Você sabe quem é
Paulo Ricardo Gomes da Silva? Já ouviu falar em Fabiane Maria de Jesus? E Altenor Faria e Israel Moraes? Por
acaso você já viu estes nome em algum lugar? Não? Pudera, essas pessoas não
possuem rostos, muito menos cidadania. Fabiane é aquela moça que foi linchada
em São Paulo, no Guarujá, no sábado. Ela foi confundida com uma sequestradora,
que estaria capturando crianças para rituais de magia negra. Ele teve múltiplos
traumatismos e faleceu na segunda-feira. Paulo Ricardo assistia a uma partida
de futebol, em Recife, e morreu após ser atingido por um vaso sanitário.
Altenor invadiu uma casa, foi pego, atacado a socos e pontapés e depois
arrastado pelas ruas de Goiás até que a policia o levasse ao hospital.
Israel roubou uma bolsa e fugiu. Três motociclistas o perseguiram e
deram-lhe uma surra. Talvez você possa dizer que Israel e Altenor, ao contrário
de Fabiane e Paulo Ricardo, mereceram o linchamento, pois são dois marginais.
Será mesmo? Essa nova onda de barbáries sociais começou em fevereiro quando um
adolescente, acusado de assalto, foi agredido a pauladas e acorrentado, nu, a
um poste no Rio de Janeiro. A partir dai linchamentos e violências de toda
sorte não param de acontecer. Pior, é a repercussão deles e o fato de não
faltarem vídeos, pelas redes sociais, onde linchadores agem como se fossem
justiceiros para acima e além do Estado. O vídeo com o espancamento de Fabiane
é um show de horrores de causar náuseas.
Raquel Sheherazade e José Luiz Datena devem estar realizados, pois o que
tanto defenderam está ocorrendo. Sheherazade defendeu os agressores do jovem
marginal carioca, dizendo que a “atitude dos vingadores é compreensível”. Disse
ela que: “O contra-ataque aos bandidos é legítima defesa coletiva. Aos
defensores dos direitos humanos que se apiedaram do marginalzinho preso no
poste, lanço uma campanha: faça um favor ao Brasil, adote um bandido”. Pelo
Brasil afora brasileiros estam seguindo os conselhos da raivosa jornalista
paraibana. Estam “adotando” bandidos para linchá-los nas ruas como se vivessem
nos tempos da completa barbárie, quando ainda não havíamos criado o Estado.
Mas, afinal, o que está acontecendo conosco? Viramos de vez um bando de
trogloditas sem nenhuma noção de civilidade? Pessoas comuns, inocentes como
Fabiane e Paulo Ricardo, estam sendo linchadas, apedrejadas, atingidas por
vasos sanitários! Fabiane era casada, tinha duas filhas, uma delas tem um ano
de idade. Ela foi violentamente retirada de sua casa por uma horda ensandecida
que pensa saber o que significa a palavra JUSTIÇA. Os dois criminosos foram
espancados em nome de uma tosca noção de “se fazer justiça com as próprias
mãos”. E por favor, não me falem na tal ausência do Estado. Sim, ele existe!
Nós é que temos que demanda-lo, eu diria exigir, para que cumpra suas funções.
Interessa ver que essa gente estúpida justifica seus atos violentos pelo
fato do Estado não prover bem a segurança do cidadão. Porque, então, não se
reúnem e vão recolher o lixo que fica pelas ruas já que o Estado não faz a
coleta como deveria? Porque não vão reformar escolas públicas que estam caindo
aos pedaços pela tal ausência do Estado? Porque não formam brigadas e vão tapar
os buracos que as prefeituras vão deixando pelas ruas devido a suas incompetentes
administrações? Porque só se lembram de fazer às vezes do Estado para exercitar
uma ancestral violência? O sociólogo da USP, José de Souza Martins, estuda o
linchamento há 20 anos. Ele diz que “estamos ficando progressivamente
descontrolados”.
Martins diz que “o linchamento é quase um ritual, com regras claras, onde
os envolvidos sabem do significado do que estão fazendo”. Eles sabem da
vulnerabilidade social daqueles que são atacados. Ariadne Natal, do Núcleo de
Estudos da Violência da USP, autora de uma tese sobre casos de justiçamentos
sumários, diz que linchamentos, como o de Fabiane, não podem “ser vistos
meramente como uma ação irracional”. Ariadne diz que “acusados do linchamento
de Fabiane dizem ter certeza de que ela era o mal encarnado. Que era preciso
linchá-la para expiar o seu mal”. Eles estam erradíssimos, mas não estão agindo
irracionalmente. Existe lógica no ato deles.
Um dos acusados, já preso, pela morte de Fabiane disse: "Tenho três
filhos e achei que o boato era verdadeiro". Eu também tenho três filhos,
mas não acho que sair por aí linchando quem quer que seja vai oferecer a eles
algum tipo de segurança. O uso da violência, como solução para conflitos, é
prática comum nossa. O Levantamento Nacional de Álcool e Drogas , feito na Universidade Federal
de São Paulo, concluiu que um em cada cinco brasileiros já sofreu agressão
física durante a infância. Se formos olhar a história de vida desses
linchadores encontraremos relatos da força física substituindo o diálogo, da
violência sendo usada para resolver questões familiares. São pessoas que foram
criadas sob o signo da repressão, elas só sabem resolver problemas usando força
igual ou superior a que foi nelas aplicada.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
2 comentários:
Concordo plenamente com você, nobre GILBERGUES,sempre acompanho seus comentários e se possível, gostaria de sua permissão p/trabalhar alguns dos seus textos em sala de aula, grande abraço e parabéns.
Obrigado Gilbergues, muito agradecido pela sua permissão em trabalhar seus textos em sala de aula, como pedi a cima, grato também pela sua honrosa menção desse meu pedido na introdução da sua coluna no JI de hoje,que você é um dos maiores intelectuais do nosso estado eu já sabia, mas da sua generosidade e da sua gentileza para com seus ouvintes,agora tenho certeza,fique sempre na paz e obrigado por tonar o nosso povo mais esclarecido e consciente através do seu conhecimento que nos inspira.
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