O presidente da Fifa, Joseph Blatter, rebateu as críticas e disse, numa palestra para estudantes da Universidade de Oxford, que não é um "parasita sem coração sugando o sangue do futebol". Foto: Getty Images |
Para quem não
sabe, o parasita é um organismo que só vive se associado a um conjunto de
outros órgãos. O parasita é aquele que retira de seu hospedeiro os meios
necessários para sua sobrevivência, sem pedir autorização, e causando uma série
de danos. Os parasitas me vieram à mente com as notícias que nos vão chegando
sobre a organização da Copa do Mundo. A relação que a Federação Internacional
de Futebol Associado, a FIFA, estabeleceu com o Brasil é de total parasitismo.
A única diferença é que, neste caso, o hospedeiro autorizou o parasita a se
instalar em seu corpo e dele retirar o que bem entender. Não custa lembrar que
não foi FIFA que veio aqui implorar para realizar a Copa do Mundo.
Fomos nós, o país do futebol, que, festiva e alegremente, nos candidatamos
a ser país sede. Fomos nós, e nosso governo, que nos mobilizamos para vencer a
acirrada disputa que dá a um país o direito, e não sei se a honra, de organizar
uma Copa da FIFA. Foi o governo da presidente Dilma quem aceitou as regras
impostas pela FIFA e que enviou para o Congresso Nacional a chamada Lei Geral
da Copa – um pacote de medidas que permite a FIFA agir passando ao largo da
Constituição Federal. Não bastassem os escândalos, as desorganizações, o gasto
desenfreado e o absurdo de operários morrerem nas obras das faraônicas arenas,
não bastasse mesmo o fato de que não teremos os tais legados sociais, agora a
FIFA quer acionar na justiça as cidades que desistirem de promover as chamadas
“Fan Fests”.
“Fan Fests” são eventos, com telões e shows musicais, que transmitem as
partidas de futebol da Copa. Para a FIFA, a ideia é que os torcedores, que não
puderam comprar os caríssimos ingressos dos jogos, possam assisti-los em locais
apropriados. As pessoas teriam um local, tão animado quanto os estádios, para
assistirem aos jogos. A FIFA afirma que o “Fun Park”, onde ocorrem as “Fun
Fests”, é um local para confraternização entre as pessoas das mais variadas
nacionalidades. Mas, voltemos ao mundo real. O que será que está por trás
disso? As doze cidades-sede são contratualmente obrigadas a promover as tais
“Fun Fests”. Parece que os governos estaduais e os prefeitos das cidades sede
não leram os contratos que assinaram. Certo, eles têm cláusulas draconianas,
mas foram assinados.
Agora, que o parasita se instalou no corpo do hospedeiro não adianta
reclamar. Como se dizia, ajoelhou, tem que rezar, ou melhor, tem que torcer. O
fato é que a cidade de Recife deixou claro que não tem como arcar com os R$ 20
milhões que a FIFA pede. Cada “Fan Fest” custará a bagatela de R$ 20 milhões
aos cofres públicos da cidade-sede. A FIFA afirma que foi procurada pela
prefeitura de João Pessoa, que estaria interessada no evento. A prefeitura nega
e diz que foi a FIFA quem tomou a iniciativa da negociação. O secretario de
esportes de João Pessoa, Sergio Meira, foi categoria ao dizer que não há
interesse em realizar o evento devido ao seu alto custo. O fato é que a FIFA
promete acionar na Justiça a cidade que não realizar a “Fan Fest”.
O fato é que a
FIFA dispõem de mecanismos legais, contratuais, para emparedar as prefeituras e
obriga-las a realizar um evento que não traz dividendo algum para a sociedade.
Pelo contrário, só reafirma a política do pão e circo, ou melhor, pão e
futebol. Quase a metade desses R$ 20 milhões vai para os cofres da FIFA. É o
que a cidade paga por adquirir um produto licenciado. Como todo mau parasita, a
FIFA não quer perder um centavo sequer nesse grande negócio chamado Copa do
Mundo. E tem mais, a cidade sede arca
com quase todos os custos do evento, mas pouco pode lucrar com ele, pois os
ingressos são gratuitos. A FIFA cede um telão e faz a proteção do local com
grades. Todo o resto, inclusive os artistas, é
bancado pela cidade sede.
Tem mais, a FIFA
exige que os artistas, que se apresentaram antes e depois dos jogos, sejam
conhecidos nacionalmente, ou seja, são os que têm os cachês mais altos. Outra
exigência é que só os produtos dos parceiros da FIFA sejam vendidos nos “Fun
Parks”. A cidade sede não pode firmar contratos com empresas que não estejam no
rol de patrocinadores da FIFA. A Cidade sede também não pode permitir
manifestações políticas nos locais das “Fun Fests”. Um diretor de marketing da FIFA disse que não
serão permitidos cartazes com conteúdo político nas “Fan Fests”, assim como já
se proibiu qualquer tipo de manifestação dentro das arenas. É que para a
FIFA não basta todo o lucro que estamos proporcionando à custa de nosso PIB e
de nosso desenvolvimento, interessa, também, ditar como devemos nos comportar
durante o evento. A questão é o que vai
restar de nós, pobres hospedeiros, depois que esse parasita resolver abandonar
nosso organismo. Muitas dívidas, muitos problemas com a má gestão do evento,
nenhum legado social e, talvez, nenhum título a comemorar.
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A
CAMPINA FM.
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