Sábado, a equipe de
jornalismo da Campina FM promoveu, com competência, diga-se de passagem, um
debate entre os cinco candidatos a reitor da UEPB. Um debate importante,
considerando que a eleição da UEPB tem um universo de 20 mil eleitores, entre
professores, alunos e funcionários. Para que o ouvinte
tenha ideia da grandiosidade desse processo, a UEPB tem mais eleitores do que
algo em torno de 65% dos municípios paraibanos. A eleição da UEPB é estadual. Passa
por Campina Grande, Lagoa Seca, Guarabira, Catolé do Rocha, João Pessoa,
Monteiro, Patos e Araruna. Diria que é uma mini-eleição para governador. Algumas pessoas me
ligaram ou mandaram e-mails para perguntar: “quem ganhou o debate?”. Eu disse a
todos que não houve nem um grande vencedor e nem perdedores. E esse foi o
problema do debate. Os candidatos, claro, não queriam perder. Mas, não se
mostraram dispostos a vencer. Pareciam se contentar com um empate com gols. E
que não se pense que eu torci pela baixaria desenfreada. Esperei um debate
acalorado, com os candidatos se enfrentando no campo das diferentes ideias que,
suponho, eles tenham. Temos cinco candidatos.
O Prof° Rangel Jr., é o único candidato da situação, sendo apoiado pela reitora
Marlene Alves e toda equipe da administração central. Os outros são, ou seriam,
oposicionistas. Candidataram-se por discordarem da administração de Marlene e
por terem diferentes projetos de gestão. Mas, os quatro candidatos teriam que
deixar claro por que são oposição. A melhor forma de fazer isso seria
inquirindo diretamente à candidatura situacionista. Conversávamos na
véspera do debate, aqui mesmo nos estúdios da Campina FM, e concordávamos que
seria um debate de quatro contra um. Mas, não foi isso que aconteceu. Não é que
as questões não foram feitas, mas elas só aconteciam de forma pontual. Apenas
em alguns poucos momentos houve um confronto direto de ideias. Rangel Jr., talvez
confiante que esteja na vitória, não entrou em enfrentamentos. Utilizou a velha
tática dos debates de bater preventivamente. Quando o Prof° Andrade ensaiou
criticá-lo de forma mais contundente, Rangel Jr., levantou algo que Andrade
teve dificuldades de responder. Andrade pareceu recuar. Nos questionamentos
mais duros, a Profª Mônica se destacou. Mas, a impressão é que ela não soube
definir bem seus alvos, nem organizar as informações que tinha. Ela propiciou
um momento onde me pareceu que a polêmica ia rolar solta. Foi quando perguntou
ao Prof° Andrade porque ele ficou contra ao PCCR docente, uma antiga aspiração
dos professores da UEPB. Eu esperava que a Profª
Eliana Maia inquirisse Rangel Jr., duramente. Mas ela preferiu colocar algumas
questões pontuais sobre a gestão Marlene Alves. Em certos momentos Eliana e Rangel
Jr., promoveram um bate-bola. Nada a estranhar, pois eles estavam juntos, na
administração Marlene, até pouco tempo atrás. Pelo conhecimento que Eliana tem
da UEPB, poderia ter contribuído mais na parte pedagógica do debate, levando os
outros candidatos a se exporem mais. Estranha foi a
participação do Profº Agassiz. Centrou-se numa política de relações
internacionais para a UEPB. Parece esperar que o futuro reitor crie uma
pró-reitoria nessa área. Foi de estranhar que os candidatos de oposição não
aproveitassem a oportunidade para questionarem a forma como a atual gestão da
UEPB lidou e lida com toda a problemática da autonomia. É a oposição que deve
levantar as questões polêmicas. Ela ganha o debate quando leva a situação às
cordas. Corrijam-me se eu estiver errado, mas isso não aconteceu. Quem sabe num
próximo debate? É surpreendente que não tenham perguntado ao Profº Andrade se a
candidatura dele é uma articulação do governador Ricardo Coutinho, já que seu
vice era titular da Secretaria de Recursos Hídricos até dias atrás. O debate foi bom. Contribuiu
para que saibamos quem é quem e o que deseja. Mas, ficou aquele gostinho de
quero mais. E faltou o livre exercício da polêmica. Assim, ninguém ganhou,
ninguém perdeu. Houve um empate com alguns gols. Mais eu ainda torço para
vê-los mais ativos, mais polêmicos, menos passivos.
Professor do Curso de História da Univ. Estadual da Paraíba desde 1993. Mestre em Ciência Política-UFPE e Doutorando em Ciência da Informação-UFPB. Especialista em História do Brasil, com ênfase na Era Vargas e na Ditadura Militar, na democracia e no autoritarismo. Autor dos livros "Heróis de uma revolução anunciada ou aventureiros de um tempo perdido" (2015) e “Do que ainda posso falar e outros ensaios - Ou quanto de verdade ainda se pode aceitar” (2024), ambos lançados pela Editora da UEPB.