Ontem, eu adaptei a frase de Millôr Fernandes (“No Brasil, o fundo do poço é só uma etapa”) para
a realidade do futebol. A traulitada de
“7 X 1” que levamos da Alemanha foi apenas uma etapa rumo às profundezas de um
poço que não sabemos se fundo tem. Hoje, eu vou mostrar que a desorganização do
e no futebol, somada aos oportunismos dos que só visam o lucro desmedido, ainda
vai nos igualar aquelas distantes ilhas da Oceania onde não se sabe se o
futebol é jogado com os pés ou com as mãos. Um pouco mais de 5 meses nos
separam da final da Copa do Mundo que prometia ser a maior de todas. Na
verdade, ela foi sim a maior e melhor das Copas para os alemães e para aqueles
que lucraram com as obras das arenas e com as que não terminaram.
Para nós, a sociedade brasileira, a
Copa da FIFA foi um amontoado de prejuízos. Ficamos sem os tais legados sociais
e com uma colossal vergonha pelo vexame do time que o senhor Luiz Felipe
Scolari montou ou desmontou. A Copa acabou nos deixando a constatação que o
futebol que se pratica na Europa é bem melhor do que temos aqui. A bordoada,
que os alemães nos deram, provou que o Brasil não ensina mais nada em termos de
futebol para quem quer que seja. Gastamos o que não podíamos para construir as
reluzentes arenas. Agora já sabemos que o PIB de 2015 será vergonhosamente
pequenino, pois, claro, temos que pagar a conta de uma festa que montamos para
os outros se divertirem.
A Copa do Mundo acabou
no domingo (13/07) e já na quarta-feira (16/07) a temporada do futebol
brasileiro retomava como se nada tivesse acontecido. O Campeonato Brasileiro se
arrastou melancolicamente com os piores times de futebol que já vi jogar. Após
a Copa, os torcedores sumiram dos estádios. As arenas, padrão FIFA, passaram a
ser utilizadas para jogos padrão CBF. O público não ia aos jogos por causa do
baixo padrão técnico e dos preços escorchantes cobrados para a manutenção das
arenas. A Folha de São Paulo apurou que apenas três, das doze sedes da Copa,
conseguem, a duras penas é bom que se diga, manter ocupação acima de 50% de
suas capacidades. São elas o Itaquerão, a Arena da Amazônia e o Mineirão.
O Itaquerão, em São
Paulo, foi erguido ao custo de R$ 1,1 bilhão. Ele tem uma capacidade para 48
mil torcedores sentados. Após a Copa, ele só foi usado em 16 jogos oficiais com
uma ocupação média de 30.196 torcedores. A renda média mensal do Itaquerão foi
de R$ 1.885 milhão, mas o seu custo mensal é de R$ 2,5 milhões. Ou seja, a
arena do Corinthians está operando no vermelho. Isso está gerando uma dívida.
Sabe quem vai pagá-la? Nós, pois o governo vai perdoá-la.
É bom não esquecer que
o Congresso Nacional não perde tempo em votar leis que perdoam as dívidas dos times
de futebol. A Arena da Amazônia, em Manaus, teve ocupação acima de 62% de sua
capacidade. Sabe quantos jogos oficiais ocorreram, nesta arena, desde que a
Copa do Mundo acabou? Apenas quatro. A Arena Amazônia custou R$ 670 milhões.
Seu custo mensal é de R$ 700 mil e sua renda média mensal foi de pouco mais de
R$ 2 milhões. Certo, em Manaus se apura mais do que se gasta. Mas, com apenas
quatro jogos oficiais em cinco meses o investimento, feito na obra, só será
pago nos próximos 350 anos. O palco da hepta goleada germânica teve ocupação
média de 51% de sua capacidade.
Se levarmos em
consideração que o Mineirão foi palco das finais da Recopa e da Copa do Brasil,
vencidas pelo Atlético Mineiro, e de jogos do Cruzeiro, campeão brasileiro de
2014, veremos que essa média de ocupação deixa a desejar. A Folha de São Paulo
mostra que nestes cinco meses de futebol sem graça, as 12 arenas receberam 218
partidas oficiais, com uma média geral de 18.300 torcedores. O que se lucrou
nestes cinco meses não paga a manutenção mensal das arenas. O Maracanã, templo
mundial do futebol, foi reformado ao custo de R$ 1 bilhão para ter uma
capacidade de 78 mil torcedores. Nestes cinco meses teve público médio de
25.520 pessoas, ou seja, 32% de sua capacidade foi ocupada a cada jogo oficial.
A renda média mensal do Maracanã é de R$ 695 mil. Seu custo médio mensal é
de R$ 4 milhões. Isso significa que a cada mês a administração do “Maraca” fica
devendo R$ 3.305 milhões. Ou seja, deve existir, hoje, uma divida de mais de R$
16 milhões. O consórcio, que administra o Maracanã, admitiu que fechou o ano de
2013 com débito de R$ 40 milhões. Não vai demorar para que um deputado federal,
ligado a algum time de futebol, elabore um projeto de lei para tirar as arenas
de suas situações falimentares. O que a Copa do Mundo nos legou foram gaiolas
de ouro com passarinhos morrendo de fome. São 12 belas arenas para times de 5ª
categoria jogar. A Copa não nos legou nada e ainda nos indicou o caminho do
fundo do poço. Porca miséria de futebol essa que temos.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário