terça-feira, 6 de maio de 2014

O RETORNO DAQUELE QUE NUNCA FOI.


Em 1950, Getúlio Vargas era candidato a presidente da República, depois de ter sido chefe supremo da ditadura do Estado Novo. Havia uma euforia pelo Brasil afora com a clara possibilidade de Vargas retornar ao Palácio do Catete, dessa vez eleito pelo povo. O mote da campanha de Vargas era o fato dele retornar ao poder. Haroldo Lobo compôs o jingle da campanha, na verdade uma marchinha de carnaval, que dizia: “Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar / O sorriso do velhinho, faz a gente trabalhar”. Dizem que Vargas detestou a música, que ficou famosa pela interpretação de Francisco Alves, o “Rei da Voz”. Getúlio não teria gostado de ser chamado de velhinho. Mas, a marchinha caiu nas graças do povo, ganhou as ruas. Vargas ficou sendo chamado de velho e criaram até o carinhoso apelido de “seu gegê”. A metáfora funcionava bem. Colocar o retrato oficial de Vargas de volta à parede, aquele que o governante está com a faixa presidencial, significava o seu retorno ao poder.

Qual foi minha surpresa, há uns dias atrás, quando vi essa história de “colocar o retrato outra vez” como uma referência ao tal movimento “volta Lula” que petistas, que são “lulistas” de carteirinha, além de alguns aliados, voltaram a falar com veemência. É que as pesquisas eleitorais não estam trazendo boas notícias para Dilma e seu projeto de reeleição. Até meados de fevereiro havia quem apostasse alto que a eleição presidencial terminaria no 1º turno com a recondução de Dilma ao Palácio do Planalto. Mas, com as denuncias sobre o assalto organizado que se montou sobre a Petrobrás e com algum crescimento que a oposição vem tendo, as luzes da preocupação se acenderam nas hostes situacionistas e aquela história do “volta Lula” veio à tona.

Não tem jeito, o instinto de sobrevivência dos políticos fala sempre, sempre mesmo, mais alto. Ao menor sinal de perda do controle da situação, os governistas já lançaram mão do plano B, ou seria o plano A+? É que ficou claro, quando Lula escolheu Dilma para substituí-lo, que se ela não fizesse um bom governo ele anteciparia seu retorno à presidência. O Plano sempre foi Dilma cumprir dois mandatos, para só então Lula retornar, também para mais dois mandato. O que se sabe é que Lula só quer retornar ao governo em 2019 para que possa estar ocupando a presidência em 2022 quando iremos comemorar os 200 anos da emancipação política ou Independência do Brasil como se prefere.

Obviamente, que para que tudo isso acontece é preciso combinar com os russos, além de paulistas e mineiros. O fato é que Lula só anteciparia seu retorno no caso das coisas desandarem. A questão é: desandou? Os petistas têm motivos para se desesperarem? Já está na hora de lançar o plano A+? I.e., Dilma deveria desistir da reeleição e ceder sua vaga à Lula? Em que peses a crise da Petrobrás e o pífio crescimento que estamos experimentando, teria o governo perdido o controle da situação? O “Bolsa Família” teria deixado de ser o carro chefe eleitoral do governo? Parece, então, precipitado querer colocar o retrato do velho, digo do Lula, de volta a parede. As condições que garantem a permanência do PT no poder são as mesmas tanto para Dilma quanto para Lula.

Mas, essa não é a opinião de 20 deputados do Partido Republicano que assinaram um documento pedindo que Lula seja candidato a presidente da República no lugar de Dilma. Também não é o que pensa parte do Diretório Nacional do PT. Foi aí que o líder do PR na Câmara Federal, Bernardo Santana, pendurou em seu gabinete aquela foto oficial de quando Lula assumiu o governo ainda em 2003. Ele chamou a imprensa para documentar o fato cercado pelos seus pares. O deputado Santana tentou criar um fato, uma situação que, comparada a campanha de Getúlio, faria o movimento “volta Lula” ganhar as ruas. Mas, tudo não passou de um factoide, até porque Lula não pode voltar, já que ele nunca foi para lugar algum.


Lula nunca deixou de influenciar, eu diria mesmo de comandar, os rumos da administração de Dilma. Afinal, a quem é que Dilma recorre sempre que lhe pesa às costas o pesado fardo de ser presidente da República Federativa do Brasil? Lula não pode retornar de um lugar para onde ele nunca foi. Vargas deixou o governo federal em 1945 e se recolheu a sua fazendo no Rio Grande do Sul. De lá saiu, em 1949, para fazer a campanha eleitoral que o levou de volta à presidência. Lula esteve e está sempre por perto. É ele quem dá sempre a última palavra. E os caros ouvintes podem acreditar que essa última palavra não é “sim, senhora”. Pelo contrário, a última palavra lulista é aquela que aponta o caminho a seguir.

Vejam que Dilma queria mandar o PMDB para aquele lugar bem distante que, dizem, não é dos melhores para se permanecer. Mas, foi Lula que disse que ela não podia fazer isso. Foi Lula quem trabalhou para acalmar os ânimos, pois foi ele quem decidiu que a aliança PT/PMDB irá continuar. O fato é que o tal “volta Lula” é o medo manifesto dos petistas e aliados terem que deixar o governo. O “volta Lula” cresce se Dilma continuar a cair nas pesquisas. Do contrário, o “volta Lula” não vai render nem marchinha de carnaval.

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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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