Antes de iniciar
esta COLUNA POLITICANDO quero fazer uma pergunta ao caro ouvinte. Por favor,
responda rápido. Suponha que nós fôssemos mudar nosso sistema política e nossa
forma de governo após as eleições de outubro. Se você pudesse escolher que tipo
de governo nós iríamos adotar, com qual dessas formas ficaria: com uma
democracia? Com uma ditadura? Ou você não se importa, pois os políticos são
todos iguais e os sistemas são corrompidos. (....) Pensou? Respondeu?
Na verdade, foi o Instituto Datafolha que fez essas perguntas, entre os
dias 19 e 20 de fevereiro, para 2.614 entrevistados em 161 municípios
brasileiros. A margem de erro foi de 2 pontos percentuais, para mais ou para
menos, e a pesquisa foi estimulada. O resultado da aferição propõe uma
reflexão. 62% dos entrevistados disseram que a “democracia é sempre melhor que
qualquer outra forma de governo”. I.e., não importa que outra forma de governo
se ofereça, esses brasileiros vão preferir a democracia. 16% dos brasileiros
afirmaram que “tanto faz se é uma democracia ou uma ditadura”. Essas pessoas
não sabem a diferença entre ditadura e democracia, por isso não se preocupam em
escolher entre uma das duas formas de governo. 14% dos brasileiros afirmaram
que “em certas circunstâncias, é melhor uma ditadura”. Mesmo que as
circunstâncias não tenham sido especificadas, essas pessoas acham que
deveríamos ter uma ditadura, dentro de certas condições de temperatura e
pressão.
Não deixa de ser interessante ver que, nos 50 anos do golpe civil-militar
de 1964, 62% dos brasileiros não querem mais viver em um sistema de força ou
governados por uma ditadura. É alvissareiro saber que 62% dos brasileiros
preferem a democracia. Por outro lado, eu nem deveria estar falando nisso, pois
o lógico é que 100% dos brasileiros não mais considerassem viver em outro
sistema que não o democrático. O fato de ainda termos brasileiros aventando
viver numa ditadura quer dizer algo. Evoluímos, a passos de formiga e sem
vontade, mas foi uma evolução. Em 1989, quando houve a 1ª eleição presidencial
após o fim da ditadura militar, apenas 43% dos brasileiros diziam preferir a
democracia, segundo o Datafolha daquele momento.
Em setembro de 1989, 40% dos brasileiros preferiam voltar à ditadura
militar. Quase a metade da população dizia que trocava a frágil democracia,
presidida por José Sarney, por um governo de força desde que ele promovesse
desenvolvimento econômico. Quando do impeachment de Fernando Collor, 47%
preferiam ficar na democracia, mesmo que enlameada pelos golpes sujos da
Família Collor e de PC Farias. No entanto, 46% diziam que exatamente por isso
preferiam voltar a viver numa ditadura. No início do primeiro governo de FHC,
em 1994, as coisas mudaram. Devido à estabilidade econômica, promovida pelo
Plano Real, 54% dos brasileiros se assumiam como democratas e apenas 28% ainda
insistiam que uma ditadura poderia ser melhor.
Quando Lula subiu ao poder, em março de 2003, éramos 59% dizendo preferir
viver numa democracia contra 29% de brasileiros saudosistas de um tempo em que
as liberdade democráticas serviam para absolutamente nada. Enfim, fomos
engatinhando lentamente até chegarmos a esse patamar de 62% de apoio a
democracia. Se continuarmos nessa preguiçosa progressão deveremos alcançar o
patamar do povo chileno, algo em torno de 82%, lá por volta de 2040. Mas, para
que a pressa? Afinal, somos o país do futuro. Para que nos preocuparmos se
vamos ter a Copa das Copas, se vamos ter as Olimpíadas das Olimpíadas? A
questão é, como diriam os americanos, what’s the point?
A questão é que ainda se opta pela ditadura no Brasil. Enquanto tivermos
pessoas, não importando quantas, preferindo ditaduras temos muito que nos
preocupar, pois já enfrentamos longas ditaduras e sabemos bem o que elas
representam. A pesquisa do Datafolha quis saber se “há chances de ocorrer uma
nova ditadura no Brasil”. 51% disseram que não, que não há chance alguma de
termos uma nova ditadura. Mas, 24% disseram que há um pouco de chance de uma
nova ditadura. Já 15% afirmaram que há muita chance de termos uma nova
ditadura. Se somarmos estes dois últimos percentuais, teremos que 39% dos
brasileiros consideram que existem chances, poucas ou muitas, de termos uma
nova ditadura.
Brasileiros apontam a possibilidade de termos uma nova ditadura por não
considerarem a democracia como o único sistema político possível. Essa
insistente lembrança que temos da ditadura quer dizer que não apostamos todas
as nossas fichas na democracia. Sérgio Buarque de Holanda, pai de Chico
Buarque, já dizia que a “democracia, no Brasil, foi sempre um lamentável mal
entendido”. Foi, e continua sendo, para pelo menos 15% da população que pensa
ser bom viver num sistema onde as liberdades e os procedimentos democráticos
são artigos de luxo para bem poucos.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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