Nas eleições
gerais de 2002 havia uma acentuada tendência indicando a alternância no poder.
Lula, que representava a mudança, foi eleito presidente. José Serra, que representava a continuidade,
colecionou mais uma derrota. Já nas eleições de 2006 e de 2010 a tendência era
da manutenção, da continuidade, enfim, da repetição. Enquanto Lula, Dilma e o
PT surfavam na onda da reeleição, o PSDB defendia a alternância no poder,
falava em mudanças. Este foi o problema de José Serra. É que ele esteve sempre
no barco errado. Quando todos queriam mudança, ele falava em continuidade.
Quando se buscava a continuidade, ele queria a mudança.
O problema é que Serra, FHC e boa parte dos tucanos vivem num mundo a
parte, onde o que importa são seus elitizados umbigos. Não que o PT seja o
partido que mais entende a cabeça do eleitorado brasileiro. Na verdade, o PT é
tão tucano quanto o PSDB. Na época do segundo reinado, por volta de 1840,
existiam o Partido Conservador e o Partido Liberal. Ambos representavam a
classe dominante, defendiam a monarquia e a escravidão. Por isso se dizia que
nada mais conservador do que um liberal no poder. PT e PSDB defendem os mesmos
postulados da estabilidade econômica. Querem crescimento, mas não falam em
desenvolvimento. Sem contar que só sabem pedir votos oferecendo programas
assistencialistas em troca.
E é bom não esquecer que PT e PSDB usaram e abusaram do expediente do
mensalão. Por isso que podemos dizer que nada mais tucano do que um petista no
poder. Se Aécio Neves for eleito presidente diremos que nada mais petista do
que um tucano no poder. Mas, o PT tem um sujeito chamado Luis Inácio Lula da
Silva que veio do povo e se recusa a deixar de pensar como povo. Lula entende
bem as tendências da média do eleitorado brasileiro, por isso ele sabe se
reinventar para o bem e para o mal. Foi Lula quem entendeu que o eleitorado
pensa com o bolso, não importando se neste bolso tem um “Bolsa Família” ou
grandes investimentos em “commoditys”, ações da Bolsa de Valores e
empreendimentos multivariados.
Agora que nos preparamos para mais uma eleição geral já é hora de pensar
nas tendências e nos dilemas da eleição presidencial. Até 2010 as coisas eram
mais ou menos simples. Não havia meio termo, ou se queria mudança ou se queria
continuidade. Esta eleição será completamente diferente. Este ano teremos a mãe de todas as disputas,
pois o embate não se dará, exclusivamente entre PT e PSDB. Este ano teremos um
tertius, uma terceira força, chamada Eduardo Campos, com seu PSB fortalecido.
Sem contar, que o governador de Pernambuco traz consigo a ex-senadora Marina
Silva que terá a função de avalizar, além de legitimar, a candidatura Eduardo
em vários setores da sociedade brasileira. Aliás, esta é uma gigantesca
responsabilidade.
Imaginemos que Eduardo Campos seja eleito e faça um governo ruim. Todos
aqueles que acreditam em Marina Silva, como símbolo de pureza na política, vão
cobrar da ex-senadora uma responsabilidade que, talvez, ela não tenha como dar
conta. Mas, falando sobre tendências, vejamos o que deve estar passando na
cabeça do eleitor brasileiro. A presidente do IBOPE Inteligência, Marcia
Cavallari, afirmou que “os brasileiros
desejam mudança, mas não a veem representada na oposição”. Foi à cientista
política Marcia Cavallari quem primeiro afirmou que havia um sentimento de
continuidade e que seria eleito aquele candidato que mantivesse as conquistas
sociais do governo de Lula. Venceu Dilma. Este foi o dilema daquela eleição.
Vários setores da sociedade viam a promoção das questões sociais dos
governos de Lula como essenciais, por isso queriam a continuidade. Foi por isso
que de nada adiantou o julgamento dos mensaleiros. É que o povo tinha decidido
o que queria. Mas, segundo Cavallari, as coisas mudaram. Existiria um
sentimento de mudança. Parece haver uma exaustão do modelo que já se repete há
quase 12 anos. Com a certeza de que os programas sociais não serão encerrados,
o povo parece querer algo mais. Em outras épocas, essa seria a senha para a
oposição vencer as eleições. Mas, existe uma pedra no meio do caminho da
oposição. É Cavallari quem aponta o problema verificado nas muitas pesquisas
realizadas pelo Ibope Inteligência.
Ela afirma que a questão é que a oposição não consegue se apropriar da
bandeira da mudança, comprometida que é, tal qual a situação, com a manutenção
do estado de coisas em que vivemos. O que aconteceu foi que a oposição perdeu o
discurso. O PT usurpou o discurso do PSDB e este não fez nada para impedir. O
PT aprendeu a ser governista muito rapidamente. O PSDB parece não ter, ainda,
aprendido a ser oposição. A tática do denuncismo até funciona, mas não o tempo
todo.
O fato é que
existe um vácuo em termos de discursos e propostas. Enquanto os políticos vivem
sem seus mundos fechados o povo tenta entender o que quer. As manifestações são
prova disso. O que mais vemos são as pessoas dizendo o que não mais querem.
Muito raramente vemos um discurso bem elaborado em torno do que queremos e
precisamos. As eleições deste ano são uma chance única de tratarmos do que
realmente importa e deixarmos a perfumaria de lado. A questão é: saberemos
aproveitar essa chance?
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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