quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O PARTIDO NOVO NÃO PARECE SER NOVO.


Em 2005, quando o Partido Republicano Brasileiro (PRB) e o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) tiveram seu registros deferidos, junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), já tínhamos 24 partidos políticos funcionando no Brasil. Vejam algo interessante. Enfrentamos duas longas ditaduras desde que a República foi proclamada em 1889. Só viemos realmente saber como funcionam os procedimentos democráticos um dia desses, quando eleição passou a ser algo corriqueiro entre nós. Com uma história politica recente tão fragilmente democrática, recheada de entulhos autoritários, deveríamos ter poucos partidos. Num caldo de cultura politica tão pouco republicano, criar um partido, no Brasil, deveria ser algo muito difícil.

Mas, pelo contrário, criar um partido em terras tupiniquins é bastante fácil, custa quase nada, e pode ser um negócio extremamente rentável. Aqui, termina sendo mais fácil criar um partido do que constituir um empreendimento comercial. Aliás, o sonho de ter um partido para chamar de seu é acalentado por 10 entre 10 políticos brasileiros. O caro leitor faça uma busca rápida pelo Google e verá algo em torno de 20 listas colhendo assinaturas para que se tente registrar mais e mais partidos. Você duvida que seja assim? Veja que só no ano de 1997 foram registrados cinco partidos. Em 2011 foram registrados o Partido Social Democrático (PSD) e o Partido da Pátria Livre (PPL). Em 2012, o Partido Ecológico Nacional (PEN) conquistou seu lugar ao sol. Em 2013, o Partido Republicano da Ordem Social (PROS) e o Solidariedade (SDD) tiveram o acordão de seus registros publicados.

Chegamos em 2014 com 32 partidos políticos. Se você não gosta de números pares, não tem problema, pois muito em breve passaremos a ter 33 agremiações partidárias. Pelo andar da carruagem, chegaremos em 2020 com algo em torno de 40 partidos. Segundo o site do TSE, 13 partidos políticos pediram registro desde o final de 2013. O TRE amazonense informa, por exemplo, que por lá surgiu o Partido da Transformação Nacional (PTS), que já conta com cerca de 300 mil assinaturas.

Já tramitam no TSE os processos do Movimento Democrático (MD), do Partido das Mulheres Brasileiras (PMB), do Partido Militar Brasileiro (PMB), do Partido dos Aposentados e Idosos (PAI), do Partido Pirata do Brasil (PPB) e por aí vai. Em breve eles estarão no guia eleitoral. Aguarde e você verá. Só quem teve reais dificuldades para se registrar foi o “REDE Sustentabilidade”, de Marina Silva, que teve seu processo rejeito pelo TSE. Mas, isso já é outra questão, pois o REDE não se tornou partido por causa de manobras nos bastidores políticos. A 33ª sigla será o PARTIDO NOVO. Isso mesmo, não é brincadeira, este é o nome da nova agremiação. A primeira vez que vi algo sobre o NOVO imaginei que este nome era provisório. Cheguei a pensar que era mais um desses costumeiros fakes das redes sociais.

Estam na fila do TSE, esperando registro, o Partido Liberal Brasileiro (PLB), a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), o Partido Democrata Progressista (DEMPRO) e a Frente Socialista do Brasil (FSB). Estes partidos ficaram de fora das eleições 2014 porque seus processos ainda tramitam no TSE, mas duvido que se repita com eles o processo sofrido pelo “REDE Sustentabilidade”. Em tempo: essa ARENA aí é aquela mesma que deu sustentação ao governo militar, no Congresso Nacional, desde que o Ato Institucional nº 02, de outubro de 1965, acabou com todos os partidos e criou o sistema bipartidário. Esta ARENA está sendo recriada por um bando de saudosistas do tempo em que o Estado prendia, torturava, matava e fazia os corpos de seus opositores desaparecerem.
 
O PARTIDO NOVO se auto adjetiva dessa forma por que quer ser uma novidade na política. Nada que vários outros partidos não tenham tentado, mesmo que, claro, não tem conseguido, pois eles nascem novos, defendendo ideias antigas, e praticando algo que bem conhecemos. O PARTIDO NOVO não é contra, nem a favor, muito menos pelo contrário. Seu presidente, João Amoêdo, diz que: “Poderia dizer que somos de esquerda porque queremos melhorar a vida das pessoas ou que somos de direita porque cremos no livre mercado”. A condição murista do partido se prova quando João Amoêdo diz que “somos de centro pela atuação equilibrada e com bom senso”. Quer dizer que um partido só poder ter uma atuação equilibrada e de bom senso se for de centro? Se ele for de esquerda ou de direita tenderá ao desequilíbrio? O presidente do PARTIDO NOVO não deveria se vangloriar disso, pois estas são qualidades que buscamos em todos os partidos. Aliás, os partidos não estam fazendo mais do que a obrigação ao desenvolverem uma atuação pautada no equilíbrio e no bom senso.

Isso não deveria ser um diferencial e sim algo praticado independente de ideologias. Amoêdo diz que o PARTIDO NOVO surgiu por causa da indignação de um grupo de pessoas com os altos impostos pagos e a péssima qualidade dos serviços públicos prestados. Seguindo uma tendência nacional, o NOVO surge para atender interesses específicos e com uma pauta de reivindicações sintonizada em um único setor da sociedade. Cada vez mais os partidos são mais partidos, voltados para categorias profissionais ou sociais. O presidente do NOVO diz que não quer que seu partido tenha militância. Como assim?! Ele não quer ativistas em seu partido?! Ao mesmo tempo, ele pede o engajamento e a participação dos que anseiam por mudanças. Este é o primeiro partido que vejo surgir já dispensando a possibilidade de crescer pelo número de militantes e filiados. Estranho. Muito Estranho!

O PARTIDO NOVO diz não querer afinidades com nenhum grupo especifico. Seu presidente afirma que a base do partido são os valores, as ideias e os princípios. Como as agremiações são partidas, não são inteiras, então se espera mesmo que elas sejam assim. Apenas, falta, ainda, o NOVO divulgar quais são seus valores, princípios e ideias. A exceção desse ideário liberalizando, o NOVO não apresenta um programa claro. O partido fica na superficialidade quando diz que “quer ser uma opção para os que buscam mudanças e desejem trabalhar para transformar o Brasil”. Tudo muito generalista. Ao que parece a única novidade do NOVO está em seu nome. Em termos de ideias e discurso vemos mais do mesmo. A torcida é para que o NOVO não se torne uma daquelas siglas de vida fácil que se entrega por qualquer trocada ou por qualquer cargo.

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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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