A emenda que promulgou o expediente da reeleição para prefeitos,
governadores e presidente da República só foi aprovada em 1997, no nebuloso
caso em que deputados receberam R$ 200 mil, cada, para aprovar a reeleição de
Fernando Henrique Cardoso. Em 1996, Paulo Maluf era o prefeito de São Paulo e,
como não podia ser candidato a reeleição, lançou o obscuro Celso Pitta, seu
secretário de finanças, para lhe suceder no cargo. Esse é um dos mais famosos
casos do chamado “dilema do poste”. Na época, Maluf tinha altos índices de
popularidade e a aprovação de seu governo estava sempre acima dos 65 pontos
percentuais. Eram os tempos do “malufismo”. Assim, Maluf acreditou que elegeria
quem bem quisesse, até um poste.
Maluf foi a TV dizer que seu trabalho não poderia parar e que o
homem que iria representa-lo na prefeitura de São Paulo era Celso Pitta. Era
comum, na época, as lideranças pedirem para que se elegesse não um governante,
mas um representante seu. Maluf apresentava Pitta como seu braço direito, como
um homem sério e preparado. Em certo momento, dizia Maluf: “Eu garanto tanto o
Pitta que peço a vocês para votarem nele, e se ele não for um grande prefeito,
nunca mais votem em mim”. Pitta foi o prefeito mais desastroso que já se teve
notícia em São Paulo. Seu mandato foi pontuado pela corrupção e tudo veio à
tona quando sua ex-esposa, Nicéia Pitta, resolveu contar tudo o que sabia sobre
o escândalo dos precatórios.
No final de seu mandato, Pitta era réu em 13 ações civis públicas.
Ele estava tão desgastado que não pode pleitear sua reeleição. Maluf, claro,
disse que não tinha nada haver com os desmandos de Pitta e que não se lembrava
do que havia dito na TV. Esse é um caso de quando o dilema do poste dá errado.
Mas, existem os exemplos de quando ele dá certo. É impossível não citar o caso
de Lula que tirou Dilma da obscuridade dos bastidores do Palácio do Planalto e
a elegeu. Neste caso o dilema se
resolveu positivamente para poste, pois, hoje, Dilma tem se dado ao luxo de
deixar seu mentor nos bastidores enquanto ela lidera o espetáculo. Aqui na
Paraíba, temos um exemplo do dilema do poste dando errado.
É o caso do então prefeito Ricardo Coutinho que pinçou Luciano Agra
de sua equipe e lhe fez poste. O dilema não se resolveu, a criatura se voltou
contra o criador e vice-versa. O fato é que o dilema do poste é consequência
direta do expediente da reeleição. Durante muito tempo, políticos se reelegiam
através de seus familiares. Com as proibições dos parentes se candidatarem,
passou-se a utilizar o expediente de pinçar um auxiliar na equipe de governo,
de preferência um secretário desconhecido. Hoje, as coisas, são bem claras.
Onde o governante busca a reeleição não tem poste. Onde o governante já está
concluindo seu segundo mandato busca-se um auxiliar. A regra básica é: este
auxiliar não pode fazer sombra, caso eleito, sobre seu chefe político.
Em geral, o criador e a criatura brigam quanto este começa a ficar
mais bem avaliado do que aquele. É comum o criador se revoltar em ver que a
criatura consegue fazer um governo melhor. Na política é assim, o cacique não
quer que os índios cresçam. Agora mesmo vemos exemplos do dilema do poste. Em
Pernambuco, o governador, e candidato a presidente, Eduardo Campos lançou seu
secretário da fazenda, Paulo Câmara, para a disputa ao governo do Estado. A
aposta de Eduardo Campos é altíssima, pois se ele não conseguir eleger seu
poste já no 1º turno, como poderá querer ir para o 2º turno da eleição presidencial.
Às vezes impor ao poste tamanha responsabilidade pode ser o fim da linha para o
cacique.
No Maranhão, a governadora Roseana Sarney, que um dia foi poste do
mastodonte da política nacional José Sarney, quer lançar seu secretaria de
infraestrutura, Fernando Silva, para disputar sua sucessão com o beneplácito do
papai Sarney, claro. Poste que é poste assume de bom grande ser o ungido do
governante, mas no Maranhão é diferente. Fernando Silva não quer o ônus de ser
o indicado do clã Sarney, mas aceita o bônus de ser apoiado pela oligarquia e
pelo governo. Fernando quer ir para o céu, mas não quer morrer. Na Bahia, o
governador Jaques Wagner não abre mão de lançar seu chefe da Casa Civil, Rui
Costa, ao governo do Estado, mesmo contra a vontade dos petistas baianos.
Jaques Wagner lançou seu pupilo enquanto se candidata a ser o novo ACM da
Bahia.
No Ceará, o governador Cid Gomes implodiu a fila de pretendentes a
sua sucessão e já indicou o presidente da Assembleia Legislativa, José
Albuquerque. Gomes age como os antigos coronéis que não consultavam nem mesmo o
escolhido para ocupar o cargo. Não custa lembrar que na pequena e heroica
Paraíba não teremos, nestas eleições, o dilema do poste, pois as grandes
lideranças vão, elas mesmas, às urnas já que o governador Ricardo Coutinho é
candidato à reeleição. Ainda sobre o dilema do poste é preciso ter claro que
ele só se resolve após apurados os votos. Para os governantes, e seus postes,
apenas um aviso: muito cuidado com o efeito Celso Pitta, pois mais dia, menos
dia, ele vem para cobrar a conta.
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