Um fato marcante
da eleição de 2002, quando Lula foi eleito para o seu primeiro mandato, foi o
programa eleitoral do PSDB onde a atriz Regina Duarte aparecia pedindo votos
para José Serra e dizendo que estava com medo de Lula ser eleito. A Viúva
Porcina de Roque Santeiro dizia que tinha medo do Brasil perder a estabilidade
conquista nos anos de governo de FHC. Ela afirmava que “não se pode jogar o que
foi feito na lata do lixo” e que tinha muito medo da “volta da inflação
desenfreada”. Foi uma celeuma. Artistas, tão famosos quanto Regina Duarte,
fizeram pesadas criticas a ela. Lula e o PT pediram direito de resposta e
entraram com representações, junto ao TSE, pedindo para que os programas do
PSDB fossem retirados do ar.
Na representação, o PT alegava que o depoimento criava artificialmente,
junto à opinião pública, estados mentais de medo e terror contra a candidatura
de Lula. O pedido foi negado, Regina Duarte continuou com medo e Lula foi
eleito. Eu não via problema algum no programa do PSDB a não ser a pieguice de
Regina Duarte fazendo cara da esposa, da classe média carioca, que acabou de
pegar o marido beijando a vizinha na novela das nove. Eu até acho que o
melodrama de Regina Duarte teve um efeito contrário e tirou votos de José
Serra. É que os marqueteiros tucanos contrariam a regra informal das campanhas
eleitorais que diz que não se deve misturar eleição com novelas.
É que o brasileiro não admite que aquilo que mais leva a sério, eu falo
das novelas, seja confundido com eleições. Vejam que candidato algum ousa fazer
paródias com os personagens da novela. Mas, afinal, porque estou falando disso?
É que foi ao ar na semana passado uma propaganda partidária do PT. Qual foi a
minha surpresa quando vi o PT dando uma “tucanada” daquelas ao reeditar o
discurso do medo. É isso mesmo, o PT quer que sintamos medo da oposição ganhar
a eleição. A mensagem era de que é preciso ter medo de uma volta ao passado. A
propaganda enfatizava a ideia de que os brasileiros devem temer a perda dos
avanços conquistados nos últimos anos. É incrível, mas os marqueteiros querem
ditar até nossos sentimentos.
Os petistas disseram, ainda, que se deveria temer um retrocesso nas
investigações de casos de corrupção. Ou seja, eles fizeram a mesma coisa que o
PSDB fez com Regina Duarte. Essa é a estratégia da chantagem
politico-emocional. A ideia é apelar para as emoções e para a volta de uma
situação que ninguém mais quer. Ao dizer que se está com medo ou que se deve
ter medo, se invoca nosso lado emocional, sentimental, que não gosta de se
sentir fragilizado. Na verdade, o comercial exibido mostra os medos do próprio
PT, pois Aécio Neves vem subindo nas pesquisas e Dilma andou caindo. Na
propaganda temos dois mundos distintos. Num vemos brasileiros empregados, com
acesso a remédios, estudo e lazer.
Noutro, vemos pessoas desempregadas, passando fome e pedindo esmolas. O
narrador diz que é preciso ter medo do retorno dos "fantasmas do
passado". Ou seja, o PT oferece a mesma coisa do PSDB em 2002. Ou o
eleitor vota neles ou vai direto para a miséria. O que o PT fez semana passada
é a mesma coisa que o PSDB fez em 2002. A diferença é que os marqueteiros de
Dilma Rousseff tiveram o bom senso de não colocar uma atriz global chorosa na
esperança de fazerem lágrimas brotarem de nossos olhos. Aliás, foi à tese da esperança
que reverteu os efeitos da propagando tucana de 2002. Em resposta as lamúrias
de Regina Duarte, o PT veio com o discurso de que a esperança venceria o medo.
Deu certo, pois Regina Duarte sumiu do guia eleitoral do PSDB.
A questão agora é esperar para ver se os tucanos vão dar uma “lulada” e
responder às chantagens petistas com o discurso que é preciso ter esperança,
ter fé, ter garra, enfim, será que eles vão oferecer o mesmo discurso autoajuda
do PT de 2002? Foi a sempre lúcida Marina Silva quem meteu o dedo na ferida.
Ela disse que a propaganda do PT causou um “desserviço" a nação. A ex-senadora disse que num país onde
as pessoas vivem tensionadas pela violência não se deve apelar para o medo.
Mas, Marina falou como candidata. Por isso, ela afirmou que as conquistas
sociais não podem ser "fulanizadas", pois pertencem ao povo. Ela
disse que a estabilidade econômica, de FHC, e a inclusão social, de Lula, são
conquistas do povo brasileiro.
Essa é uma estratégia bem mais inteligente, pois não nega os feitos de
outros governos, mas lhes retira a patente quando diz que eles pertencem ao
povo. A questão é que ao se admitir os bons feitos do adversário, se admite,
também, que se pode nele votar. O fato é que esses marqueteiros não tem jeito
mesmo. Eles não aprendem! Vez por outra apelam para as surradas estratégias
“sentimentaloides” como se nós, eleitores, não soubéssemos diferenciar uma
novela de um guia eleitoral. Na verdade, a estratégia da chantagem
politico-emocional revela o descaso dos políticos em relação ao verdadeiro
sentido de uma campanha política. O que eles não entendem é que cada lágrima
derramada no guia eleitoral diminui um voto na urna eletrônica.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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