficientemente preparado, eu falo de educação, para coisas como a mudança. Cavallari disse que, nas pesquisas do IBOPE, não se percebeu um nome se apropriando do sentimento de mudança, por isso Dilma segue levando vantagens. Por falta de opção melhor, o eleitorado deve terminar se conformando com o que já tem.

O mais interessante da entrevista de Cavallari é quando ela coloca o dedo em nossas feridas. Ela afirma que, graças a uma série de pesquisas, deu para perceber que “o brasileiro é bem mais cúmplice do que vítima da corrupção”. E ela tem razão, pois os corruptos contumazes, da lavra de um Paulo Maluf, continuam sendo eleitos pelo povo. Das pesquisas IBOPE se extrai a contradição de que, mesmo contrárias à corrupção, as pessoas seguem elegendo corruptos. Isso é bem verdade na medida em que as manifestações da metade do ano passado para cá eram, também, contra a corrupção e contra os políticos. Mas, qual a certeza que temos que políticos corruptos serão barrados pelas urnas em outubro?

Certo, somos contra a corrupção. Mas, continuamos a praticar o jeitinho brasileiro, nossa instituição informal maior. Queremos o fim da corrupção, mas não abandonamos nosso jeito transgressor de ser quando o assunto é maximizar interesses próprios. O fato é que a maioria dos brasileiros é contra a corrupção, mas essa mesma maioria comete atos de corrupção para defender seus interesses, ou de sua família. É a velha história de dar algum dinheiro, ao guarda de trânsito, para se livrar de uma multa. Cavallari afirmou que, em uma das pesquisas do IBOPE, se descobriu algo curioso. Sobre a Copa da FIFA , a maior angustia do brasileiro não é se nossa Seleção será ou não campeã. A maior preocupação é sobre o que vão pensar de nós.

É isso mesmo. O brasileiro está preocupado com sua imagem lá fora. Existe um grande receio sobre a possibilidade de nos sentirmos envergonhados por causa da falta de infraestrutura para receber os visitantes estrangeiros. O brasileiro se preocupa sobre o que vão falar dos desmandos, da desorganização e da ausência dos tais legados sociais. Ou seja, nos preocupamos com o que os outros vão pensar, mas não nos interessa o que nós mesmos achamos disso tudo. Não deixa de ser interessante que, finalmente, tenhamos conseguido colocar alguma prioridade acima desse orgulho estulto de sermos campeões do mundo. Se esta Copa dos horrores servir para que nosso povo fique mais consciente já é alguma coisa.


 


Já os políticos estam bastante preocupados com a Copa da FIFA. É que as obras, e os desmandos de toda sorte, são responsabilidade dos governos federal, estaduais e municipais. Está todo mundo no mesmo barco. A solução seria a seleção ser campeão. Mas, aí já fica mais complicado, pois ainda se vai combinar com os russos, como diria Garrincha. A considerar o que diz o IBOPE, conquistar o 6º título mundial não deverá servir como um poderoso analgésico. Marcia Cavallari afirma que até estamos um pouco mais sensíveis para assuntos coletivos. Mas, a ideia de que o “bandido bom é o bandido morto” ainda prevalece. O IBOPE detectou um amplo apoio aos crescentes atos de linchamento de marginais.

Sintomático é o caso da professora que postou uma foto, numa rede social, de um rapaz de chinelos no aeroporto do Rio de Janeiro. O comentário da professora idiota foi: “De chinelos? Isso aqui é um aeroporto ou uma rodoviária? Cadê o glamour?”. O fato é que não melhoramos em muita coisa. Segundo o IBOPE, continuamos tão racistas, machistas e conservadores quanto a 50 ou 60 anos atrás. Sem contar, que continuamos a favor de toda sorte de desigualdades sociais como sempre estivemos.


Você tem algo a dizer sobre essa COLUNA ou quer sugerir uma pauta? gilbergues@gmail.com
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

Nenhum comentário: