No livro “O
futebol explica o Brasil” o jornalista e historiador Marcos Gutterman afirma
que “o futebol não é um mundo a parte, não
é uma espécie de Brasil paralelo, pelo contrário, ele é uma construção
histórica e social de nosso país”. O futebol é parte indissociável dos
desdobramentos da vida política e econômica brasileira. Gutterman afirma, no
que eu concordo, que se bem lido, bem entendido, o futebol consegue explicar o
Brasil. É que a relação entre futebol e política é de dependência mútua e de
reciprocidade. A obsessão em ter o “melhor futebol do mundo” foi sempre uma
demanda do nosso povo e da elite politica e econômica brasileira para que
pudesse se manter no poder.
O futebol foi o carro chefe de um projeto de afirmação nacional desde a
década de 30. A Copa do Mundo de 1950, no Brasil, prova isso. A Copa de 1970,
quando o Brasil foi tricampeão, era, para o governo militar, um sintoma de
nossas imensas possibilidades. Na Copa deste ano a ideia era essa. Muito se
sonhou com o Brasil hexa campeão para que reafirmássemos nosso orgulho, perante
o mundo, e para que projetos políticos fossem viabilizados. Mas, faltou
combinar com os russos, digo, com os alemães. O futebol foi sempre um
instrumento para viabilizar projetos políticos em nível nacional, tanto na
ditadura como na democracia. Mas, disseminado pelo Brasil, o futebol se tornou
um dos mecanismos de afirmação dos poderes locais e regionais.
É isso que vejo, agora mesmo, acompanhando a disputa que grupos políticos,
da pequena e heroica Paraíba, travam em torno da presidência da Federação
Paraibana de Futebol, conhecida por sua sigla FPF. O envolvimento direto de Ricardo Coutinho e
Cássio Cunha Lima no processo diz muito do que vem a ser esta eleição. O
governador quer colocar um irmão seu na presidência da FPF. Já o senador quer
um fiel, quase canino, aliado seu à frente da entidade. Ricardo e Cássio não
desceram do palanque. Eles vão disputar, como dois gladiadores, todo e qualquer
espaço de poder que for possível. Se for ter eleição para síndico do seu
prédio, caro ouvinte, vá atrás que as chapas estarão, de alguma forma, ligadas
a eles.
A disputa para a FPF é politica e muito se parece com eleições para
prefeito das pequenas cidades da Paraíba. Acontece de tudo, inclusive a
descarada compra e venda de votos ou a troca de favores na base do “é dando que
se recebe”. O presidente da FPF tem inserção direta sobre os times de futebol
e, consequentemente, sobre suas torcidas formadas, claro, por eleitores. Estar
à frente de uma federação estadual de futebol pode ser a porta, ou a janela, de
entrada para a política partidária.
Nesta disputa temos algo pitoresco, apesar de legal, pois está artigo 22
do Estatuto da FPF. É uma norma que torna a eleição risível, grotesca,
ridícula, em que pese expressar os interesses, nada esportivos, presentes no
processo. Esta tal norma diz que: “será declarado nulo o pedido de registro de
candidatura apresentado por entidade filiada que já tenha assinado outra
petição solicitando registro de chapa, anteriormente protocolizado na
Federação”. Confuso, não? Mas, a ideia é que seja assim mesmo, túrbido,
obscuro, desordenado, para dar margem a muitas interpretações. Eu vou tentar
explicar. É que cada chapa inscrita tem que apresentar uma lista com a
assinatura de pelo menos 10 votantes do processo.
Cada um dos votantes só assina uma
única lista. Ele só pode declarar apoio a uma candidatura. Mas, isso é a mãe de
todas as obviedades, das mais irritantes que se pode ter na face da terra. Por
que colocar tamanha baboseira num estatuto? O que essa gente da FPF pensa que
somos? Um bando de toupeiras galopantes que não atentam para a explícita
manipulação que se tenta fazer do processo? É lógico que um votante só pode
votar em uma única chapa. A intensão aqui é encabrestar os votos adquiridos
mediante acordos nem um pouco esportivos e nada republicanos. Para tornar tudo
um pastelão, os representantes das chapas acamparam, literalmente, à frente da
FPF desde as primeiras horas do dia.
Se um votante assinar duas listas
fica valendo à primeira. Vejam que processo viciado. Bastará contar as
assinaturas de cada lista, de cada chapa, para vermos quem levou a eleição. Nem
precisa contar os votos, que não são secretos, por causa das tais listas.
Rosilene Gomes, que só saiu da FPF por força de uma decisão judicial, quer
eleger sua chapa para que a Federação siga sendo sua cidadela. Ela disse que a
FPF não é lugar para torcedores. É que os maiores times da Paraíba tem lá suas
candidaturas. Pois é, D. Rosilene, concordo com a senhora, torcedores não devem
estar na FPF. Lugar de torcedor é nas arquibancadas dos estádios, assim como
jogadores devem ficar nos gramados. Locais estes que, dirigente e políticos,
deveriam ficar bem longe.
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AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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