Hoje eu vou tratar da eleição na cidade de
Juazeirinho. Os fatos me foram relatados por uma moradora de lá, ouvinte do
Jornal Integração e aluna da UEPB. Em Juazeirinho a normalidade democrática foi
algo que passou longe.
O ano começou com a população de Juazeirinho
especulando sobre se o ex-prefeito Fred Marinheiro poderia se candidatar a prefeito
representando a oposição, já que ele tinha sido declarado “ficha suja” pelo TRE
paraibano. Fred manteve sua postulação, foi à convenção de seu partido e teve sua
candidatura homologada. Interessa notar o quão estranho é um político,
declaradamente “ficha suja”, poder participar, na condição de candidato, dos
procedimentos eleitorais.
Outro dado interessante é que o vice na chapa oposicionista
de Fred Marinheiro era o atual vice-prefeito de Juazeirinho, Jonilton
Fernandes, que cortou relações com o prefeito Bevilacqua Matias, que foi
candidato à reeleição. É um tanto quanto estranha a situação de Jonilton que
acende a mesma vela para dois senhores. Ele desempenha a função de
vice-prefeito constitucional de Juazeirinho, mas ao mesmo tempo se candidatou
ao mesmo cargo na chapa da oposição.
Mesmo sabendo que poderia ter sua candidatura
impugnada a qualquer momento, Fred Marinheiro foi em frente com sua campanha,
como se estivesse desafiando a lei e a justiça eleitoral. Ou, o que é pior,
como se estivesse fazendo pouco caso das instituições responsáveis pelo
processo eleitoral. De fato, o TRE impugnou a candidatura de Fred e ele
recorreu ao TSE. Ou seja, sua campanha acontecia nas ruas e nos tribunais ao
mesmo tempo.
Como no caso de Esperança, o TRE indicava que impugnaria
a candidatura de Fred Marinheiro, pois a justiça eleitoral não foi conivente
com candidatos ficha suja nessas eleições. E, diga-se de passagem, torço para
que continue assim.
Com as especulações e a insegurança reinante, Fred
renunciou a sua candidatura no Sábado, 06 de outubro, véspera da eleição do 1º
turno. Ou seja, realizou toda a campanha e esperou até o último momento para
fazer o que seria mais do que o correto se tivesse sido feito bem antes. O fato
é que muitos políticos viram nisso uma estratégia para ocuparem um espaço que
só poderia ser dado àqueles que, de fato, não tivessem nenhum impedimento
legal. O fato é que a lentidão da justiça eleitoral dá margem para esse tipo de
atitude.
Políticos estam usando essa estratégia como
subterfúgio. Fazem a campanha eleitoral, sabendo que não poderão concorrer. Na ultíssima
hora retiram a candidatura e colocam alguém que poderá não ser alcançado pelo
braço da lei. Fred Marinheiro renunciou e colocou sua esposa como candidata em
seu lugar. No dia da eleição, um carro de som anunciou o dia inteiro (pela
cidade) que Fred não era mais candidato e que sua esposa, Carleusa Castro, estava
ocupando seu lugar.
Carleusa virou candidata a menos de 24 horas da eleição.
Ela não fez campanha, seu nome não foi divulgado, e o nome do seu marido, Fred
Marinheiro, não pode ser retirado das urnas. Isso causou confusão, pois muitos eleitores
não ficaram sabendo da troca. É estranha essa situação. Como é que alguém que não passou por nenhuma
das exigências legais que a Justiça eleitoral impõe aos políticos pode vir a se
candidatar, literalmente, da noite para o dia? O fato é que a esposa de Fred
Marinheiro foi eleita.
Mas, como ela não passou
pelo pente fino da justiça eleitoral, estaria ameaçada de não ser diplomada,
portanto não poderia tomar posse. É que Carleuza Castro responderia a um
processo por formação de quadrilha no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba.
Os candidatos derrotados na eleição para prefeito
de Juazeirinho, Bevilacqua Matias e Ernandes Gouveia, dizem que vão tentar impedir a
diplomação de Carleusa por ela estar sendo, ainda, processada por improbidade
administrativa.
Carleusa Castro venceu as eleições para prefeita de
Juazeirinho com 5.114 votos. Bevilacqua, o atual prefeito, teve 4.802 sufrágios.
O radialista, Ernandes Gouveia, ficou em terceiro lugar com 248 votos. Mas,
mesmo eleita, Carleuza pode não assumir. É
que o registro de sua candidatura foi indeferido pela Justiça e ela, agora, aguarda
julgamento do mérito da questão. A instabilidade institucional é das maiores. O
povo de Juazeirinho não sabe quem tomará posse ou mesmo se terá que ir
novamente às urnas. É natural, então, que não queira ou não saiba valorizar a
democracia.
Mas, e com tudo isso, só se pensa, pasmem, em Juazeirinho
entrar para o Livro do Recordes. É que dos onze vereadores eleitos, seis são
mulheres. Negocia-se para que dois vereadores tornem-se secretários do novo
governo para abrir vaga, na Câmara Municipal, para duas suplentes assumirem. Assim,
Juazeirinho passaria a ter oito vereadoras e seria a cidade a ter mais mulheres
no parlamento, entrando para o livro dos Recordes. Ótimo, isso daria um bom marketing
para a cidade, mas impediria que fatos como estes voltassem a acontecer?
Com toda essa história pouco republicana,
Juazeirinho corre o risco de obter outro recorde – a de ser uma das cidades com
mais atividades pouco republicanas e onde a festa da democracia é mais animada.