Recentemente o
economista Ricardo Amorim publicou um artigo na “Revista Isto É” intitulado
“João e Kim”. Para quem não conhece, Amorim é um dos debatedores do Programa Manhattan
Connection, da Globonews, que vai ao ar sempre aos domingos. No artigo, Amorim
conta a história de duas crianças nascidas em 1970. João, brasileiro, e Kim,
sul coreano, têm histórias parecidas, pois estudaram em escolas públicas e seus
pais são professores. Ambos trabalham na sede brasileira de uma multinacional.
Kim é engenheiro, ganha R$ 7.100,00 por mês. João ganha R$ 1.900,00. Kim é chefe
de João. Mas, a diferença entre eles é que João não terminou o ensino médio e
Kim concluiu um curso superior.
Uma boa explicação para isso vem da economia e de como os países
investem as riquezas que juntam. Em 1970 a renda per capita da Coréia era
metade da brasileira, mas, hoje, a Coréia tem renda per capita três vezes maior
do que a nossa. É que estávamos preocupados em sermos os melhores do mundo no
futebol e em tornarmos o carnaval o maior espetáculo da terra. Os coreanos viam
que dinheiro posto na educação é investimento e não gasto, como acreditam
nossos governantes. Em 1970, o governo coreano investia seis vezes mais do que o governo
brasileiro por cada aluno do ensino médio. Em 1970 o governo do general Médici
só pensava em fazer a Seleção Brasileira tricampeã e em perseguir e torturar
parte dos cidadãos brasileiros. Na época, um professor coreano, no que aqui
chamamos de ensino médio, ganhava o dobro de um professor brasileiro. Hoje, o
professor da Coréia do Sul recebe quase o triplo da renda média do professor
brasileiro. É por isso, como nos mostra Ricardo Amorim,
que os “Kims” coreanos estão sempre entre os primeiros lugares, nos exames internacionais
de estudantes de ensino fundamental e médio. Já os “Joões” brasileiros, melhor
nem falar.
Na verdade, eu quero falar. Não é possível fingir que esse estado
de coisas não acontece. O problema é que, em geral, pegamos complexos dados estatísticos
para comprovar o que bem sabemos e, genericamente, chamamos de crise na
educação. Eu vou mudar o foco. Pegarei uma única realidade, um estudo de caso.
Talvez assim possamos entender mais e melhor porque só formamos “Joões” e os poucos
“Kims” que temos são tratados como gênios, honrosas exceções. A Escola Estadual
Ademar Veloso da Silveira, conhecida como Estadual de Bodocongó, forma bem mais
“Joões” do que “Kims”. Não porque seus professores sejam incapazes ou
vagabundos, como, vez por outra, algum gestor lhes atira na cara, mas porque
este é o nosso modelo.
Recentemente, bandidos fortemente armados invadiram o “Ademar
Veloso”, roubaram objetos dos professores e agrediram covardemente alguns de
seus funcionários. Quando os policiais finalmente chegaram ao local, os
marginais já tinham ido embora. Mesmo sendo uma escola, que pertence ao Estado,
nunca se vê policiais militares por lá para prover segurança a alunos e
professores. Num mundo ideal, a polícia não teria que entrar numa escola. Mas,
em nosso mundo, ela se ausenta como, de fato, faz o Estado quando se trata de
questões sociais.
Em 2013, 28, dos 55 professores que atuam no Estadual de Bodocongó,
desenvolveram projetos e os submeteram a uma comissão, formada pela Secretaria
de Educação, para concorrer ao “Prêmio Escola de Valor”, instituído pelo
Governo Estadual. Segundo Socorro Jerônimo, professora do Estadual de
Bodocongó, a ideia era concorrer ao prêmio para possibilitar a melhoria do
ensino na escola e a integração entre as várias áreas do conhecimento, através
de ações concretas descritas nos próprios projetos. O Estadual de Bodocongó não
foi premiado, mesmo tendo cumprido quase todos os pré-requisitos definidos em
edital. Uma comissão, da 3ª Gerência de Ensino, foi à Escola e atestou a
veracidade, a qualidade e a relevância dos projetos. Mesmo assim a Escola não
foi contemplada.
Os professores, e a direção da Escola, quiseram saber por que não
ganharam o prêmio. Protocolaram requerimento, mas não obtiveram resposta.
Abriram processo administrativo, na Secretaria de Educação e, até onde sei, seguem
aguardando resposta. Através de um comunicado não oficial, os professores do
Estadual de Bodocongó ficaram sabendo que a Secretária de Educação, Márcia de
Figueiredo Lucena, não poderia se pronunciar porque não estava à frente do
projeto. O que se espera é que a Secretaria esclareça porque esta escola não
foi contemplada com o Prêmio Escola de Valor. Pelo prêmio em si? Não! Mas pelo
fato de que a escola apresentou méritos suficientes para ter acesso ao prêmio.
O que se espera, também, é que essa escola, como as outras, não siga
sendo penalizada por essa forma tosca que temos de enxergar a educação como um
gasto e não como investimento. Eu não espero que de um dia para o outro
passemos a forma exércitos de “Kims”. O que eu espero, na verdade torço, é para
que possamos educar nossos “Joões” para que eles tenham as mesmas oportunidades
dos “kims” coreanos.
AQUI É O POLITICANDO,
COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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