O governador
Ricardo Coutinho não é bem o que poderíamos chamar de um primor de paciência e
bom humor. Nos últimos dias, ele tem se mostrado mais irritado e impaciente do que
de hábito. É certo que as atribulações do cargo que ocupa, além do processo em
que busca a reeleição, deixam o governador assim, mal-humorado. Mas, o fim da
aliança entre PSB e PSDB, e suas consequências, deixaram nosso governador em
ponto de ebulição. Numa entrevista a equipe de jornalismo da Campina FM,
Ricardo Coutinho mostrou-se irritado, impaciente e impávido devido à forma como
as coisas foram se arranjando. Como se sabe, Ricardo não queria o fim da
aliança com o senador Cássio Cunha Lima.
Como se sabe, também, o governador disse várias vezes que não queria que
seus aliados deixassem o governo. Mas, ao ver o leite derramado, Coutinho
resolveu mudar o discurso e partiu, eu não diria para agressão, diria que ele
foi ao enfrentamento. Eu disse que o governador estava impávido porque sua
atitude era de quem não tem medos e receios. Ele se mostrou destemido, além de
tentar deixar claro que não se sente enfraquecido pelas defecções que seu
governo e seu esquema eleitoral sofreram. A entrevista foi, no mínimo,
reveladora.
O governador havia acabado de participar de uma solenidade para entrega de
ambulâncias do programa Pacto pelo Desenvolvimento Social. Claro, já estamos em
plena campanha eleitoral. Na saída, o governador desandou a falar, fazendo o
discurso do tipo “pode vir quente, que eu
estou fervendo”. A primeira coisa
foi se diferenciar das gestões passadas, a saber: as de Cássio Cunha Lima e as
do PMDB, que são seus principais adversários. Ricardo disse que, antes dele, os
prefeitos “tinham que se ajoelhar, com o
pires na mão, para conseguir benefícios para seus municípios”. Em seguida,
disse que acabou com isso, pois não quer saber se o prefeito é do partido A, B
ou C. Mas, será que ele não quer mesmo?
Municípios que historicamente não eram agraciados com políticas públicas
estaduais passaram a ser atendidos com, por exemplo, o programa “Caminhos da
Paraíba” que recupera e constrói estradas em várias cidades do Estado. Mas,
coincidência ou não, cerca de 80% dos prefeitos eleitos pelo PMDB, em 2012,
aceitaram não mais fazer oposição ao governo. Não se passa uma única semana sem
que o governador não receba o apoio explícito de um prefeito do PMDB. A
estratégia de Ricardo tem sido aquela ensinada pelo mago da ciência e da
filosofia política, Nicolau Maquiavel: se você não pode contar com seus
aliados, cative seus adversários de forma que eles não mais sejam uma pedra em
seu caminho.
O governador quis se mostrar confiante na sua reeleição e disse que a
população saberá reconhecer seu trabalho. Essa é a declaração de praxe, pois o
expediente da reeleição instituiu essa forma de aprovarmos ou não uma gestão.
Ricardo disse algo que demonstra suas iras e maus humores. Ele mandou um
recado, ou fez uma ameaça, para seus novos e velhos adversários. Disse o
governador: “Eu não ando para trás feito
caranguejo. Eu tenho couro grosso e vem mais coisa por aí”. O governador
pronunciou algo que não parece ser fruto de uma reflexão. É aquele tipo de
declaração motivada pela raiva ou provocada por um daquelas perguntas feitas a
queima roupa. É a típica declaração da qual, depois, o declarante pode se
arrepender.
Disse ele: “Não se iludam, eu sou o
avesso do avesso do avesso da política. Fui eleito vereador, deputado, prefeito
e muita gente duvidava se eu conseguiria ser eleito governador com mais de 150
mil votos de diferença”. Certo, por partes. Ao se colocar como o avesso da
política, o governador quis dizer que é diferente de todos os seus adversários.
Mas, o que significa ser avesso? Avesso pode ser o oposto ao lado direito ou ao
lado esquerdo, vai depender do ângulo de visão. Avesso é o que é contrário. A
pessoa pode ser avessa à verdade ou a mentira. Ser ou estar avesso a alguém, ou
a algo, significa estar do lado contrário, discordar ou fazer diferente. O que
te faz avesso é a forma de olhar, de pensar, de agir, é a visão de mundo.
Quando o
governador diz que é o avesso, do avesso, do avesso pode estar fazendo uma
volta de 360º. Ou seja, ele pode estar se colocando no mesmo local de seus
adversários. Dependendo do olhar, Ricardo pode ser diferente ou igual a quem
ele diz ser avesso. Sim é verdade que Ricardo tem um histórico de sucessos
eleitorais. Ele nunca foi derrotado nas urnas, mas cada eleição tem uma
história e um dilema particulares e nas eleições de 2014 teremos variáveis
nunca antes vistas em nosso estado. Hoje, eu analisei o discurso mal humorado
de Ricardo Coutinho. Amanhã eu vou analisar o fato de que, pela primeira vez, o
governador vai enfrentar as urnas, numa eleição majoritária, sem poder contar
com um puxador de votos de peso.
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A
CAMPINA FM.
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