Hoje eu não vou
fazer o POLITICANDO, eu vou fazer um “HISTORIANDO”. É que é sempre bom levantar
informações históricas, sobre fatos como o da Proclamação da República, para
que agente possa, então, pensar o nosso presente. No sábado tivemos o feriado
da proclamação. Porque lembrar algo que não representou quase nada para as
pessoas que viviam à época dos acontecimentos? Se não foi importante para a
sociedade há 125 anos, o que dirá nos dias de hoje. Quando a República foi proclamada,
em 1889, faltavam apenas 11 anos para o século XX. Vários países da América
Latina já eram republicanos desde o começo do século XIX. O Chile, por exemplo,
tornou-se República em 1823.
A imagem clássica, oficial, da Proclamação é um óleo sobre tela
pintado por Benedito Calixto em 1893. Nele se vê apenas homens fardados, alguns
montados em cavalos, muitos canhões e um quartel ao fundo. A Proclamação foi
mesmo um golpe! Essa gente estulta que fica por aí, pelas ruas, pedindo golpe
militar para depor presidente eleito se acha muito moderna e evoluída, mas o
que eles estam fazendo e tão arcaico e reacionário como os próprios golpes de
estado que já tivemos. A proclamação da República foi isso mesmo. Um grupo de
pessoas, cansadas de não terem vez no sistema político que vigorava, foi bater
às portas dos quarteis para pedir que os militares intervissem na ordem
política e social da época.
A República foi pronunciada publica e solenemente por um grupo de
militares e civis. Na verdade, ela foi um ato de força unilateral que passou ao
largo da sociedade. A República não foi fruto de um movimento social. Ela se
deu por manobras de gabinetes. Foi por isso que o jornal “Diário Popular”
trouxe, em 16/11/1889, um artigo de Aristides Lobo dizendo: “O povo assistiu
àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos
acreditaram que estava acontecendo uma parada militar”. O que influiu mesmo foi
à adesão do Exército a causa republicana. Devido aos desentendimentos de oficiais do Exército, com deputados e membros
do governo, as Forças Armadas foram deixando de ser monarquistas e aderindo ao
republicanismo.
No campo civil, desde 1870 os republicanos vinham se organizando
sob a liderança de Quintino Bocaiuva e Saldanha Marinho. Em 1873, o Partido
Republicano Paulista foi fundado pelos cafeicultores, mas apenas para
pressionar o Imperador. Durante o século XIX, o positivismo se tornou a
ideologia oficial do Exército. A aversão dos positivistas ao regime monarquista
e a convicção de que uma ditadura militar era a forma ideal de governo, para o
Brasil, foi o mote para a causa republicana. Sempre me vem à mente a certeza
positivista da Ordem e do Progresso quando vejo paulistanos pedindo golpe
militar. Os seguidores de Jair Bolsonaro estam com suas cabeças no século XIX,
acreditando que só uma ditadura militar nos salvará.
Durante o ano de 1889 era comum militares de alta patente irem a
imprensa criticar os políticos ou reclamar direitos. A chamada “questão militar”
começou em 1886 quando o Cel. Cunha Matos atacou o governo num artigo publicado
no Jornal A Imprensa. O Ministro da Guerra puniu Cunha Matos. Em 1887, o Cel.
Sena Madureira atacou o Senado Federal. Foi, também, punido. Ato contínuo, oficiais do Rio de Janeiro se manifestaram contra uma
lei que proibia militares de falarem sobre política. Em 1888, os militares lançaram
um documento afirmando a intenção de lutar pela honra da caserna e para que o governo
não interferisse nos assuntos dos quartéis. Com a abolição da escravidão, os militares viram a oportunidade de
fazerem mudanças.
Foi aí que o
tenente-coronel Benjamim Constant convenceu o Marechal Deodoro que era preciso
mudar o regime. Como ainda nos dias de hoje, o ideal positivista de construir
uma ditadura militar encantava corações e mentes. Deodoro foi convencido de
que uma simples mudança em nível ministerial não era solução para a crise
institucional reinante. Benjamim dizia que só um golpe militar resolveria a
situação humilhante em que a Coroa estava mergulhando o Exército. Deodoro
convenceu os setores militares de participarem do golpe republicano com o
argumento de que “... a coisa será apenas
contra os casacas”. Era assim que os militares chamavam os políticos.
Em 11/11/1889 Deodoro disse
que: “Não há mais o que esperar da monarquia. Benjamim e eu cuidaremos da ação
militar, Quintino cuida de todo o resto”. Por “todo o resto” entenda-se o pais e a organização de um sistema
político. O resultado dessa aventura golpista nos foi trágico, pois vivemos 36
anos sobre ditaduras no século XX, a fora os anos onde vestígios de democracia
coexistiram sob uma couraça de autoritarismo. Desde a Proclamação ainda não
tivemos mais de 35 anos contínuos de democracia sem que autoritarismos de todo
tipo solapem as instituições. Nossa jovial e festiva democracia eleitoral tem
muito que evoluir para se tornar verdadeiramente republicana.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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