segunda-feira, 5 de maio de 2014

YES, NÓS TEMOS BANANAS!


Eu li em algum lugar, pode ter sido numa rede social ou no Google – o santo oráculo de nossos dias – uma frase que tomei como conselho. Dizia ela que (SIC) “nunca discuta com um idiota, pois ele lhe fará descer ao seu nível e ganhará por ter mais experiência". Eu não sei quem é o autor dessa pérola, mas gostaria de conhecê-lo para lhe parabenizar, pois ela termina por resumir o que de fato nos tornamos quando entramos em discussões sem sentido, com pessoas que não sabem o que dizem. Já dizia meu frasista predileto, Millôr Fernandes: "ignorar é a resposta possível para a ignorância”. Mas, porque estou citando essas frases? Será que me meti em alguma discussão com algum perito em dizer nada? Não, pelo menos não nos últimos dias.

Essas frases me vieram à mente quando vi o lateral-direito do Barcelona e da Seleção Brasileira de Futebol, Daniel Alves, comer a banana que um torcedor idiota e racista do Villarreal lhe atirou aos pés. A cena é antológica, não pelo ato racista em si, mas pela resposta que Daniel Alves deu. Literalmente, ele preferiu não discutir com o idiota, pois perderia feio a discussão. Daniel Alves foi de uma inteligência suprema ao ignorar o ato ignorante. O fato é que Daniel Alves se preparava para bater o escanteio quando lhe atiraram aquela banana próximo a seus pés. Espirituosamente, como é próprio do jogador brasileiro, ele pegou a fruta, retirou sua casca e a colocou de uma vez só na boca.

Ato contínuo, ele atirou a casca no chão, limpou as mãos em seu calção, demonstrando desdém, e, ainda mastigando a banana, bateu o escanteio. O melhor foi que o cruzamento de Daniel Alves redundou em um gol, i.e., foi o gol da banana. Essa foi a melhor resposta que já vi aos atos de racismo que tanto vemos acontecer no futebol europeu, mas não só nele, pois temos visto essas bananadas racistas por aqui mesmo. Foi o caso das agressões sofridas pelo jogador Tinga do Cruzeiro. E, por favor, não me digam que estes são casos isolados. Pois, rapidamente posso lembrar as agressões sofridas pelo ex-lateral-esquerdo da seleção Roberto Carlos ou as do atacante italiano Mario Balotelli. Para ficar em apenas casos famosos.

Foi estarrecedor ver, pela TV, um pai ensinado o filho a imitar um macaco enquanto Tinga se dirigia para bater uma falta. Pior mesmo, só a declaração do secretário-geral da Conmebol, José Luis Meiszner, sobre as agressões racistas que Tinga sofreu. Disse ele que “um moreno peruano, imitando um macaco para um brasileiro um pouco mais escuro do que ele não é discriminação racial. É sim uma provocação mal-educada”. Pasmem, o cartola idiota não viu racismo alguma no ato. Apesar de que, sua frase exala o mau cheiro desse racismo ancestral que muitos trazem consigo. Pior, ele ainda disse que nós, sul-americanos, não somos racistas, somos apenas mal-educados. Ainda bem, pois se fôssemos racistas, faríamos o quê? Daríamos chicotadas nos Danieis Alves, Tingas e Pelés que jogam futebol?



Aliás, por falar em Pelé, o “rei do futebol” resolveu dar seu nobre pronunciamento sobre a questão. Mas, como é comum, Pelé perdeu outra ótima oportunidade de ficar quieto. Eu não sei por que é que nossa majestade não se restringe a falar apenas em futebol. Na verdade, quem falou foi o Edson Arantes do Nascimento, pois Pelé é só um personagem que vive acima do bem e do mal. Disse o cidadão Edson que não viu nada de mais no caso da banana atirada sobre Daniel Alves. Ele disse, ainda, que: “racismo não é no futebol, tem em todos os setores da sociedade. O que não podemos é deixar uma coisa tão banal, de um carinha que jogou uma banana, e fazer do limão uma limonada”.

Mas, e com todo desrespeito possível ao Rei-sol do futebol, eu vou sim fazer da banana uma bananada, pois não é possível ver isso e simplesmente calar. Há quanto tempo europeus, brancos, de almas impuras, achincalham jogadores negros e nada acontece? O fato é que ficamos horrorizados com a banana atirada aos pés de Daniel Alves e felizes da vida pela resposta dada. Mas, nós, brasileiros, somos tão racistas quanto os europeus. A diferença é que nós disfarçamos mais e melhor nossos preconceitos. Vi uma pesquisa do Datafolha que mostrava que 82% dos brasileiros diziam não serem racistas. A mesma pesquisa descobriu que 81% dos brasileiros não gostariam de ter como vizinhos, num condomínio de Classe A, uma família de pessoas negras.

Eu lembrei aquela marchinha de carnaval, mais racista impossível, que tão bem nos define: “O teu cabelo não nega, mulata, porque és mulata na cor / Mas como a cor não pega, mulata, eu quero o teu amor”. Assim somos nós, aceitamos viver com quem é diferente, desde que o que nos incomoda não seja contagioso. Por fim, a agressão contra Daniel Alves não deve ficar por isso mesmo. Mas, nada desse negócio de obrigar as seleções que jogarão a Copa da FIFA, aqui no Brasil, de entrarem em campo com faixas contra o racismo, pois, como se percebe, isso não resolve. Eu sugiro que cada um dos jogadores, das seleções que aqui jogarão, receba, ao entrar em campo, uma grandiosa e rotunda banana. Enquanto isso a torcida pode cantar, se a FIFA não proibir: “Yes, nós temos banana, banana prá dar e vender....”.

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