quinta-feira, 15 de maio de 2014

O PARTIDO DAS FARDAS VERDES VAI ÀS URNAS.


Desde que aderimos ao sistema republicano, ainda no final do século XIX, que os militares brasileiros participam ativamente das coisas da política. Aliás, a própria República foi instituída por um golpe de força militarizado. Em 1922 os tenentes do Exército Brasileiro se lançaram num movimento que definiu o modus operandis autoritário dos militares intervirem na política. Entre as décadas de 30 e 60 do século XX os brasileiros se acostumaram a vê-los disputarem eleições. Os generais Eurico Gaspar Dutra, Eduardo Gomes, Henrique Teixeira Lott e Juarez Távora foram todos candidatos a presidente da República, mesmo que apenas Dutra tenha sido eleito em 1945.

Fiéis a essa tradição, um grupo de militares criou, em 2013, o Partido Militar Brasileiro que já teria filiado 490 mil eleitores. Faltariam 80 mil filiados para que o PMB pudesse requerer, junto ao TSE, o registro para atuar como partido político. Por enquanto, e a exemplo do que acontece com os membros da REDE de Marina Silva abrigados no PSB, políticos e militantes do PMB estam acoitados no PRTB, uma espécie de sigla franqueada, para poderem disputar as eleições 2014. O PMB não tem a estrutura oficial para ser aceito no sistema político, mas já tem candidato a presidente. Trata-se do General Augusto Heleno Ribeiro, de 66 anos, que foi comandante militar da Amazônia e da Missão para Estabilização do Haiti.

Não se sabe se ele pode ser candidato. Para isso, teria que ter se filiado a algum partido até outubro de 2013. General Heleno não afirma, mas também não nega, se cumpriu as exigências eleitorais. Mas, e se ele tiver se filiado, discretamente, ao PRTB? O General Heleno é o típico militar politico, apesar de que as análises políticas mais conservadoras ou superficiais não conseguem detectá-lo. Ele não aparece nas pesquisas eleitorais, até porque não dispõem de uma estrutura partidária oficial que lhe dê lastro. Heleno é um desses fenômenos da internet. Ele possui um blog, além de perfis no Facebook e no Twitter, por onde se manifesta sobre tudo e, claro, sobre política. Inclusive, existe um movimento virtual intitulado “General Heleno Presidente”.

Segundo o Capitão do Exército Augusto Rosa, ativo aliado de Heleno, este movimento conta com quase 6 milhões de apoios manifestados virtualmente. Apesar de que, o que conta mesmo são as fichas de filiação devidamente assinadas. O General Heleno é, hoje, a liderança política entre os militares brasileiros. Ele se tornou uma espécie de porta-voz das associações de militares da reserva existentes em todo o Brasil. Como se sabe, elas refletem em cores vivas o pensamento da caserna. O General Heleno faz comentários que agradam os setores mais conservadores. Certa vez ele afirmou que a política indigenista do governo Lula era “lamentável, para não dizer caótica”. Por causa disso, foi exonerado do comando militar da Amazônia.

Em outro momento ele ironizou o que chamou de “passado ilibado de Renan Calheiros” e chamou o MERCOSUL de um “mero tratado bolivariano”. Ele não perde tempo em criticar a política econômica do ministro Guido Mantega. Mas, a melhor dele foi quando definiu José Dirceu como “o maior colecionador de rabos presos da República”. Heleno se auto define como parte de um “movimento anti-PT”. Enquanto estava na ativa, ele evitava comentários sobre o golpe militar de 1964. Mas, ao ir para a reserva, ele passou a saudar o movimento ou a revolução de 64. Mesmo se dizendo a favor dos valores democráticos, ele sempre se refere ao ciclo dos governos militares como o melhor momento que já tivemos na política.


Heleno e o PMB atraem interesses difusos e atenções díspares. O deputado Jair Bolsonaro (PP) trabalha ativamente na organização do PMB no Rio de Janeiro. Mas, nem deveria, pois o que ele quer mesmo é implantar uma ditadura sem partidos. O Cel. Marcos Pontes, o astronauta brasileiro, atua na organização do PMB em São Paulo e já disse que fará parte de seu diretório assim que ele for criado. O deputado Protógenes Queiroz (PC do B), aquele mesmo da Operação Satiagraha, assinou uma ficha de apoio ao PMB e defende seu registro junto ao TSE. O fato é que a ideologia conservadora do PMB atrai muita gente. Quem é contra as cotas raciais, ao casamento entre homossexuais e ao aborto vai encontrar no PMB e no General Heleno entusiasmados defensores dessas bandeiras conservadoras.

Para o PMB as investigações conduzidas pelas Comissões da Verdade, em torno dos crimes cometidos no Regime Militar, não passam de puro revanchismo. Claro, o General Heleno já se manifestou contrário à revisão da Lei da Anistia. O fato é que os militares têm, sim, direito a terem e manifestarem suas opiniões, não importa quais, afinal vivemos em uma democracia, frágil, mas uma democracia. A questão é: os militares pertencem a um poder coercitivo. O argumento deles é a força. Poderiam eles se envolver nos assuntos dos poderes constituídos que usam o voto para alicerçar seus argumentos? Quando aqueles que seguram o fuzil passam a querer segurar, também, a urna eleitoral é sinal que a democracia está cedendo espaço para outro tipo de sistema político.

Você tem algo a dizer sobre essa COLUNA ou quer sugerir uma pauta? gilbergues@gmail.com

AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

Nenhum comentário: