quarta-feira, 12 de março de 2014

AFINAL, PORQUE TEMOS QUE INVESTIR NA EDUCAÇÃO?

Recentemente o economista Ricardo Amorim publicou um artigo na “Revista Isto É” intitulado “João e Kim”. Para quem não conhece, Amorim é um dos debatedores do Programa Manhattan Connection, da Globonews, que vai ao ar sempre aos domingos. No artigo, Amorim conta a história de duas crianças nascidas em 1970. João, brasileiro, e Kim, sul coreano, têm histórias parecidas, pois estudaram em escolas públicas e seus pais são professores. Ambos trabalham na sede brasileira de uma multinacional. Kim é engenheiro, ganha R$ 7.100,00 por mês. João ganha R$ 1.900,00. Kim é chefe de João. Mas, a diferença entre eles é que João não terminou o ensino médio e Kim concluiu um curso superior.

Uma boa explicação para isso vem da economia e de como os países investem as riquezas que juntam. Em 1970 a renda per capita da Coréia era metade da brasileira, mas, hoje, a Coréia tem renda per capita três vezes maior do que a nossa. É que estávamos preocupados em sermos os melhores do mundo no futebol e em tornarmos o carnaval o maior espetáculo da terra. Os coreanos viam que dinheiro posto na educação é investimento e não gasto, como acreditam nossos governantes. Em 1970, o governo coreano investia seis vezes mais do que o governo brasileiro por cada aluno do ensino médio. Em 1970 o governo do general Médici só pensava em fazer a Seleção Brasileira tricampeã e em perseguir e torturar parte dos cidadãos brasileiros. Na época, um professor coreano, no que aqui chamamos de ensino médio, ganhava o dobro de um professor brasileiro. Hoje, o professor da Coréia do Sul recebe quase o triplo da renda média do professor brasileiro.   É por isso, como nos mostra Ricardo Amorim, que os “Kims” coreanos estão sempre entre os primeiros lugares, nos exames internacionais de estudantes de ensino fundamental e médio. Já os “Joões” brasileiros, melhor nem falar.

Na verdade, eu quero falar. Não é possível fingir que esse estado de coisas não acontece. O problema é que, em geral, pegamos complexos dados estatísticos para comprovar o que bem sabemos e, genericamente, chamamos de crise na educação. Eu vou mudar o foco. Pegarei uma única realidade, um estudo de caso. Talvez assim possamos entender mais e melhor porque só formamos “Joões” e os poucos “Kims” que temos são tratados como gênios, honrosas exceções. A Escola Estadual Ademar Veloso da Silveira, conhecida como Estadual de Bodocongó, forma bem mais “Joões” do que “Kims”. Não porque seus professores sejam incapazes ou vagabundos, como, vez por outra, algum gestor lhes atira na cara, mas porque este é o nosso modelo.

Recentemente, bandidos fortemente armados invadiram o “Ademar Veloso”, roubaram objetos dos professores e agrediram covardemente alguns de seus funcionários. Quando os policiais finalmente chegaram ao local, os marginais já tinham ido embora. Mesmo sendo uma escola, que pertence ao Estado, nunca se vê policiais militares por lá para prover segurança a alunos e professores. Num mundo ideal, a polícia não teria que entrar numa escola. Mas, em nosso mundo, ela se ausenta como, de fato, faz o Estado quando se trata de questões sociais.
Em 2013, 28, dos 55 professores que atuam no Estadual de Bodocongó, desenvolveram projetos e os submeteram a uma comissão, formada pela Secretaria de Educação, para concorrer ao “Prêmio Escola de Valor”, instituído pelo Governo Estadual. Segundo Socorro Jerônimo, professora do Estadual de Bodocongó, a ideia era concorrer ao prêmio para possibilitar a melhoria do ensino na escola e a integração entre as várias áreas do conhecimento, através de ações concretas descritas nos próprios projetos. O Estadual de Bodocongó não foi premiado, mesmo tendo cumprido quase todos os pré-requisitos definidos em edital. Uma comissão, da 3ª Gerência de Ensino, foi à Escola e atestou a veracidade, a qualidade e a relevância dos projetos. Mesmo assim a Escola não foi contemplada.
Os professores, e a direção da Escola, quiseram saber por que não ganharam o prêmio. Protocolaram requerimento, mas não obtiveram resposta. Abriram processo administrativo, na Secretaria de Educação e, até onde sei, seguem aguardando resposta. Através de um comunicado não oficial, os professores do Estadual de Bodocongó ficaram sabendo que a Secretária de Educação, Márcia de Figueiredo Lucena, não poderia se pronunciar porque não estava à frente do projeto. O que se espera é que a Secretaria esclareça porque esta escola não foi contemplada com o Prêmio Escola de Valor. Pelo prêmio em si? Não! Mas pelo fato de que a escola apresentou méritos suficientes para ter acesso ao prêmio.

O que se espera, também, é que essa escola, como as outras, não siga sendo penalizada por essa forma tosca que temos de enxergar a educação como um gasto e não como investimento. Eu não espero que de um dia para o outro passemos a forma exércitos de “Kims”. O que eu espero, na verdade torço, é para que possamos educar nossos “Joões” para que eles tenham as mesmas oportunidades dos “kims” coreanos.

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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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