terça-feira, 18 de março de 2014

UM GOVERNADOR AS AVESSAS


O governador Ricardo Coutinho não é bem o que poderíamos chamar de um primor de paciência e bom humor. Nos últimos dias, ele tem se mostrado mais irritado e impaciente do que de hábito. É certo que as atribulações do cargo que ocupa, além do processo em que busca a reeleição, deixam o governador assim, mal-humorado. Mas, o fim da aliança entre PSB e PSDB, e suas consequências, deixaram nosso governador em ponto de ebulição. Numa entrevista a equipe de jornalismo da Campina FM, Ricardo Coutinho mostrou-se irritado, impaciente e impávido devido à forma como as coisas foram se arranjando. Como se sabe, Ricardo não queria o fim da aliança com o senador Cássio Cunha Lima.

Como se sabe, também, o governador disse várias vezes que não queria que seus aliados deixassem o governo. Mas, ao ver o leite derramado, Coutinho resolveu mudar o discurso e partiu, eu não diria para agressão, diria que ele foi ao enfrentamento. Eu disse que o governador estava impávido porque sua atitude era de quem não tem medos e receios. Ele se mostrou destemido, além de tentar deixar claro que não se sente enfraquecido pelas defecções que seu governo e seu esquema eleitoral sofreram. A entrevista foi, no mínimo, reveladora.

O governador havia acabado de participar de uma solenidade para entrega de ambulâncias do programa Pacto pelo Desenvolvimento Social. Claro, já estamos em plena campanha eleitoral. Na saída, o governador desandou a falar, fazendo o discurso do tipo “pode vir quente, que eu estou fervendo”.  A primeira coisa foi se diferenciar das gestões passadas, a saber: as de Cássio Cunha Lima e as do PMDB, que são seus principais adversários. Ricardo disse que, antes dele, os prefeitos “tinham que se ajoelhar, com o pires na mão, para conseguir benefícios para seus municípios”. Em seguida, disse que acabou com isso, pois não quer saber se o prefeito é do partido A, B ou C. Mas, será que ele não quer mesmo?

Municípios que historicamente não eram agraciados com políticas públicas estaduais passaram a ser atendidos com, por exemplo, o programa “Caminhos da Paraíba” que recupera e constrói estradas em várias cidades do Estado. Mas, coincidência ou não, cerca de 80% dos prefeitos eleitos pelo PMDB, em 2012, aceitaram não mais fazer oposição ao governo. Não se passa uma única semana sem que o governador não receba o apoio explícito de um prefeito do PMDB. A estratégia de Ricardo tem sido aquela ensinada pelo mago da ciência e da filosofia política, Nicolau Maquiavel: se você não pode contar com seus aliados, cative seus adversários de forma que eles não mais sejam uma pedra em seu caminho.



O governador quis se mostrar confiante na sua reeleição e disse que a população saberá reconhecer seu trabalho. Essa é a declaração de praxe, pois o expediente da reeleição instituiu essa forma de aprovarmos ou não uma gestão. Ricardo disse algo que demonstra suas iras e maus humores. Ele mandou um recado, ou fez uma ameaça, para seus novos e velhos adversários. Disse o governador: “Eu não ando para trás feito caranguejo. Eu tenho couro grosso e vem mais coisa por aí”. O governador pronunciou algo que não parece ser fruto de uma reflexão. É aquele tipo de declaração motivada pela raiva ou provocada por um daquelas perguntas feitas a queima roupa. É a típica declaração da qual, depois, o declarante pode se arrepender.

Disse ele: “Não se iludam, eu sou o avesso do avesso do avesso da política. Fui eleito vereador, deputado, prefeito e muita gente duvidava se eu conseguiria ser eleito governador com mais de 150 mil votos de diferença”. Certo, por partes. Ao se colocar como o avesso da política, o governador quis dizer que é diferente de todos os seus adversários. Mas, o que significa ser avesso? Avesso pode ser o oposto ao lado direito ou ao lado esquerdo, vai depender do ângulo de visão. Avesso é o que é contrário. A pessoa pode ser avessa à verdade ou a mentira. Ser ou estar avesso a alguém, ou a algo, significa estar do lado contrário, discordar ou fazer diferente. O que te faz avesso é a forma de olhar, de pensar, de agir, é a visão de mundo.

Quando o governador diz que é o avesso, do avesso, do avesso pode estar fazendo uma volta de 360º. Ou seja, ele pode estar se colocando no mesmo local de seus adversários. Dependendo do olhar, Ricardo pode ser diferente ou igual a quem ele diz ser avesso. Sim é verdade que Ricardo tem um histórico de sucessos eleitorais. Ele nunca foi derrotado nas urnas, mas cada eleição tem uma história e um dilema particulares e nas eleições de 2014 teremos variáveis nunca antes vistas em nosso estado. Hoje, eu analisei o discurso mal humorado de Ricardo Coutinho. Amanhã eu vou analisar o fato de que, pela primeira vez, o governador vai enfrentar as urnas, numa eleição majoritária, sem poder contar com um puxador de votos de peso.

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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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