Se considerarmos que votar é o ato pelo qual se contrata a representação
política, esquecer o nome daquele que se ajudou a eleger é muito ruim. Dá para
esquecer o nome da pessoa com quem se contratou algo? Imagine assinar um
contrato de locação de um imóvel e esquecer o nome do locatário? É isso que
acontece quando o cidadão-eleitor contrata alguém para representá-lo junto ao
estado. Não é bom esquecer o nome do cidadão-representante.
O fato é que é comum as pessoas esquecerem
em quem voltaram. Em geral, justificam que “político é tudo igual, que é melhor
esquecer mesmo”. Já ouvi que são tantas eleições e que temos que votar em
tantos candidatos que termina sendo normal o esquecimento. Mas, eu não vejo o
esquecimento como fruto da apatia política ou mesmo por uma atitude
irresponsável do eleitor. Chego mesmo a desconfiar dessas justificativas dadas.
O esquecimento se dá pelo fato das pessoas tratarem a política como algo
distante delas. A maioria não se vê fazendo parte do mundo onde as decisões são
tomadas.
É como se o eleitor escolhesse os
que vão entrar num mundo proibido para ele mesmo. Como ele pode escolher quem
vai entrar, se conforma em ficar de fora. O esquecimento é fruto de uma
perversão de nosso sistema político que consagra o ato da escolha dos
representantes como mais importante.
Acostumamo-nos a participar,
animadamente diga-se de passagem, das campanhas eleitorais e do processo mesmo
de escolha, o ato da votação. O problema é que não participamos, ou porque não
temos hábito ou porque não gostamos do processo seguinte a eleição. Que é
quando os representantes tomam posse em seus cargos e vão trabalhar
teoricamente em nosso nome para decidir coisas que dizem respeito a nós mesmos.
Esquecemos rapidamente em quem votamos porque desconhecemos o que fazer para
acompanhar a atuação do nosso representante.
É providencial para muitos políticos
que seus eleitorais se esqueçam mesmo que votaram neles. Assim, ficam livres
para atuarem do jeito que bem quiserem. Imagine que Demóstenes Torres conta
agora com o esquecimento de seus eleitores, para que possa no futuro voltar a
pedir o voto deles. Se o eleitor restringe sua participação no sistema
democrático ao ato de votar está sim assinando um enorme cheque em branco para
o político que elegeu.
Mas, se ele acompanha o
comportamento político do eleito, fiscalizando seus atos e até denunciando
eventuais práticas irregulares a coisa muda de figura. E que não se diga que
não há como fazer isso. Se foi possível demandar ao legislativo a lei da ficha
limpa, dá para usar os mecanismos de controle disponíveis. Vivemos na era da
informação.