Na semana passada eu tratei das transições de
governo – que é quando se muda o chefe do poder executivo através de eleições.
Eu falei que não estamos, ainda, acostumados a processar as transições de
maneira calma, ordeira e, fundamentalmente, republicana. Eu disse que os
processos de transição são dificultados por uma cultura política pouco
republicana que faz com que partidos e atores políticos se apeguem às
estruturas de poder, bem como não queiram deixar os cargos que ocupam.
Eu ainda disse que tem um tipo de
gestor que aproveita a transição para encobrir atos (que a nova gestão pode
descobrir e até divulgar) por ter se saído derrotado das urnas, seja porque não
foi reeleito, seja porque o candidato que apoiou não logrou êxito. Os mais
apegados ao cargo e movidos por sentimentos outros podem mesmo querer impedir
que a transição aconteça. Mas, este não parece ser o caso em Campina Grande. Os
fatos parecem demonstrar outra realidade não menos trágica.
Ao contrário de um apego desmedido ao poder e ao
cargo executivo, o que vemos é o descaso para com a gestão da coisa pública.
Passado o processo eleitoral o prefeito Veneziano Vital parece ter esquecido
que seu mandato ainda não terminou. Os fatos que vemos na imprensa, e que
verificamos nas ruas, parecem nos querer convencer que nosso prefeito e seu
secretariado desconhecem que o prefeito eleito Romero Rodrigues só tomara posse
às 17 horas do dia 01 de janeiro de 2013.
Sempre se poderá dizer que não é prudente o atual
prefeito tomar decisões que possam impactar na gestão do futuro prefeito. Se
dirá, também, que a transição já começou, pois Veneziano e Romero já nomearam
os que vão compor a Comissão de Transição. Esta Comissão será formada por quatro pessoas nomeadas pelo atual prefeito
e por mais três indicadas pelo próximo que, inclusive, solicitou que o Tribunal
de Contas do Estado, o Ministério Público Estadual e a Câmara Municipal
monitorem o processo de transição.
Mas, o que quero tratar
não é da transição em si, mas do que tem acontecido que influencia não só a
transição como a futura gestão municipal e, por que não dizer, a própria
sociedade campinense.
A impressão que se tem é
que as pessoas responsáveis pela atual administração não querem mais exercer
suas funções por saberem que tem dia e hora marcados para deixarem seus cargos
e que não serão aproveitadas na próxima gestão. Sabem que nada podem
reivindicar do próximo prefeito já que a decisão das urnas foi que elas devem
deixar os cargos que ocupam. Esses sentimentos parecem gerar um comportamento
de descompromisso para com a gestão da coisa pública.
Aqueles que lutaram para
continuar nos cargos que hoje ocupam e/ou para não perderem o status de poder
que possuem parecem ter abandonado suas funções ao verem o resultado
desfavorável vindo das urnas. Parece que decidiram deixar para que seus
substitutos resolvam os problemas que se multiplicam pela cidade afora.
Andando, nos últimos quatro dias, por bairros e
ruas de nossa cidade constatei que a coleta de lixo não está sendo feita. Vi,
por exemplo, na principal rua do bairro de José Pinheiro, a Campos Sales, sacos
de lixo amontoados pelas calçadas. Vi muito lixo, entulhos e detritos
espalhados pelas ruas, calçadas e terrenos. Sábado, no final da tarde, a Praça
da Bandeira, ponto mais do que central de Campina Grande, estava em “petição de
miséria” com muito lixo e um mau cheiro terrível.
Pudera, os prestadores de Serviço da Limpeza Urbana
estam com seus salários atrasados, inclusive fizeram, no final da semana
passada, manifestações reivindicando o recebimento de seus vencimentos em
atraso. Constatei a enorme quantidade de buracos, de todas
as profundidades e diâmetros, que democraticamente se espalham pela cidade. Não
importa onde você more ou em quem tenha votado, na sua rua provavelmente haverá
um buraco para que você chame de seu.
O Sindicato dos Trabalhadores Públicos Municipais do
Agreste da Borborema, o SINTAB, fez graves denúncias. Napoleão Maracajá, seu
presidente, além do vereador Tovar Correia, disseram que a prefeitura não tem
honrado com seus compromissos financeiros. Eles afirmaram que a prefeitura
deixou de repassar, em setembro e outubro, os valores necessários para que o
Instituto de Previdência dos Servidores Municipais, o IPSEM, pudesse pagar os vencimentos
de aposentados e pensionistas da prefeitura.
Ainda não se esclareceu a denúncia de que a
prefeitura não estaria repassando aos bancos os valores dos empréstimos feitos
em consignação por funcionários públicos, que estariam com seus nomes negativados
no Serviço de Proteção ao Crédito. Falta
saber por que a Guarda Municipal ficou, literalmente, a pés. E porque, ainda
segundo o SINTAB, apenas os servidores da educação estam com seus salários em
dia. Deve-se mesmo saber por que dizem que a prefeitura não tem pagado a seus
fornecedores.
Claro, espera-se que os devidos esclarecimentos
sejam feitos a sociedade. Torço para que o que foi dito aqui não esteja
acontecendo, do contrário à mera impressão de que Campina Grande está
desgovernada, sem governo, passará a ser uma triste constatação.