Desde que
aderimos ao sistema republicano, ainda no final do século XIX, que os militares
brasileiros participam ativamente das coisas da política. Aliás, a própria
República foi instituída por um golpe de força militarizado. Em 1922 os
tenentes do Exército Brasileiro se lançaram num movimento que definiu o modus operandis autoritário dos
militares intervirem na política. Entre as décadas de 30 e 60 do século XX os
brasileiros se acostumaram a vê-los disputarem eleições. Os generais Eurico
Gaspar Dutra, Eduardo Gomes, Henrique Teixeira Lott e Juarez Távora foram todos
candidatos a presidente da República, mesmo que apenas Dutra tenha sido eleito
em 1945.
Fiéis a essa tradição, um grupo de militares criou, em 2013, o Partido
Militar Brasileiro que já teria filiado 490 mil eleitores. Faltariam 80 mil
filiados para que o PMB pudesse requerer, junto ao TSE, o registro para atuar
como partido político. Por enquanto, e a exemplo do que acontece com os membros
da REDE de Marina Silva abrigados no PSB, políticos e militantes do PMB estam
acoitados no PRTB, uma espécie de sigla franqueada, para poderem disputar as
eleições 2014. O PMB não tem a estrutura oficial para ser aceito no sistema político,
mas já tem candidato a presidente. Trata-se do General Augusto Heleno Ribeiro,
de 66 anos, que foi comandante militar da Amazônia e da Missão para
Estabilização do Haiti.
Não se sabe se ele pode ser candidato. Para isso, teria que ter se filiado
a algum partido até outubro de 2013. General Heleno não afirma, mas também não
nega, se cumpriu as exigências eleitorais. Mas, e se ele tiver se filiado,
discretamente, ao PRTB? O General Heleno é o típico militar politico, apesar de
que as análises políticas mais conservadoras ou superficiais não conseguem
detectá-lo. Ele não aparece nas pesquisas eleitorais, até porque não dispõem de
uma estrutura partidária oficial que lhe dê lastro. Heleno é um desses
fenômenos da internet. Ele possui um blog, além de perfis no Facebook e no
Twitter, por onde se manifesta sobre tudo e, claro, sobre política. Inclusive,
existe um movimento virtual intitulado “General Heleno Presidente”.
Segundo o Capitão do Exército Augusto Rosa, ativo aliado de Heleno, este
movimento conta com quase 6 milhões de apoios manifestados virtualmente. Apesar
de que, o que conta mesmo são as fichas de filiação devidamente assinadas. O
General Heleno é, hoje, a liderança política entre os militares brasileiros.
Ele se tornou uma espécie de porta-voz das associações de militares da reserva
existentes em todo o Brasil. Como se sabe, elas refletem em cores vivas o
pensamento da caserna. O General Heleno faz comentários que agradam os setores
mais conservadores. Certa vez ele afirmou que a política indigenista do governo
Lula era “lamentável, para não dizer caótica”. Por causa disso, foi exonerado
do comando militar da Amazônia.
Em outro momento ele ironizou o que chamou de “passado ilibado de Renan
Calheiros” e chamou o MERCOSUL de um “mero tratado bolivariano”. Ele não perde
tempo em criticar a política econômica do ministro Guido Mantega. Mas, a melhor
dele foi quando definiu José Dirceu como “o maior colecionador de rabos presos
da República”. Heleno se auto define como parte de um “movimento anti-PT”.
Enquanto estava na ativa, ele evitava comentários sobre o golpe militar de
1964. Mas, ao ir para a reserva, ele passou a saudar o movimento ou a revolução
de 64. Mesmo se dizendo a favor dos valores democráticos, ele sempre se refere
ao ciclo dos governos militares como o melhor momento que já tivemos na
política.
Heleno e o PMB atraem interesses difusos e atenções díspares. O deputado
Jair Bolsonaro (PP) trabalha ativamente na organização do PMB no Rio de
Janeiro. Mas, nem deveria, pois o que ele quer mesmo é implantar uma ditadura
sem partidos. O Cel. Marcos Pontes, o astronauta brasileiro, atua na
organização do PMB em São Paulo e já disse que fará parte de seu diretório
assim que ele for criado. O deputado Protógenes Queiroz (PC do B), aquele mesmo
da Operação Satiagraha, assinou uma ficha de apoio ao PMB e defende seu
registro junto ao TSE. O fato é que a ideologia conservadora do PMB atrai muita
gente. Quem é contra as cotas raciais, ao casamento entre homossexuais e ao
aborto vai encontrar no PMB e no General Heleno entusiasmados defensores dessas
bandeiras conservadoras.
Para o PMB as investigações conduzidas pelas Comissões da Verdade, em
torno dos crimes cometidos no Regime Militar, não passam de puro revanchismo.
Claro, o General Heleno já se manifestou contrário à revisão da Lei da Anistia.
O fato é que os militares têm, sim, direito a terem e manifestarem suas
opiniões, não importa quais, afinal vivemos em uma democracia, frágil, mas uma
democracia. A questão é: os militares pertencem a um poder coercitivo. O
argumento deles é a força. Poderiam eles se envolver nos assuntos dos poderes
constituídos que usam o voto para alicerçar seus argumentos? Quando aqueles que
seguram o fuzil passam a querer segurar, também, a urna eleitoral é sinal que a
democracia está cedendo espaço para outro tipo de sistema político.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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