Na Índia uma mulher é estuprada a cada 20 minutos, todos os
dias, todos os meses, todos os anos. Em junho, uma indiana foi a uma delegacia
em busca de informações sobre seu marido, que havia sumido há vários dias.
Chegando lá ela foi estuprada por três policiais. Um deles disse que “uma mulher que vai sozinha a uma delegacia
não pode esperar tratamento diferente”. É comum, na Índia, as mulheres
serem enforcadas depois de sofrerem abuso sexual. Outro dia, uma adolescente
foi violentada, obrigada a beber ácido e estrangulada até a morte por vários
homens. Essa barbárie acontece na Índia porque as mulheres vivem em um estado
degradante, tidas como menos dignas de respeito.
Mas, essa realidade não é exclusiva
da Índia. Segundo a Organização Mundial da Saúde o estupro é um crime praticado
em países ricos, em desenvolvimento, pobres e paupérrimos. Ou seja, existem
psicopatas animalescos espalhados pelo mundo todo. A OMS mostra que até mesmo
na Suécia, país conhecido por seus avanços sociais e econômicos, as taxas de
estupro rivalizam com as de algumas nações africanas onde o estupro faz parte
da cultura e das tradições sociais e religiosas. No Brasil a situação não é
diferente. É bem verdade que aqui não se pratica, diária e livremente, as
barbáries da Índia, mas não temos do que nos orgulhar. Pelo contrário, aqui, o
estupro é sistematicamente praticado e até defendido.
O Fórum Brasileiro de
Segurança Pública mostra que há uma tendência de alta desse crime hediondo
entre nós. Em 2010 foram 41.180 casos. Em 2011 tivemos 42.482 e em 2012 ultrapassamos
a casa dos 50 mil casos. Só em 2013 foram 50.320 casos. Esses números são subestimados,
pois se calcula que apenas 35% das brasileiras estupradas vão a polícia
registrar queixa contra seus agressores. O comparativo com a taxa de estupros
por 100 mil habitantes é alto, se considerarmos que temos instrumentos legais
como a “Lei Maria da Penha”. Em 2012 tivemos, por exemplo, 25 casos de estupro
em cada grupo de 100 mil mulheres.
E lá vem o meu
realismo pessimista de sempre. Lamento dizer, mas não creio que, em 2015, essa
taxa possa diminuir. Principalmente agora que temos um deputado que se confessa
um estuprador, enquanto discursa na tribuna da Câmara Federal. É isso mesmo, o
caro ouvinte não se enganou. Na terça-feira, dia 09, o Deputado Federal Jair
Bolsonaro disse que só não "estupraria" a também deputada Maria do
Rosário (PT/RS), ex-ministra de Direitos Humanos, porque ela "não
merecia". Bolsonaro é um sociopata que sofre de ginecofobia, ele tem medo
de mulheres, por isso as ataca. Agindo assim, se equiparou a Paulo Maluf que
certa vez disse que o homem que tem desejo sexual pode até estuprar, só não
pode matar.
Bolsonaro odeia a
democracia com todas as suas forças, tanto é que defende e luta para que
voltemos aos tempos da ditadura quando mulheres, adversárias do regime militar,
eram sistematicamente torturadas e/ou violentadas nas prisões do Estado
autoritário. E não ficou nisso. Numa entrevista ao Jornal Zero Hora, o
truculento deputado disse não temer processos e completou a ofensa. Ele afirmou
que a deputada Maria do Rosário é uma vagabunda e que não merece se estuprada
"porque é muito feia". Em março de 2013, ele chamou Eleonora
Menicucci, Secretaria da Presidência da República de Políticas para as
Mulheres, de "sapatona". Em 2011, ele discutiu com a senadora Marinor
Brito e disse que o partido dela, o PSOL, é uma "coisa de viados".
A mãe de todas as
dúvidas é: quando é que esse desvairado será punido? Afinal, ele deixou claro
que é, sim, capaz de praticar um crime tipificado no código penal brasileiro.
Além do mais, ele feriu de morte o tal decoro parlamentar. Bolsonaro é um psicopata, despido de caráter
e de educação. Mas, não lhe falta inteligência. Ele diz essas barbaridades se
escudando no artigo 53 da Constituição Federal que garante imunidade e
inviolabilidade ao parlamentar. Esse artigo diz que "deputados e senadores
são invioláveis no exercício do mandato, por suas opiniões, palavras e
votos". Sem contar que esse Congresso Nacional, conservador e
corporativista que temos, não punirá um dos seus nem sob pressão da sociedade.
Eu já me acostumei a verborragia autoritária “bolsonariana”. Sabe o que me
incomoda e muito me preocupa? É que tantas pessoas concordem com as opiniões
estultas de Bolsonaro. Vejam que ele foi eleito deputado, pelo Rio de Janeiro,
em 1º lugar. Ele teve exatos 464.572 votos. Ou seja, mais de 400 mil pessoas
concordam que ele deve seguir na Câmara Federal defendendo a ideia de que
existem mulheres que merecem ser estupradas por serem bonitas. O que será que
as eleitoras de Bolsonaro acham disso? O fato é que o estupro é socialmente
aceito, pois os estupradores não são, em geral, indivíduos antissociais. Eles
são pais de família, têm emprego fixo e não se isolam da sociedade. O
estuprador está entre nós e é até mesmo eleito para nos representar.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário