O Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba aprovou,
na terça-feira, o envio de tropas federais para a cidade de Campina Grande com
o intuito de garantir “o bom andamento das Eleições Municipais de 2012 no 2º
turno, assim como aconteceu no 1º turno”. O TRE acatou, de forma unânime, solicitação
dos quatro juízes eleitorais que atuam em Campina Grande. Eles justificaram o
pedido pelas preocupações com o bom andamento do pleito para evitar abusos,
transgressões e acirramentos. O TRE paraibano deixou claro que o Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) só homologa esse tipo de pedido por turno de eleição.
Assim, o pedido para o 2º turno deve seguir, ainda, para a apreciação do TSE em
Brasília.
Eu não vou entrar no mérito da questão. Discutir se
é ou não necessário à presença de militares federais em nossa cidade é ficar na
superficialidade da questão. Pois existem argumentos plausíveis contra e a
favor. Se olharmos pelo lado de que a eleição do 1º turno transcorreu
tranquilamente não veremos necessidade das tropas federais em solo campinense.
Mas, se lembrarmos de fatos ocorridos em 2008, concordaremos com o pedido dos
juízes eleitorais.
Na verdade, o que eu quero discutir é se vale a
pena continuarmos a aceitar passivamente que o espaço público civil continue
sendo militarizado. O fato é que o uso dos militares federais para a manutenção
da lei e da ordem não é mais uma novidade.
Durante a ditadura, os militares federais estavam
nas ruas porque ocupavam o poder central do país. Mas, porque continuar a usar
a força nacional, depois que fizemos o processo de liberalização política, e
chegamos a esse sistema que se utiliza de procedimentos democráticos? Lembrem que o Exército
foi chamado para garantir a realização da Conferência ECO-92.
Na época os governos estadual e federal reconheciam suas incapacidades para garantirem a segurança dos chefes Estados que nos visitavam, então chamaram os homens de verde. Tornou-se comum a utilização de tropas federais na cidade do Rio de Janeiro. Conflagrada pelo tráfico e pelas milícias, toda e qualquer força passou a ser útil na tentativa de pacificar a “Cidade Maravilhosa”.
Na época os governos estadual e federal reconheciam suas incapacidades para garantirem a segurança dos chefes Estados que nos visitavam, então chamaram os homens de verde. Tornou-se comum a utilização de tropas federais na cidade do Rio de Janeiro. Conflagrada pelo tráfico e pelas milícias, toda e qualquer força passou a ser útil na tentativa de pacificar a “Cidade Maravilhosa”.
Em 2006, em São Paulo, o
PCC lançou um ataque maciço e coordenado às instituições coercitivas estaduais
e federais. O governador paulista titubeava sobre aceitar ou não o envio das
tropas federais, enquanto agentes públicos eram mortos nas ruas. Devido às intervenções de toda sorte do crime
organizado e das perversões de nosso sistema político eleitoral as tropas
federais começaram a ser cada vez mais utilizadas em eleições. Aqui em Campina
Grande não é diferente.
Desde o final da década de 90, o Exército vem sendo
utilizado para garantir a segurança de eleições em Campina e em outras cidades
da Paraíba. Como eu disse a questão não é se temos ou não a necessidade disso. A questão é que nos habituamos a ter militares
federais em nosso entorno. Acostumamo-nos a chamar o Exército para resolver os
problemas que deveriam ser tratados por nós mesmos, os civis, já que eles
surgem na sociedade em que vivemos, causados por nós mesmos.
Ao fazermos isso não estamos sendo incoerentes, já
que as Forças Armadas são a instituição com o maior índice de credibilidade no
país. Juntamente com a Igreja e com o Corpo de Bombeiro, o Exército é a
instituição mais confiável. É sintomático que uma instituição coercitiva seja a
mais confiável. E não deveria, pois se somos civis, teríamos que emprestar
nossa credibilidade aos partidos políticos, aos governos, ao Congresso
Nacional, aos políticos, ao judiciário, a imprensa, etc, etc, etc.
Mas, o fato é que a contradição de sermos civis e
aceitarmos a militarização de nosso espaço público tem um custo. O Estado
Moderno em que vivemos tem características próprias. Uma delas é a divisão de
funções entre suas instituições. Às Forças Armadas são responsáveis pela guerra
e pela segurança das fronteiras. Os órgãos de segurança pública cuidam da ordem
interna. Às polícias caberia resolver os conflitos sociais. O Exército daria
conta da defesa da soberania frente às outras nações.
Por isso que polícia e Exército devem receber doutrinas,
armamentos, instruções e treinamentos distintos. Mas, no Brasil, essas
competências estão embaralhadas. Vejamos que no artigo 142 da Constituição
Federal o Exército ganha poder de polícia. Já no artigo 144, a polícia torna-se
força auxiliar das Forças Armadas. Assim, cada vez mais o Exército adquire o
poder de policiar a sociedade. A “policialização” das Forças Armadas ocorre ao
mesmo tempo em que há a militarização da polícia que, não por acaso, é uma das
poucas do mundo a ser militar.
É por isso que em vários processos eleitorais as
tropas federais são chamadas para fazer aquilo que agentes de segurança pública
é que deveriam fazer. Sem contar que, dessa maneira, são as armas que garantem
o funcionamento das urnas, quando deveria ser o contrário.