Em dezembro de 2012, a ministra do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome, Tereza Campello, veio à Paraíba tentar nos convencer que a seca
que enfrentávamos não era grave e muito menos séria. Foi uma visita desastrosa.
A ministra tentou minimizar o sofrimento das populações nordestinas, atingidas
pela seca. Como se isso fosse possível. Naquele momento, dizia ela: “Apesar desta ser uma das maiores secas dos
últimos tempos, o povo não está passando fome”. Pior do que negar a
realidade nua e crua que víamos foi afirmar que “o povo nordestino não está passando fome, graças às ações empreendidas
pelo governo federal”. A ministra Campello parece mesmo sofrer de
incontinência verbal.
Ao que parece ela não costuma
elaborar seus discursos. Padece do pecado de querer falar de improviso, para
mostrar desenvoltura intelectual. Pois, não é que agora, ela saiu-se com outra
dessas pérolas na vã tentativa de encobrir a realidade? Na quarta-feira, a
ministra participava de uma sessão da Comissão de Desenvolvimento Econômico,
Indústria e Comércio da Câmara dos Deputados quando afirmou que o aumento da
taxa de miseráveis no Brasil está dentro da margem de erro. Ela disse que em
2013 essa taxa foi de 3.6%. Este ano, teremos 4% dos brasileiros no nível da
miséria social. Mas, isso não parece ser problema para a ministra. Ao embalar
dados sociais, num recipiente economicista, ela reafirma sua insensibilidade
social.

É nisso que dá colocar
uma economista para cuidar de uma questão social como o combate a fome. Essa
frieza numérica, diante de um quadro de pobreza, ajuda em quê? Seria na
manipulação dos dados para mascarar a realidade? Dizer que a margem de erro da
Pnad é de 0.22%, para mais ou para menos, no cálculo do índice de miseráveis, é
a mesma coisa do candidato que comemora estar em 2º lugar, dentro da margem de
erro, mesmo que saiba que vai perder a eleição.
A ministra diz que a
variação de 0.4%, entre 2013 e 2014, estaria absolutamente dentro da margem de
erro e não representaria reversão na trajetória de queda da pobreza extrema.
Será que com isso a ministra fica tranquila e até dorme bem? A tirar pela forma
como a ministra transforma a tragédia nacional da fome, da miséria e da seca em
dados frios, quantificáveis, chego a pensar que ela não tem a menor ideia do
que acontece neste país que insiste em não erradicar a pobreza extrema. Como
ministra do governo federal, a estratégia dela é a de não negar os problemas ao
mesmo tempo em que tenta minimizá-los.
Vejam que ela afirmou que: “Eu gostaria
de defender que a pobreza e a pobreza extrema continuam numa tendência de
queda”. Mais adiante ela
disse: “Achamos que é uma flutuação estatística e flutuação é normal numa
pesquisa amostral. Independente da altura da régua, há um comportamento de
queda sistemático e permanente”. O
deputado Mendonça Filho (PE), presente à sessão, não se convenceu com a
explicação de que a miséria continuaria em queda e pôs o dedo na ferida do
governo. Disse ele: “a tese que a senhora apresenta, torturando os dados, foge
à realidade”. O deputado lembrou um artifício usado pelos governos que é puxar
pra baixo a linha oficial de miséria. Para o governo, está na extrema pobreza
quem sobrevive com menos de R$ 77 mensais, daí aparecer um número bem pequeno
de miseráveis.

Em 2012, a ministra disse que “as pessoas estão passando necessidade,
estão sofrendo muito, mas a gente não vive a fome como viveu em outras
situações”. O discurso dela é tautológico, repetitivo. Ela admite, para logo em
seguida minimizar. A ministra diz que as pessoas têm necessidades, mas não
passam fome. Diz que a miséria aumentou, mas que isso é uma questão de
flutuação. O que ela não entende é que flutuação e margem de erro são nada
perto da fome, da seca e da miséria. A ministra deveria ouvir aquela música do
Titãs que diz: “Miséria é miséria em qualquer canto/ Riquezas são diferentes/
Miséria é miséria em qualquer canto/ Fracos, doentes, aflitos, carentes/
Riquezas são diferentes”.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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