quarta-feira, 28 de maio de 2014

SERÁ QUE O PT AMARELOU DE VEZ?


O PT está montando uma mega coligação de partidos em torno do projeto de reeleição de Dilma Rousseff. Ao que tudo indica, 10 partidos deverão se juntar ao próprio PT e ao PMDB. Em se tratando de eleição presidencial isso não é comum. Lula, sempre ele, comanda as articulações. Dilma foi poupada porque tem que governar e, claro, cuidar de sua campanha eleitoral. Enquanto “lulistas”, fora e dentro do PT, gritam “volta Lula”, o ex-presidente monta os palanques de Dilma pelos Estados. O maior feito de Lula foi estancar a sangria que a base aliada do governo sofria. Ele reverteu o pessimismo, em torno do PT, acalmando o PMDB com mais e mais cargos neste e num futuro governo a partir de 2015. Esse é o jogo que Lula faz com maestria.

Essa encorpada coligação dará a Dilma um temporal na propaganda eleitoral. Calcula-se que ela deverá ter uns 15 minutos no rádio e na TV. Já Aécio deverá ter não mais do que 6 minutos e Eduardo pode sorrir à vontade se obtiver algo em torno de 3 ½ minutos. Isso não é o suficiente para se ganhar uma eleição, mas ajuda e como ajuda. Lula e o PT não pensam apenas na eleição. A ideia é transformar essa robusta coligação na coalizão de governo que dará sustentação a Dilma a partir de 2015, se ela for, claro, reeleita. Vejam o poder atrativo do governo num processo eleitoral. Em 1989, Lula foi candidato a presidente pela “Frente Brasil Popular” composta por PT, PC do B e PSB. Em 1994, PPS, PV e PSTU se incorporaram ao projeto que resultou na 2ª derrota de Lula.

Em 2002, Lula foi eleito para seu primeiro mandato numa coligação de seis partidos. Mas, vejam o que aconteceu em 2010, quando o PT conseguiu seu terceiro mandato presidencial consecutivo. Dilma foi eleita numa coligação de 10 partidos. Muitas siglas, por via das dúvidas, preferem ficar com o candidato do governo a reeleição. É que, no Brasil, ser situação é algo bastante confortável. O fato é que enquanto Dilma escorregava nas pesquisas os partidos não se animavam. Bastou a presidente esboçar uma reação para eles baterem à porta do PT. Claro, partidos não adentram uma coligação sem a oferta de cargos, favores, emendas orçamentárias e outras coisas mais que o PT tem para dar, vender, emprestar.

O PTB, que apoiou o PSDB em 2010, já está com o PT. É que seu tesoureiro ocupará uma das vice-presidências da CEF. Benito Gama, presidente/PTB, disse num raro ataque de sinceridade: "Aécio e Eduardo são um voo no escuro, não tínhamos escolha”. Em cerca de 10 dias, Lula assegurou o apoio do PTB, do PP e do PROS. Apesar de que o martelo do leilão partidário só será batido no último dia das convenções partidárias no final de junho, até lá sempre vai ter uma dessas siglas de vida fácil mudando de lado. O PR está dividido. Seu presidente, senador Alfredo Nascimento, quer ficar com o PT. A maioria da bancada, na Câmara, quer se aliar a Aécio e um setor, minoritário, quer se juntar a Eduardo Campos. Ficará com o PR quem oferecer mais no leilão partidário.



A estratégia vitoriosa do PT é aquela de trocar o apoio à sua candidatura presidencial pelo apoio às pretensões estaduais de seus aliados. A direção nacional do PT sepultou as pretensões eleitorais do PT paraibano em prol do PMDB de Veneziano Vital. Enfim, o PT seguirá sendo pragmático assim como o espectro político partidário. Uma mudança que chamará atenção é que o PT pretende aposentar de uma vez o vermelho que sempre o caracterizou. Apesar de que a estrela deverá continuar sendo seu símbolo. O conhecido publicitário do PT, João Santana, praticamente aboliu o vermelho do material gráfico produzido para os eventos da sigla. Com a anuência de Lula, Dilma e de Rui Falcão o amarelo deverá ser adotado como a cor da campanha eleitoral.


Em seu aniversário de 34 anos, em fevereiro, e no 14º Encontro Nacional do PT, agora em maio, os tons de laranja e amarelo predominaram. De vermelho só mesmo a estrela. E, mesmo assim, ela só era vista num canto do cenário, quase escondida. O caro ouvinte pode dizer que isso não tem importância, que são apenas detalhes estéticos. Mas, dirigentes partidários e muitos militantes não gostaram nem um pouco do que chamam de descaracterização dos símbolos históricos do partido. E eles estam certos. A ideia é descaracterizar o partido e dar fim as marcas e sinais que identificam o PT com seu remoto passado de defensor do socialismo. É o que o PT não tem mais receio algum de ser comparado aos grandes partidos do Brasil.


Essa elaboração vem de 1998 quando o vermelho deu lugar às cores da bandeira nacional. A ideia era mostrar que o PT tinha abandonado seus projetos revolucionários. Ao se apropriar das cores nacionais, o PT passava recibo de suas mudanças ideológicas. O trocadilho é inevitável, mas o fato é que o PT amarelou de vez. Se despir do vermelho significa que a conversão do PT, ao pragmatismo e fisiologismo da política partidária brasileira, está completa. O PT usava vermelho enquanto só sabia ser oposição. Agora que aprendeu a ser situação e que não quer mais sair do governo, o PT entendeu a necessidade de amarelar, de se confundir com o governo. Amarelar significa que o PT abriu mão de uma vez por todas de seus projetos reformadores.
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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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