terça-feira, 23 de dezembro de 2014

AFINAL, CHEGAMOS AO FUNDO DO POÇO? Parte II.

Ontem, eu adaptei a frase de Millôr Fernandes (“No Brasil, o fundo do poço é só uma etapa”) para a realidade do futebol.  A traulitada de “7 X 1” que levamos da Alemanha foi apenas uma etapa rumo às profundezas de um poço que não sabemos se fundo tem. Hoje, eu vou mostrar que a desorganização do e no futebol, somada aos oportunismos dos que só visam o lucro desmedido, ainda vai nos igualar aquelas distantes ilhas da Oceania onde não se sabe se o futebol é jogado com os pés ou com as mãos. Um pouco mais de 5 meses nos separam da final da Copa do Mundo que prometia ser a maior de todas. Na verdade, ela foi sim a maior e melhor das Copas para os alemães e para aqueles que lucraram com as obras das arenas e com as que não terminaram.

Para nós, a sociedade brasileira, a Copa da FIFA foi um amontoado de prejuízos. Ficamos sem os tais legados sociais e com uma colossal vergonha pelo vexame do time que o senhor Luiz Felipe Scolari montou ou desmontou. A Copa acabou nos deixando a constatação que o futebol que se pratica na Europa é bem melhor do que temos aqui. A bordoada, que os alemães nos deram, provou que o Brasil não ensina mais nada em termos de futebol para quem quer que seja. Gastamos o que não podíamos para construir as reluzentes arenas. Agora já sabemos que o PIB de 2015 será vergonhosamente pequenino, pois, claro, temos que pagar a conta de uma festa que montamos para os outros se divertirem.

A Copa do Mundo acabou no domingo (13/07) e já na quarta-feira (16/07) a temporada do futebol brasileiro retomava como se nada tivesse acontecido. O Campeonato Brasileiro se arrastou melancolicamente com os piores times de futebol que já vi jogar. Após a Copa, os torcedores sumiram dos estádios. As arenas, padrão FIFA, passaram a ser utilizadas para jogos padrão CBF. O público não ia aos jogos por causa do baixo padrão técnico e dos preços escorchantes cobrados para a manutenção das arenas. A Folha de São Paulo apurou que apenas três, das doze sedes da Copa, conseguem, a duras penas é bom que se diga, manter ocupação acima de 50% de suas capacidades. São elas o Itaquerão, a Arena da Amazônia e o Mineirão.

O Itaquerão, em São Paulo, foi erguido ao custo de R$ 1,1 bilhão. Ele tem uma capacidade para 48 mil torcedores sentados. Após a Copa, ele só foi usado em 16 jogos oficiais com uma ocupação média de 30.196 torcedores. A renda média mensal do Itaquerão foi de R$ 1.885 milhão, mas o seu custo mensal é de R$ 2,5 milhões. Ou seja, a arena do Corinthians está operando no vermelho. Isso está gerando uma dívida. Sabe quem vai pagá-la? Nós, pois o governo vai perdoá-la.

É bom não esquecer que o Congresso Nacional não perde tempo em votar leis que perdoam as dívidas dos times de futebol. A Arena da Amazônia, em Manaus, teve ocupação acima de 62% de sua capacidade. Sabe quantos jogos oficiais ocorreram, nesta arena, desde que a Copa do Mundo acabou? Apenas quatro. A Arena Amazônia custou R$ 670 milhões. Seu custo mensal é de R$ 700 mil e sua renda média mensal foi de pouco mais de R$ 2 milhões. Certo, em Manaus se apura mais do que se gasta. Mas, com apenas quatro jogos oficiais em cinco meses o investimento, feito na obra, só será pago nos próximos 350 anos. O palco da hepta goleada germânica teve ocupação média de 51% de sua capacidade.

Se levarmos em consideração que o Mineirão foi palco das finais da Recopa e da Copa do Brasil, vencidas pelo Atlético Mineiro, e de jogos do Cruzeiro, campeão brasileiro de 2014, veremos que essa média de ocupação deixa a desejar. A Folha de São Paulo mostra que nestes cinco meses de futebol sem graça, as 12 arenas receberam 218 partidas oficiais, com uma média geral de 18.300 torcedores. O que se lucrou nestes cinco meses não paga a manutenção mensal das arenas. O Maracanã, templo mundial do futebol, foi reformado ao custo de R$ 1 bilhão para ter uma capacidade de 78 mil torcedores. Nestes cinco meses teve público médio de 25.520 pessoas, ou seja, 32% de sua capacidade foi ocupada a cada jogo oficial.

A renda média mensal do Maracanã é de R$ 695 mil. Seu custo médio mensal é de R$ 4 milhões. Isso significa que a cada mês a administração do “Maraca” fica devendo R$ 3.305 milhões. Ou seja, deve existir, hoje, uma divida de mais de R$ 16 milhões. O consórcio, que administra o Maracanã, admitiu que fechou o ano de 2013 com débito de R$ 40 milhões. Não vai demorar para que um deputado federal, ligado a algum time de futebol, elabore um projeto de lei para tirar as arenas de suas situações falimentares. O que a Copa do Mundo nos legou foram gaiolas de ouro com passarinhos morrendo de fome. São 12 belas arenas para times de 5ª categoria jogar. A Copa não nos legou nada e ainda nos indicou o caminho do fundo do poço. Porca miséria de futebol essa que temos.

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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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