Fotos de um ano que se não foi o melhor de nossas vidas, foi um daqueles onde pudemos fazer coisas boas e até mesmo sermos felizes.
Professor do Curso de História da Univ. Estadual da Paraíba desde 1993. Mestre em Ciência Política-UFPE e Doutorando em Ciência da Informação-UFPB. Especialista em História do Brasil, com ênfase na Era Vargas e na Ditadura Militar, na democracia e no autoritarismo. Autor dos livros "Heróis de uma revolução anunciada ou aventureiros de um tempo perdido" (2015) e “Do que ainda posso falar e outros ensaios - Ou quanto de verdade ainda se pode aceitar” (2024), ambos lançados pela Editora da UEPB.
terça-feira, 30 de dezembro de 2014
Fotos de um bom ano
Fotos de um ano que se não foi o melhor de nossas vidas, foi um daqueles onde pudemos fazer coisas boas e até mesmo sermos felizes.
FÉRIAS, FÉRIAS, FÉRIAS
AVISO AOS POSSÍVEIS NAVEGANTES
EU E A COLUNA POLITICANDO ESTAMOS DE FÉRIAS. DURANTE O MÊS DE
JANEIRO REPRISAREMOS, SEMPRE NO JORNAL INTEGRAÇÃO, PELA CAMPINA FM (93.1), AS
MELHORES COLUNAS DE 2014. SÃO AS QUE CAUSARAM MAIS REPERCUSSÃO, AS QUE
MOTIVARAM MAIS COMENTÁRIOS DOS OUVINTES. EM FEVEREIRO VOLTO COM A COLUNA
POLITICANDO, SEMPRE TRATANDO DE TEMAS DE NOSSA REALIDADE POLITICA. ATÉ LÁ E
BOAS FÉRIAS PARA TODOS NÓS.
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
O QUE VOCÊ PREFERE UM TÉCNICO OU UM POLÍTICO?
Reza a lenda que João Saldanha, técnico de futebol
responsável pela montagem da seleção brasileira de 1970, disse que preferia
treinar onze craques indisciplinados a ter que aturar onze pernas de pau bem
comportados. João Saldanha, conhecido pelas polêmicas que protagonizava,
respondia a uma provocação de Zagallo que, ao assumir a seleção tricampeã no
México, teria dito que encontrou um monte de craques indisciplinados e fora de
controle. Num tempo em que não era moda ser politicamente correto, João
Saldanha e Zagallo bateram boca durante algum tempo por nada, pois não
importava se o jogador era ou não um bom moço, o que interessava é que ele
jogasse muito bola.
Eu lembrei essa história por causa
da discussão que toma conta dos processos de transição de governo. Tenho visto
políticos, jornalistas e analistas discutindo sobre se é melhor montar um
governo de técnicos ou um governos de políticos. As pessoas gostam de elogiar governos
que se inauguram com perfil técnico. Os partidos e políticos estam tão
desgastados, por um cenário onde a corrupção é regra, que se tende a achar que
governos sem políticos é interessante, como se isso fosse possível. Mas, será
que na montagem de um governo se deve considerar esse dilema? O governo ideal
não seria aquele que se cerca de políticos com formação técnica e de técnicos
que entendem que é na dimensão política que se dá a ação governamental?
Tenho visto governos
enfrentarem problemas por não conseguirem fazer com que seus políticos e seus
técnicos se entendam. O governador Ricardo Coutinho que o diga, pois a alguns
problemas de seu primeiro ano de governo foi fruto desse falso dilema. A
tentação de oferecer um produto diferenciado à população tem sido maior do que
a necessidade de se conduzir a coisa pública com decisões políticas. O prefeito
de João Pessoa, Luciano Cartaxo, usou esse argumento para escolher muitos de
seus assessores. No início de sua administração, Cartaxo dizia: “Estou montando
um governo com perfil eminentemente técnico. Até os nomes políticos têm que
entender às necessidades das pastas para as quais foram indicados”.
Certo. O discurso é
bem feito, apesar da irritante obviedade. Mas, na prática Luciano Cartaxo
terminou tendo problemas na medida em que um eminente técnico não teria
obrigação de entender das coisas da política. De fato o político que ocupa uma
secretaria, apenas para atender demandas partidárias e/ou fisiológicas, pode
vir a ter um péssimo desempenho por não ter a menor ideia de como funciona a
máquina de sua secretaria.
A radiografia do
governo de Cartaxo nos dizia algo. Quando tomou posse ele indicou 29 nomes para
compor seu governo. Desses, 10 eram ligados ao PT, 09 foram indicados pelo
ex-prefeito Luciano Agra e os outros 10 atendiam a essas necessidades técnicas.
Cartaxo queria ter um governo triangular dividido entre políticos de sua cota,
da cota de seu principal aliado e os que são tidos como técnicos, ou seja,
despolitizados. Se Cartaxo conseguiu coordenar esses três setores tão
diferentes é algo a se verificar. Mas, eu duvido que uma equipe montada dessa
forma possa se manter coesa. Para não ficar espremido entre os três lados do
triângulo, Cartaxo terminou fazendo muitas mudanças em seu governo. Claro, ele
teve que atender demandas eleitorais.
O prefeito de Campina
Grande, Romero Rodrigues, anunciou, em janeiro de 2013, uma equipe com um
perfil mais técnico do que politico. Vejam que quando ele anunciou a equipe da
Secretaria de Saúde destacou o perfil técnico dos que estava nomeando. Romero
afirmava não haver interferência política ou partidária na escolha dos nomes
para a saúde. Dizia ele: “Todos os escolhidos foram por critérios estritamente
técnicos. Em momento algum questionei em quem estas pessoas votaram nas
eleições”. Certo. Importa que os técnicos tenham bom desempenho. Importa que
eles atuem libertos de ingerências políticas externas, de interesses econômicos
privados e até mesmo daquelas influências familiares que tanto atrapalham.
Mas, fundamentalmente, importa que o técnico entenda que para além e acima
dele e de sua visão científica e/ou acadêmica existe a dimensão política onde
escolhas precisam ser feitas para beneficiar pessoas, para gerar bem estar para
o cidadão. Interessa, ainda, que os políticos entendam que o conhecimento
técnico deve ser utilizado para gerar bem estar e não para beneficiar este ou
aquele interesse particularizado. Se o caro ouvinte quer saber o que eu
prefiro, digo que entre o craque desequilibrado e o bom moço perna de pau eu
fico com o craque de bola que é um bom moço. Eu sei que é difícil encontrar,
mas não é impossível. Basta saber procurar.
quarta-feira, 24 de dezembro de 2014
O QUE ESTÁ MUDANDO NA POLITICA PARAIBANA?
Na segunda feira o governador, reeleito, Ricardo Coutinho nos
surpreendeu anunciando uma ampla reforma na estrutura administrativa do Estado
da Paraíba. A surpresa não se deu pelo anuncio da reforma em si, pois ela era
mesmo aguardada. É que é normal governos reeleitos fazerem mudanças. Como de um
mandato para o outro tem os aliados que se elegem, para cargos no parlamento,
por exemplo, e tem aqueles que mudam de lado, se tornando adversários, a
reforma é sempre necessária. A surpresa ficou por conta do fôlego e do tamanho
da reforma administrativa que será implementada. O governador irá fundir, criar
e extinguir secretarias e órgãos da administração direta e indireta.
O que me surpreendeu mesmo foi que
Ricardo Coutinho disse os milagres que fará, se colocou, claro, como o santo
milagreiro, mas não nos disse os penitentes que serão agraciados com os
milagres realizados. Isso só será anunciado no último dia de 2014. Ou seja, o
governador deixou para anunciar seus novos secretários e colaboradores na
véspera das solenidades de posse para o seu segundo mandato. Esse ato bem
demonstra o estilo Ricardo Coutinho de governar. É sempre ele, e somente ele,
quem toma as decisões e quem as anuncia. Ricardo é dono do seu tempo. Ele não
gosta de compartilhar o anuncio de suas decisões. O máximo que faz e colocar ao
seu lado os que possuem prestígio em seu governo.
Reformas
administrativas costumam ser feitas para abrigar novos aliados. Sabíamos que
Ricardo Coutinho realizaria uma reengenharia em sua administração para abrigar
os aliados conquistados na eleição. Eu falo do PMDB, do PT e de tantos outros. Os
governos brasileiros costumam criar secretarias e cargos para agraciar aliados.
Mas, o governador da Paraíba não parece preocupado com isso, pois está
promovendo um grande “enxugamento” da máquina. O que será que está por trás
disso? Quem tem PMDB e PT, como aliados, precisa criar muitos cargos dada a
voracidade que esses partidos têm quando o assunto é a distribuição dos espaços
de poder. Porque, então, Ricardo está fundindo secretarias? Ou seja, fechando portas
em seu governo.
O governador está enxugando
a máquina para limitar a cota dos partidos aliados. A ideia é fazer com que
eles tenham dificuldades em se retroalimentarem, dos cargos a disposição, para
não serem um empecilho nas eleições municipais de 2016. No anuncio da reforma,
o governador disse que vai otimizar a administração no tocante ao espaço físico,
pois o Estado “gasta muito com aluguel de imóveis” para abrigar órgãos da
administração. A ideia é construir um novo centro administrativo. Um gestor antenado ao fato de que recursos
são sempre menores do que demandas age dessa forma. A ideia é boa, se gasta
muito com a obra, para depois se economizar com os recursos administrativos. A
questão é como se vai planejar isso.
É que não sabemos
fazer políticas de Estado, pois preferimos as conjunturais politicas de
governo. O governador foi de uma sinceridade acachapante quando disse que “nossa
máquina precisa ser reformada, ela é grande demais para o serviço que presta”. Eu
cheguei a pensar que Ricardo estava admitindo culpas e problemas da máquina
administrativa em sua gestão. Implícita, em sua fala, está à ideia de que a
máquina do governo é grande demais, dispendiosa demais, sem contar que presta
um mau serviço.
Essa reestruturação
reduzirá cargos comissionados e gerará uma economia de algo em torno de R$ 25
milhões. Vejam que órgãos como EMATER, INTERPA e EMEPA terão um único diretor-presidente
e uma estrutura administrativa centralizada. É por isso que a Secretaria de Interiorização
do Estado, sediada em Campina Grande, será extinta. Eu mesmo já me perguntei
para que o governo do Estado quer tamanha estrutura numa cidade que fica apenas
120 km da capital. A FAC (Fundação de Ação Comunitária) será extinta. E já não
era sem tempo de fechar o órgão especializado em emitir cheques para fins nada
republicanos. A secretaria de Recursos Hídricos se juntará a de Infraestrura. Algo
um tanto quanto óbvio.
Órgãos responsáveis em
pensar o desenvolvimento da Paraíba serão fundidos. A Companha de Desenvolvimento
de Recursos Minerais se juntará a Cia. de Desenvolvimento do Estado. É que não
faz sentido órgão diferentes para a mesma coisa. Três secretarias (Finanças,
Planejamento e Gestão) tinham a mesma responsabilidade, mas atuavam
separadamente. Sendo fundidas, economizaremos recursos. Mas, não esqueçamos que
por trás disso está o jeito Ricardo Coutinho de governar. Com essa otimização
da máquina administrativa, o governador diminuirá demandas e pressões em seu entorno.
Diminuindo o diâmetro da sombra de seu governo, Ricardo encontrou um jeito,
inteligente, de impedir que seus aliados tentem dominar sua gestão.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
terça-feira, 23 de dezembro de 2014
AFINAL, CHEGAMOS AO FUNDO DO POÇO? Parte II.
Ontem, eu adaptei a frase de Millôr Fernandes (“No Brasil, o fundo do poço é só uma etapa”) para
a realidade do futebol. A traulitada de
“7 X 1” que levamos da Alemanha foi apenas uma etapa rumo às profundezas de um
poço que não sabemos se fundo tem. Hoje, eu vou mostrar que a desorganização do
e no futebol, somada aos oportunismos dos que só visam o lucro desmedido, ainda
vai nos igualar aquelas distantes ilhas da Oceania onde não se sabe se o
futebol é jogado com os pés ou com as mãos. Um pouco mais de 5 meses nos
separam da final da Copa do Mundo que prometia ser a maior de todas. Na
verdade, ela foi sim a maior e melhor das Copas para os alemães e para aqueles
que lucraram com as obras das arenas e com as que não terminaram.
Para nós, a sociedade brasileira, a
Copa da FIFA foi um amontoado de prejuízos. Ficamos sem os tais legados sociais
e com uma colossal vergonha pelo vexame do time que o senhor Luiz Felipe
Scolari montou ou desmontou. A Copa acabou nos deixando a constatação que o
futebol que se pratica na Europa é bem melhor do que temos aqui. A bordoada,
que os alemães nos deram, provou que o Brasil não ensina mais nada em termos de
futebol para quem quer que seja. Gastamos o que não podíamos para construir as
reluzentes arenas. Agora já sabemos que o PIB de 2015 será vergonhosamente
pequenino, pois, claro, temos que pagar a conta de uma festa que montamos para
os outros se divertirem.
A Copa do Mundo acabou
no domingo (13/07) e já na quarta-feira (16/07) a temporada do futebol
brasileiro retomava como se nada tivesse acontecido. O Campeonato Brasileiro se
arrastou melancolicamente com os piores times de futebol que já vi jogar. Após
a Copa, os torcedores sumiram dos estádios. As arenas, padrão FIFA, passaram a
ser utilizadas para jogos padrão CBF. O público não ia aos jogos por causa do
baixo padrão técnico e dos preços escorchantes cobrados para a manutenção das
arenas. A Folha de São Paulo apurou que apenas três, das doze sedes da Copa,
conseguem, a duras penas é bom que se diga, manter ocupação acima de 50% de
suas capacidades. São elas o Itaquerão, a Arena da Amazônia e o Mineirão.
O Itaquerão, em São
Paulo, foi erguido ao custo de R$ 1,1 bilhão. Ele tem uma capacidade para 48
mil torcedores sentados. Após a Copa, ele só foi usado em 16 jogos oficiais com
uma ocupação média de 30.196 torcedores. A renda média mensal do Itaquerão foi
de R$ 1.885 milhão, mas o seu custo mensal é de R$ 2,5 milhões. Ou seja, a
arena do Corinthians está operando no vermelho. Isso está gerando uma dívida.
Sabe quem vai pagá-la? Nós, pois o governo vai perdoá-la.
É bom não esquecer que
o Congresso Nacional não perde tempo em votar leis que perdoam as dívidas dos times
de futebol. A Arena da Amazônia, em Manaus, teve ocupação acima de 62% de sua
capacidade. Sabe quantos jogos oficiais ocorreram, nesta arena, desde que a
Copa do Mundo acabou? Apenas quatro. A Arena Amazônia custou R$ 670 milhões.
Seu custo mensal é de R$ 700 mil e sua renda média mensal foi de pouco mais de
R$ 2 milhões. Certo, em Manaus se apura mais do que se gasta. Mas, com apenas
quatro jogos oficiais em cinco meses o investimento, feito na obra, só será
pago nos próximos 350 anos. O palco da hepta goleada germânica teve ocupação
média de 51% de sua capacidade.
Se levarmos em
consideração que o Mineirão foi palco das finais da Recopa e da Copa do Brasil,
vencidas pelo Atlético Mineiro, e de jogos do Cruzeiro, campeão brasileiro de
2014, veremos que essa média de ocupação deixa a desejar. A Folha de São Paulo
mostra que nestes cinco meses de futebol sem graça, as 12 arenas receberam 218
partidas oficiais, com uma média geral de 18.300 torcedores. O que se lucrou
nestes cinco meses não paga a manutenção mensal das arenas. O Maracanã, templo
mundial do futebol, foi reformado ao custo de R$ 1 bilhão para ter uma
capacidade de 78 mil torcedores. Nestes cinco meses teve público médio de
25.520 pessoas, ou seja, 32% de sua capacidade foi ocupada a cada jogo oficial.
A renda média mensal do Maracanã é de R$ 695 mil. Seu custo médio mensal é
de R$ 4 milhões. Isso significa que a cada mês a administração do “Maraca” fica
devendo R$ 3.305 milhões. Ou seja, deve existir, hoje, uma divida de mais de R$
16 milhões. O consórcio, que administra o Maracanã, admitiu que fechou o ano de
2013 com débito de R$ 40 milhões. Não vai demorar para que um deputado federal,
ligado a algum time de futebol, elabore um projeto de lei para tirar as arenas
de suas situações falimentares. O que a Copa do Mundo nos legou foram gaiolas
de ouro com passarinhos morrendo de fome. São 12 belas arenas para times de 5ª
categoria jogar. A Copa não nos legou nada e ainda nos indicou o caminho do
fundo do poço. Porca miséria de futebol essa que temos.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
AFINAL, CHEGAMOS AO FUNDO DO POÇO? Parte I.
Millôr Fernandes era desenhista, humorista, dramaturgo,
escritor e jornalista. Millôr era, ainda, um sensacional frasista. Com poucas
palavras, e uma ironiza cortante, ele ia revelando nossos maiores temores,
dilemas e problemas. Por excesso de inteligência, e pelos ossos do ofício de
humorista, Millôr não levava o Brasil a sério. Coisa que eu mesmo deveria,
também, fazer. Mas, como não sei fazer graça de nossas desgraças, me contento
em analisa-las. Millôr dizia: “Viva o
Brasil, onde o ano inteiro é primeiro de abril”. É que neste país,
irritantemente ensolarado, acontecem coisas que, aos olhos estrangeiros,
parecem mentira. Eu aprendi a ser um realista pessimista lendo as crônicas de
Millôr. Ele dizia, se referindo as nossas mazelas politicas e sociais, que: “No
Brasil, o fundo do poço é só uma etapa”.
Se você, como eu, achou que o “7 X 1”, que a Alemanha aplicou no Brasil, foi o
fundo do poço do nosso futebol, chegou a hora de revermos nossas opiniões.
A tragédia do
Mineirão, na Copa do Mundo, foi uma etapa no caminho que o futebol brasileiro
trilha para se tornar algo sem importância para nós e para o mundo. O vexame do
dia 08 de julho não é nem a metade do caminho rumo ao fundo do poço. Não que eu
queira discutir questões técnicas, apesar de que não precisa ser um estudioso
do futebol para atestar que nosso primeiro esporte se tornou algo sem graça,
sem emoção, sem qualidade e, principalmente, sem seriedade. Tostão, craque da
Seleção tricampeã do mundo, escreveu, num artigo para a Folha de São Paulo, que:
“Estamos na 2ª divisão do futebol
mundial”. É que, na Europa, se investe mais na técnica, na ciência, na
organização e na qualidade do futebol.
Segundo Tostão, “o futebol do Brasil tende a estagnação,
dentro e fora de campo, pois o poder politico e financeiro não quer mudanças,
apenas o lucro”. Enquanto jogadores e técnicos se abatem pelos gramados,
cartolas e políticos cuidam dos lucros. Agora mesmo, vemos a “bancada da bola”,
no Congresso Nacional, mobilizada para barrar, de uma vez por todas, a Lei de
Responsabilidade Fiscal do Esporte (LRFE). A ideia é manter interesses pouco
futebolísticos para além e acima da lei. Esse é o grande, o principal, problema
do futebol no Brasil. Acostumamo-nos a ter o futebol como algo a parte das
instituições, do Estado. Tratamos o futebol como nossa paixão, algo
passional. Achamos que ele não tem que
se submeter as leis desse país.
Dentro da LRFE tem um
artigo que trata da renegociação das dívidas dos clubes de futebol, para com o
Estado brasileiro, sem que estes tenham que dar alguma contrapartida ao
governo. Mais uma vez, o Estado brasileiro vai perdoar dividas. Este artigo faz
parte da Medida Provisória 656/2014 que trata de isenções tributárias e do
reajuste da tabela do imposto de renda. Ele foi idealizado pelo deputado
federal Jovair Arantes (PTB) que, não por acaso, é vice-presidente do
Atlético-GO. O artigo propõe um prazo de 20 anos para que entidades desportivas
quitem seus débitos junto a União e que as multas, relativas às dividas, sejam
reduzidas em 70% do valor isolado, em 30% dos juros de mora e em 100% sobre o
valor dos encargos legais.
A ideia é que as
dividas estacionem em seus valores originais e que possam ser pagas num prazo a
perder de vista. A renegociação das dívidas, dos times de futebol, vem sendo
discutida no Congresso Nacional há quase 15 anos. Em 2013 se apresentou o
Projeto de Lei 5.201, conhecido como PROFORTE (Programa de Fortalecimento dos
Esportes Olímpicos). A discussão não é sobre como as dívida vão ser executadas,
como o Estado vai cobrar essas dívidas junto aos times de futebol. No Congresso
a discussão gira em torno de como se vai dar um jeitinho para que os times
sigam inadimplentes. É que os parlamentares, também torcedores, não querem se
sentir culpados em cobrar dividas de seus times do coração.
Os deputados não
querem que os torcedores/eleitores fiquem sabendo que seus times queridos
deixaram de fazer grandes contratações para pagar dividas junto ao governo
federal. No Brasil, quando o assunto é futebol, somos todos irresponsáveis. A
bancada da bola defende o PROFORTE por ele ser leniente com os maus pagadores e
por ainda prever o acesso dos times a mais e mais verbas públicas. A bancada da
bola teme a LRFE porque ela trata da renegociação das dívidas, sem prever
perdão. Essa lei traz contrapartidas que preveem punições aos clubes que
voltarem a contrair débitos, como perda de pontos e até rebaixamento em
campeonatos disputados. Essa lei é mais uma tentativa no sentido de dar alguma
seriedade fiscal ao futebol brasileiro. É por isso tudo que nosso futebol segue
lépido e fagueiro rumo ao fundo do poço que nos nem bem sabemos onde fica e nem
como fica. Amanhã, vou continuar discutindo as mazelas do futebol brasileiro
lembrando sempre que ele é fruto de nossa cultura.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
AFINAL, PORQUE O TORTURADOR DEVERIA SER PERDOADO?
Há cerca de quatro anos o Supremo Tribunal Federal foi
chamado a se posicionar sobre os limites da Lei da Anistia. O STF teria que
dizer quem de fato ela perdoou e o que poderia acontecer com quem ela não
absolveu. Já a Advocacia Geral da União afirmava que “estão perdoados os crimes
de tortura cometidos durante a ditadura militar”. A AGU apegou-se a tese de que
a Anistia é "ampla, geral e irrestrita" e que delitos cometidos na
ditadura prescreveram. No STF, o Ministro Gilmar Mendes afirmou que punir
torturadores traria insegurança jurídica ao país. O Ministro e a AGU pareciam (ainda
parecem) temer que alguns acusados não aceitassem de forma passiva que deveriam
ir a julgamento.
Na transição da ditadura para a Nova
República estimulou-se a tese do esquecimento e do não revangismo, de deixar
velhos problemas para trás e só se olhar para frente. Boa parte da sociedade
comprou a ideia de um grande pacto em nome da democracia. Foi no governo do
Gal. Figueiredo que se encaminhou a Lei da Anistia para o Congresso Nacional.
Como Figueiredo não reconhecia a tortura como um delito, ela não apareceu no
texto final da lei. Ou seja, se não houve crime de tortura não há do que se
anistiar. Desde o governo de FHC que as pessoas e instituições se dividem em
torno da matéria. De um lado, temos os que pedem a revisão da Lei da Anistia e
a punição para quem, por exemplo, torturou e matou em nome do Estado.
Do outro lado há os
que dizem que a anistia foi fruto de uma negociação entre a sociedade civil e o
regime militar. É comum se lembrar do pacto feito para que ambos os lados
tivessem como lema o esquecimento, e que só assim foi possível à democracia. Para
a AGU as convenções e tratados internacionais, dos quais o Brasil é signatário,
que têm a tortura como imprescritível se submetem à Constituição Federal. Ela
entende que não interessa posições assumidas no passado se elas estão em
desacordo com leis atuais. É a AGU que defende a União no processo aberto pelo
Ministério Público Federal para punir os militares reformados Carlos Alberto
Brilhante Ustra e Audir Maciel por tortura, morte e ocultação de 64 cadáveres
durante a ditadura.
No governo os
favoráveis a punição são minoria. A presidente Dilma Rousseff, por ser ex-presa
política, tendo sido submetida à tortura, se mostra a favor da punição. Mas, a
AGU, o Ministério da Defesa, a Controladoria Geral da União e o Itamaraty são
contra. Dilma afirma que na Lei da Anistia não foram contemplados os agentes
que, durante a ditadura, cometeram lesão corporal, estupro, homicídio,
ocultação de cadáver e tortura. Mas, a AGU diz que não dá para responsabilizar
pessoas pelos delitos.
A AGU concorda com a
tese do ex-ministro Nelson Jobim, segundo a qual: “nem a repulsa que nos merece
a tortura impede reconhecer que se deve dar toda a amplitude ao esquecimento
penal desse período negro da nossa história". A União é ré na questão da
abertura dos arquivos da ditadura e já foi sentenciada a tornar público
documentos do período. A Comissão da Verdade teve árdua tarefa nesse sentido.
Mas, FHC alterou a legislação para o acesso público a documentos oficiais. Ele
ampliou para 50 anos o prazo de divulgação de documentos tidos como
“ultrassecretos” e oficializou o sigilo eterno, possibilitando, ainda, que uma
Comissão Interministerial renove o prazo de confidencialidade sem restrições de
tempo.
Lula alterou a lei,
mas manteve sua essência autoritária. Ele reduziu o prazo de divulgação dos
documentos “ultrassecretos” de 50 para 30 anos, mas prevendo uma renovação por
mais 30 anos. Ou seja, os documentos podem ficar até 60 anos sem que a
sociedade tenha acesso a eles. Lula manteve a Comissão Interministerial e o
sigilo de documentos que possam ameaçar a soberania nacional. Numa palavra, ao
meio-século imposto por FHC, Lula acresceu mais 10 anos. Sob um verniz
democrático, temos uma espessa camada autoritária que impede que a sociedade
civil tenha acesso às informações.
FHC e Lula, que concordam que nossa democracia está consolidada, não
caminharam no mesmo sentido da Argentina, por exemplo, que abriu seus arquivos
a toda sociedade e eles serviram de provas para que muitos fossem punidos. Se
não temos mais ameaças de um revés autoritário só nos resta abrir os arquivos
da ditadura e revolver nosso passado autoritário. Importa menos o que vamos lá
descobrir. O que interessa é que tenhamos acesso em definitivo a esses
documentos. Se esquecer do passado sem que ele esteja resolvido é grave,
imagine o quão perigoso é fechar os olhos para erros cometidos no presente? O
que será de nosso futuro se não queremos rever como foi nosso passado.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2014
A PROPAGANDA NÃO É A ALMA DA POLITICA
Ainda hoje se diz que a “propaganda
é a alma do negócio”. Isso é bem verdade, pois, como já dizia o “velho
guerreiro” Chacrinha, “quem não se
comunica se trumbica”. No mundo corporativo divulgar, difundir, propagar é
fundamental. Se os consumidores não sabem que você produz o melhor sorvete da
cidade, como vão te procurar para compra-lo? Mas, é preciso ter cuidado para
não tropeçar nos conceitos. Marketing e propaganda são coisas diferentes em que
pese se complementarem. Tratar marketing e propaganda como sinônimos é problema
semântico e conceitual. A propaganda é tão somente uma ferramenta que se usa
para divulgar a existência de um produto. Já o marketing é a filosofia do
negócio por trás desse produto.
Comunicar seria, então, a arte de
transmitir, informar, participar a existência de um produto. Duda Mendonça,
aquele que vendia Paulo Maluf e o PT como se fossem iogurtes, mesmo que sem
prazo de validade, tem algo interessante a dizer sobre isso. Misturando
experiências no marketing político, com historias pessoais e um discurso
autoajuda chinfrim ele diz, em seu livro “Duda Mendonça – Casos & Coisas”,
que “comunicação não é o que você diz, é
o que os outros entendem do que você diz”. Deve ter sido essa fórmula que
ele aplicou em Paulo Maluf, um iogurte estragado da política, vendido como se
fosse novo, durante cerca de 20 anos. Não importava o que Maluf dizia,
interessava o que os eleitores paulistas capturavam do seu discurso.
Esse é o problema das
campanhas eleitorais. Os marqueteiros oferecem seus produtos, digo seus
candidatos, como se fossem iogurtes. Eles delineiam estratégias publicitárias
como se o eleitor fosse comprar seu representante num supermercado. Isso cria
um sem número de problemas. Um deles é ideia de que a máxima “a propaganda é a alma do negócio” se
aplica, também, à politica partidária institucional. Por isso vemos os
governantes tão preocupados em propagandear seus feitos. Por isso que as
assessorias e secretarias de comunicação são importantes nas estruturas dos
governos federal, estadual e municipal. Por isso que os governantes torram
parte de nosso dinheiro para divulgar, para nós mesmos, aquilo que eles andam
fazendo.
Vejam a perversão
dessa relação. Os governantes diminuem as verbas das politicas públicas, que
são geradas pelos impostos que pagamos, para alardear seus feitos. Lembrando
que se espera que essas políticas resultem em bem estar para o cidadão. Isso é
levado tão a sério que o governante que não divulga seus atos se sente culpado.
Logo ele começa a achar que sua administração é mal avaliada porque sua
assessoria de comunicação não está cumprindo bem o papel de divulgar atos e
obras de sua gestão.
Recentemente, o
prefeito de Campina Grande, Romero Rodrigues, disse que: “Nós nos comunicamos mal e divulgamos pouco”. Essa fala foi feita
num contexto em que o prefeito explicava a reforma administrativa que fará em
breve. Romero falava da necessidade de ampliar a área de comunicação de sua
gestão. A ideia é transformar sua assessoria de comunicação em uma secretaria
de comunicação. Aqui, existem duas questões a se considerar. Uma externa e
outra interna. A questão externa é que alguns vereadores foram eleitos
deputados estaduais. Como seus suplentes vão assumir é preciso fazer mudanças.
Tornar um vereador secretario ou trazer um suplente para a ativa é a
possibilidade de ampliar a base aliada.
A questão interna é a
da comunicação. O fato é que a gestão de Romero Rodrigues se comunica mal com a
sociedade campinense. Nisso ó prefeito está certo. Se vivo fosse, Chacrinha
diria que gestão municipal anda se trumbicando com as palavras. O vereador
Alexandre do Sindical, fiel ao prefeito como ele só, que não perde uma
oportunidade de se mostrar aliado de primeira hora, disse: “A gestão de Romero Rodrigues tem feito muito, mas precisa mostrar à
população que está fazendo”. O vereador ainda fez uma comparação
provocativa. Disse ele: “No passado,
Veneziano fazia pouco, mas dizia e divulgava que fazia muito”. Os políticos
são assim mesmo. Eles gostam de acreditar em coisas que não fazem o menor
sentido.
Se o governante é proativo, desenvolve politicas públicas relevantes,
realiza grandes obras, administra a coisa pública de forma eficiente, se lida
bem com o funcionalismo público, não precisa fazer propaganda, a população vai
saber por ser o alvo disso tudo. Do contrário, se o governante não é um bom
administrador, se não está preocupado com o bem estar do cidadão, se apenas se
preocupa com obras que maquiam a feiura social da cidade, não tem marqueteiro
no mundo que crie uma propaganda eficiente. Governantes não deveriam se
preocupar com essas coisas, pois a melhor comunicação, a mais eficiente das
propagandas, é a politica pública que gera bem estar para o cidadão. O resto é
técnica de marqueteiro que pensa que o político é um produto como o iogurte.
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POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
NÃO EXISTE HONRA NA TORTURA
É sempre a mesma
coisa. Recebo muitas mensagens, algumas anônimas, quando trato da tortura,
praticada pelo Estado durante a ditadura militar, e quando analiso os trabalhos
da Comissão Nacional da Verdade, que acaba de divulgar seu relatório final. Quando
discordo da ideia de que só uma intervenção militar seria capaz de moralizar o
Brasil e quando defendo que agentes públicos torturadores devem ser punidos o gilbergues@gmail.com recebe mensagens, algumas elogiosas
outras nem tanto. Ontem, depois que tratei do fato de Jair Bolsonaro ter dito
que a deputada Maria do Rosário “não merece se estuprada porque é muito
feia", recebi uma mensagem de um ouvinte anônimo concordando com as ideias
do deputado hitlerista.
Certa vez, um anônimo raivoso me mandou uma mensagem dizendo que as
mulheres, que lutaram contra a ditadura militar, só foram torturadas e
violentadas porque abandonaram filhos, pais e maridos para pegar em armas.
Segundo este ouvinte, sem identidade, se essas mulheres tivessem ficado em suas
casas nada disso teria acontecido. Esse argumento é idêntico ao de Jair
Bolsonaro que diz que o homem estupra a mulher porque ela o provoca com sua
beleza. Não me incomodam os comentários desses ouvintes anônimos. Até fico
feliz, pois como vivemos em uma democracia, eles podem dizer o que pensam,
mesmo que não venham à luz do sol. O que eles não entendem é que o anonimato é
próprio das ditaduras.
Com a divulgação do relatório final da Comissão Nacional da Verdade temos
dois dilemas. Um, verdadeiro, trata do que faremos com os responsáveis por
crimes durante a ditadura. O outro, falso, é se existe alguma justificativa
plausível para a tortura. Devemos enfrentar nossas verdades, mesmo que alguns
queriam mistificá-las, deturpá-las, desmerece-las. Os responsáveis por crimes
durante a ditadura militar devem mesmo ser responsabilizados judicialmente.
Todos eles! É preciso não tergiversar.
Mas, essa discussão tem que passar ao largo das paixões mal humoradas
daqueles que tem alguma coisa a temer ou que nutrem algum tipo de saudosismo
ideológico dos tempos em que prender, torturar, matar e fazer corpos sumir era
coisa natural. Muitos dos que enfrentaram o regime militar com armas, ou não,
foram processados em tribunais militares de exceção. Muitos cumpriram longas
penas ou foram condenados ao exílio para que sobrevivessem à violência do
Estado ditatorial. Passados quase 30 anos do fim da ditadura militar não se tem
notícia de um único torturador que tenha sido punido por um crime que é tido
como de lesa humanidade. Os “Bolsonaros” e “Lobões” da vida dizem que “ninguém
era santo na época do regime”.
Um desses ouvintes sem nome me disse que “a esquerda não lutava pela
democracia, e sim por uma ditadura do proletariado”. De fato, foi assim mesmo.
Entre as décadas de 1960/1970 democracia, no Brasil, valia tanto quanto um
ventilador na Sibéria. As organizações de esquerda pegaram em armas para reagir
da forma que poderiam e queriam. Essa era a linguagem da época. A questão é:
porque pendurar um cidadão num pau-de-arara, de cabeça para baixo, para aplicar
choques em seu corpo despido? Sabe por que o Estado que tortura e mata seu
cidadão está cometendo um crime, independente do que ele tenha feito? O Estado
detém o monopólio da força, do uso da violência e da coerção para garantir a
lei, não para exterminar seus adversários.
O discurso de que há alguma justiça na tortura é perigoso e, no limite,
legitima a pratica da tortura estatal. Agora mesmo vemos os EUA enfrentando a
questão com o relatório do Comitê de Segurança do Senado que atesta que a CIA
torturava seus presos. Os americanos fazem o mesmo que nós. Ao invés de
condenarem esse crime hediondo, discutem se a tortura é ou não eficaz na
aquisição de informações contra o terrorismo. Aqui, gostamos de dizer que a
tortura é um eficiente mecanismo de investigação. Na época da ditadura havia
dois tipos de tortura. A boa, que resultava em informações que levariam a
prisão de subversivos, e a ruim que não gerava informações. Tortura inútil era
aquela em que o preso morria sem nada revelar.
A ideia de que o preso politico, ou
o bandido comum, só “abre o bico” se levar uns tapas, choques ou ficar
pendurado num pau-de-arara é sórdida porque apela para necessidades sentidas
por aqueles que sofreram algum tipo de violência. O Estado que usa a violência,
para extrair confissões, atesta sua incompetência em lidar com os que querem
subverter a ordem ou viver a margem da lei. A coerção é um monopólio legal do
Estado. Já a tortura é um monopólio não institucional estatal. O Estado
militarizado usou e abusou da tortura para alcançar as verdades que lhe
interessava, mas nossa sociedade, de procedimentos democráticos, não consegue
fazer valer outras verdades por meios legais. Apesar de que, eu tenho certeza
de que é melhor viver assim do que do outro jeito.
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terça-feira, 16 de dezembro de 2014
PRENDAM ESSE ESTUPRADOR.
Na Índia uma mulher é estuprada a cada 20 minutos, todos os
dias, todos os meses, todos os anos. Em junho, uma indiana foi a uma delegacia
em busca de informações sobre seu marido, que havia sumido há vários dias.
Chegando lá ela foi estuprada por três policiais. Um deles disse que “uma mulher que vai sozinha a uma delegacia
não pode esperar tratamento diferente”. É comum, na Índia, as mulheres
serem enforcadas depois de sofrerem abuso sexual. Outro dia, uma adolescente
foi violentada, obrigada a beber ácido e estrangulada até a morte por vários
homens. Essa barbárie acontece na Índia porque as mulheres vivem em um estado
degradante, tidas como menos dignas de respeito.
Mas, essa realidade não é exclusiva
da Índia. Segundo a Organização Mundial da Saúde o estupro é um crime praticado
em países ricos, em desenvolvimento, pobres e paupérrimos. Ou seja, existem
psicopatas animalescos espalhados pelo mundo todo. A OMS mostra que até mesmo
na Suécia, país conhecido por seus avanços sociais e econômicos, as taxas de
estupro rivalizam com as de algumas nações africanas onde o estupro faz parte
da cultura e das tradições sociais e religiosas. No Brasil a situação não é
diferente. É bem verdade que aqui não se pratica, diária e livremente, as
barbáries da Índia, mas não temos do que nos orgulhar. Pelo contrário, aqui, o
estupro é sistematicamente praticado e até defendido.
O Fórum Brasileiro de
Segurança Pública mostra que há uma tendência de alta desse crime hediondo
entre nós. Em 2010 foram 41.180 casos. Em 2011 tivemos 42.482 e em 2012 ultrapassamos
a casa dos 50 mil casos. Só em 2013 foram 50.320 casos. Esses números são subestimados,
pois se calcula que apenas 35% das brasileiras estupradas vão a polícia
registrar queixa contra seus agressores. O comparativo com a taxa de estupros
por 100 mil habitantes é alto, se considerarmos que temos instrumentos legais
como a “Lei Maria da Penha”. Em 2012 tivemos, por exemplo, 25 casos de estupro
em cada grupo de 100 mil mulheres.
E lá vem o meu
realismo pessimista de sempre. Lamento dizer, mas não creio que, em 2015, essa
taxa possa diminuir. Principalmente agora que temos um deputado que se confessa
um estuprador, enquanto discursa na tribuna da Câmara Federal. É isso mesmo, o
caro ouvinte não se enganou. Na terça-feira, dia 09, o Deputado Federal Jair
Bolsonaro disse que só não "estupraria" a também deputada Maria do
Rosário (PT/RS), ex-ministra de Direitos Humanos, porque ela "não
merecia". Bolsonaro é um sociopata que sofre de ginecofobia, ele tem medo
de mulheres, por isso as ataca. Agindo assim, se equiparou a Paulo Maluf que
certa vez disse que o homem que tem desejo sexual pode até estuprar, só não
pode matar.
Bolsonaro odeia a
democracia com todas as suas forças, tanto é que defende e luta para que
voltemos aos tempos da ditadura quando mulheres, adversárias do regime militar,
eram sistematicamente torturadas e/ou violentadas nas prisões do Estado
autoritário. E não ficou nisso. Numa entrevista ao Jornal Zero Hora, o
truculento deputado disse não temer processos e completou a ofensa. Ele afirmou
que a deputada Maria do Rosário é uma vagabunda e que não merece se estuprada
"porque é muito feia". Em março de 2013, ele chamou Eleonora
Menicucci, Secretaria da Presidência da República de Políticas para as
Mulheres, de "sapatona". Em 2011, ele discutiu com a senadora Marinor
Brito e disse que o partido dela, o PSOL, é uma "coisa de viados".
A mãe de todas as
dúvidas é: quando é que esse desvairado será punido? Afinal, ele deixou claro
que é, sim, capaz de praticar um crime tipificado no código penal brasileiro.
Além do mais, ele feriu de morte o tal decoro parlamentar. Bolsonaro é um psicopata, despido de caráter
e de educação. Mas, não lhe falta inteligência. Ele diz essas barbaridades se
escudando no artigo 53 da Constituição Federal que garante imunidade e
inviolabilidade ao parlamentar. Esse artigo diz que "deputados e senadores
são invioláveis no exercício do mandato, por suas opiniões, palavras e
votos". Sem contar que esse Congresso Nacional, conservador e
corporativista que temos, não punirá um dos seus nem sob pressão da sociedade.
Eu já me acostumei a verborragia autoritária “bolsonariana”. Sabe o que me
incomoda e muito me preocupa? É que tantas pessoas concordem com as opiniões
estultas de Bolsonaro. Vejam que ele foi eleito deputado, pelo Rio de Janeiro,
em 1º lugar. Ele teve exatos 464.572 votos. Ou seja, mais de 400 mil pessoas
concordam que ele deve seguir na Câmara Federal defendendo a ideia de que
existem mulheres que merecem ser estupradas por serem bonitas. O que será que
as eleitoras de Bolsonaro acham disso? O fato é que o estupro é socialmente
aceito, pois os estupradores não são, em geral, indivíduos antissociais. Eles
são pais de família, têm emprego fixo e não se isolam da sociedade. O
estuprador está entre nós e é até mesmo eleito para nos representar.
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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
AS FAMÍLIAS, O PODER, A DEMOCRACIA.
Em agosto de
1960, Jânio Quadros renunciou a presidência da República num ato surpreendente,
que desencadeou uma séria crise, e que terminou contribuindo para o desenrolar
do golpe civil-militar de março de 1964. Por via das dúvidas, Quadros levou
consigo a faixa presidencial ao sair de Brasília. É que a renuncia era, na
verdade, uma tentativa de golpe para que ele acumulasse mais e mais poder.
Quadros era tão apegado ao poder que não queria dividi-lo com mais ninguém. Em
1985, João Figueiredo, o último general/presidente do regime militar, se
recusou a passar a faixa presidencial ao civil José Sarney. Ele saiu por uma
porta lateral do Palácio do Planalto dizendo em alto e bom som: “eu quero que me esqueçam”.
Na semana passada, Roseana Sarney renunciou ao cargo de governadora do
Maranhão faltando apenas vinte dias para que o governador eleito, Flavio Dino
(PC do B), tome posse. A governadora disse que renunciou para cuidar da família
e da saúde. Certo, são justificativas nobres. Mas, não dava para esperar 20
dias para se dedicar em tempo integral a causas tão generosas? O que estaria
por trás disso? O que teria levado um membro do clã Sarney, conhecido pelo
apego aos cargos públicos, a renunciar? Elementar. A primogênita do clã Sarney
não quis enfrentar o desconforto de passar a faixa, de governador do Maranhão,
a um adversário que impôs uma vitória maiúscula, ainda no 1º turno, ao poderoso
grupo comandado pelo ex-presidente José Sarney.
Ao renunciar, Roseana Sarney permitiu que o presidente da Assembleia
Legislativa do Maranhão, Arnaldo Melo, aliado dos “Sarneys”, assumisse o
Palácio dos Leões para, em poucos dias, fazer tudo aquilo que sempre quis e
nunca teve como. Um detalhe nisso é que o vice-governador do Maranhão,
Washington Luiz, já havia renunciado, em novembro de 2013, para se tornar
conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Um cargo vitalício, bem mais
atrativo do que o de vice-governador.
Políticos não costumam renunciar por motivos nobres. Desistir de ter
poder, no Brasil, é prova de mesquinharia politica e/ou do cumprimento da
legislação eleitoral para os governadores, que não podem se candidatar a
reeleição, e buscam uma vaga no senado. Este ano, sete governadores renunciaram
para concorrerem ao senado. Foi o caso de Sérgio Cabral (RJ), Antônio Anastasia
(MG) e Wilson Martins (PI). E teve o Siqueira Campos (TO) que renunciou para
que seu filho disputasse o governo. Ou seja, ele se afastou para ampliar sua
estrutura de poder e beneficiar o clã que comanda. No Maranhão, o que seria uma
prova de desapego ao poder foi à constatação de que as famílias poderosas não
sabem lidar com procedimentos democráticos.
O ato em que o governante, que está saindo, entrega a faixa para o que
acabou de ser eleito é, sim, simbólico. Mas, este simbolismo é a forma que as
democracias modernas encontraram para caracterizar a transição de e no poder. Até
as revoluções burguesas o símbolo do poder era a coroa. Uma vez colocada na
cabeça do rei, só saia para que ele fosse enterrado, às vezes nem isso. As
democracias substituíram a coroa por uma faixa que passa de governante em
governante. Respeita os formalismos democráticos quem passa a faixa para seu
sucessor independente se aliado ou adversário. Negar-se fazer isso, usando o
artificio torpe da renuncia, expõe a mentalidade pouco republicana de um governante.
Roseana Sarney mostrou o quanto mesquinha, antidemocrática e
antirrepublicana é sua forma de fazer politica. Renunciar, para não ter que
passa a faixa para Flavio Dino, foi à mãe de todos os desrespeitos para com a
decisão, democrática, do eleitor maranhense. Em democracias consolidadas o
governante que está saindo não cogita atitude diferente de passar a faixa para
seu sucessor. Imagine se um Barack Obama, um David Cameron ou mesmo um Nicolas
Sarkozy se permitiriam tamanha patuscada? Dito de outra maneira, esse negócio
de não querer passar a faixa, ou seja, não querer promover a transição do poder
é coisa para um Vladimir Putin, um Silvio Berlusconi ou um Hugo Chávez da vida.
Isso é coisa de ditador travestido de democrata.
Urdir um plano de renúncia,
justificando que se vai “cuidar da família”, para não ter que ver seu
adversário assumindo o cargo, que se teve como seu, é mesmo típico dessa gente
que vê o poder como o grande negócio da família. Se você está se sentido
aliviado por não viver no Estado onde o clã Sarney manda e desmanda desde a
década de 60, saiba que em vários estados da federação existe um clã desses que
privatizou o poder executivo em proveito próprio. São os Magalhães, Maias,
Alves, Acciolis, Mellos, Bezerras. Aqui, na pequena e heroica Paraíba, temos
pelo menos três dessas famílias que nunca usaram o expediente da renuncia, só
porque ainda não tiveram que entregar a faixa para um adversário.
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POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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