sexta-feira, 28 de novembro de 2014

MISÉRIA É MISÉRIA EM QUALQUER CANTO

Em dezembro de 2012, a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, veio à Paraíba tentar nos convencer que a seca que enfrentávamos não era grave e muito menos séria. Foi uma visita desastrosa. A ministra tentou minimizar o sofrimento das populações nordestinas, atingidas pela seca. Como se isso fosse possível. Naquele momento, dizia ela: “Apesar desta ser uma das maiores secas dos últimos tempos, o povo não está passando fome”. Pior do que negar a realidade nua e crua que víamos foi afirmar que “o povo nordestino não está passando fome, graças às ações empreendidas pelo governo federal”. A ministra Campello parece mesmo sofrer de incontinência verbal.

Ao que parece ela não costuma elaborar seus discursos. Padece do pecado de querer falar de improviso, para mostrar desenvoltura intelectual. Pois, não é que agora, ela saiu-se com outra dessas pérolas na vã tentativa de encobrir a realidade? Na quarta-feira, a ministra participava de uma sessão da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio da Câmara dos Deputados quando afirmou que o aumento da taxa de miseráveis no Brasil está dentro da margem de erro. Ela disse que em 2013 essa taxa foi de 3.6%. Este ano, teremos 4% dos brasileiros no nível da miséria social. Mas, isso não parece ser problema para a ministra. Ao embalar dados sociais, num recipiente economicista, ela reafirma sua insensibilidade social.

Para a ministra não temos com que nos preocupar, pois o aumento da taxa de miseráveis está dentro da margem de erro. Pior, foi ela dizer que isso não passa de uma flutuação dentro da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a Pnad do IBGE. Ela afirmou que a proporção dos que são extremamente pobres segue uma tendência de queda no país e que isso será comprovado no ano que vem, quando forem divulgados os resultados da Pnad/2014. Mas, de onde foi que a ministra Campello tirou isso? Onde foi que ela viu essa tendência de queda? Foi ela mesma que citou a tendência, baixa, diga-se de passagem, de crescimento. Foi à própria ministra que mostrou que houve um crescimento de quase 0.5% dos que são miseravelmente pobres.
É nisso que dá colocar uma economista para cuidar de uma questão social como o combate a fome. Essa frieza numérica, diante de um quadro de pobreza, ajuda em quê? Seria na manipulação dos dados para mascarar a realidade? Dizer que a margem de erro da Pnad é de 0.22%, para mais ou para menos, no cálculo do índice de miseráveis, é a mesma coisa do candidato que comemora estar em 2º lugar, dentro da margem de erro, mesmo que saiba que vai perder a eleição.

A ministra diz que a variação de 0.4%, entre 2013 e 2014, estaria absolutamente dentro da margem de erro e não representaria reversão na trajetória de queda da pobreza extrema. Será que com isso a ministra fica tranquila e até dorme bem? A tirar pela forma como a ministra transforma a tragédia nacional da fome, da miséria e da seca em dados frios, quantificáveis, chego a pensar que ela não tem a menor ideia do que acontece neste país que insiste em não erradicar a pobreza extrema. Como ministra do governo federal, a estratégia dela é a de não negar os problemas ao mesmo tempo em que tenta minimizá-los. 


Vejam que ela afirmou que: “Eu gostaria de defender que a pobreza e a pobreza extrema continuam numa tendência de queda”. Mais adiante ela disse: “Achamos que é uma flutuação estatística e flutuação é normal numa pesquisa amostral. Independente da altura da régua, há um comportamento de queda sistemático e permanente”.  O deputado Mendonça Filho (PE), presente à sessão, não se convenceu com a explicação de que a miséria continuaria em queda e pôs o dedo na ferida do governo. Disse ele: “a tese que a senhora apresenta, torturando os dados, foge à realidade”. O deputado lembrou um artifício usado pelos governos que é puxar pra baixo a linha oficial de miséria. Para o governo, está na extrema pobreza quem sobrevive com menos de R$ 77 mensais, daí aparecer um número bem pequeno de miseráveis.

Em 2012, a ministra disse que “as pessoas estão passando necessidade, estão sofrendo muito, mas a gente não vive a fome como viveu em outras situações”. O discurso dela é tautológico, repetitivo. Ela admite, para logo em seguida minimizar. A ministra diz que as pessoas têm necessidades, mas não passam fome. Diz que a miséria aumentou, mas que isso é uma questão de flutuação. O que ela não entende é que flutuação e margem de erro são nada perto da fome, da seca e da miséria. A ministra deveria ouvir aquela música do Titãs que diz: “Miséria é miséria em qualquer canto/ Riquezas são diferentes/ Miséria é miséria em qualquer canto/ Fracos, doentes, aflitos, carentes/ Riquezas são diferentes”.

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