quarta-feira, 26 de março de 2014

O CASO DA REFINARIA: UM NOVO MENSALÃO?


Em fevereiro de 2005, a empresa belga Astra Oil comprou a Refinaria de Pasadena, no Texas, por US$ 42,5 milhões. Uma negociação comum entre duas empresas do ramo petrolífero. Em setembro de 2006, a Petrobras comprou 50% dessa refinaria. Se a refinaria custou US$ 42 milhões, sua metade deveria valer algo em torno de US$ 21 milhões. Digamos que, quase dois anos depois, ela tivesse crescido bastante, mesmo assim sua metade nunca, jamais, poderia valer mais do que ela inteira. Certo? Errado! Pelo menos para o Conselho de Administração da Petrobras a parte pode, sim, valer mais, bem mais, do que o todo.

O fato é que, pela metade da Refinaria de Pasadena, a Petrobrás se dispôs a pagar a bagatela de US$ 360 milhões. Foram US$ 190 milhões pelos papéis da empresa e US$ 170 milhões pelo petróleo existente em Pasadena. A Petrobras pagou US$ 317 milhões a mais pela metade da empresa. Foi um negócio da China. Para o Brasil? Não, para os americanos. Aquilo que deveria custar, no máximo, uns US$ 25 milhões saiu por US$ 360 milhões. É como se o caro ouvinte tivesse pagado uns R$ 800.000 mil por um carro que só valeria R$ 30.000. A questão é porque a Petrobrás pagou tanto por algo que custava tão pouco?

O negócio de compra e venda da Refinaria de Pasadena é tão somente mais uma das tenebrosas transações que nossos governos vivem a se meter. Este é apenas mais um dos milhares de casos em que se superfaturam preços para desviar dinheiro público. Mesmo depois de tudo que já aconteceu, eu falo, por exemplo, do caso do Mensalão, nossa pátria mãe segue dormindo, tão distraída, sem perceber que é subtraída em tenebrosas transações, como nos diria o grande mestre Chico Buarque. Como se não bastasse ter pagado tanto por uma metade, a Petrobrás foi obrigada a comprar a outra metade. Assim, o Estado brasileiro passou a ser o feliz proprietário de uma refinaria que, até onde pude verificar, não é lá grande coisas. Em 2008, Petrobras e a Astra Oil se desentenderam e foram à justiça. Nossa estatal perdeu a ação e foi obrigada a comprar a parte que pertencia à empresa belga. No final de tudo, a compra da Refinaria de Pasadena custou US$ 1,18 bilhão.

 

A Astra teve lucro 27 vezes maior do que desembolsou quando da compra da refinaria. E aqui, em terras tupiniquins, alguns dos sócios da Astra andaram ganhando muito dinheiro também. É isso que possíveis investigações vão ter que apurar. O Tribunal de Contas da União (TCU), a Polícia Federal e Ministério Público já andam investigando. A presidente Dilma já disse que só se aprovou a compra de metade da refinaria, porque os relatórios eram falhos e não davam margem para um melhor juízo. Em 2006, Dilma Rousseff era ministra da Casa Civil, no governo Lula, e presidia o Conselho de Administração da Petrobrás. Como conselheira, Dilma votou a favor da compra do primeiro bloco de 50% das ações.

A desconfiança é que, ao desembolsar um valor tão alto, a Petrobras tenha a facilitado à evasão de divisas e o superfaturamento. Outra questão é que o contrato, assinada entre a Astra e a Petrobrás, trazia cláusulas absurdas que prejudicaram a estatal brasileira. Uma delas é o “Put Option” que determina que em caso de desacordo judicial, entre os sócios, a parte perdedora se obriga a adquirir o restante das ações pelo valor determinado pela parte vencedora. Assim, a Astra saiu com US$ 1,18 bilhão dessa história toda. Pelo que se vê, devem ter feito parte da negociação pessoas desonestas e pessoas que não sabem ler um contrato, pois é de se perguntar, também, como é que se aceita uma clausula como esta, sabendo-se que o desacordo pode muito bem ser criado.

Interessa ver que o caso da refinaria, tal qual o caso do mensalão, apareceu em ano eleitoral. Com certeza vamos encontrar, por trás das denuncias, atores e partidos políticos desejosos de derrotar o projeto de reeleição de Dilma Rousseff. Nesse rol poderemos encontrar os adversários, claro, mas não se descarta que aqueles aliados, que trabalham diuturnamente para prejudicar o governo, estejam, por exemplo, abastecendo com informações as instituições que conduzem as investigações. No caso do mensalão, Lula negou, e segue negando, que tivesse algo haver com a organização criminosa comandada por Zé Dirceu. Neste Caso, Dilma já disse que sabia do que estava acontecendo, mesmo que tenha dado uma justificativa pouco convincente.

Isso pode ser a diferença numa tentativa de blindar a candidata Dilma. Se o caso do mensalão não serviu para impedir que o PT se mantivesse no poder, não me parece que este novo caso possa vir a ter tamanho potencial. No entanto, vamos aguardar. Muito óleo ainda vai passar pelos dutos dessa refinaria. Se tudo isso impactará nas eleições de outubro não podemos afirmar. Mas, como eu não sou um otimista, esperarei sentado, pois esse filme nós já assisti e bem sabemos como ele termina.

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