Seguindo a lógica
do processo de colonização, Campina Grande surgiu, como a “Vila Nova da Rainha”
para atender as necessidades da Coroa Portuguesa. O nosso “descobridor” foi
Teodósio de Oliveira Ledo, mas eu preferia que tivesse sido outro. É que
Teodósio era um raivoso serial killer. Ele matou tantos índios na grande
Campina, que ocupava em nome de Portugal, que a própria coroa lhe enviou uma
carta pedindo que tivesse moderação.
Caso similar só o
do Gal. George Custer que, na metade do século XIX, foi repreendido pelo
governo dos EUA pela carnificina que promovia no oeste. O governo mandara
Custer controlar os índios, mas, tal qual Teodósio, ele passou a exterminá-los.
Certa vez eu
falava disso em sala de aula e um aluno afirmou que eu sou um campinense que
não deu certo. Eu disse a ele que tenho lá meus sentimentos em relação à cidade
onde nasci, me criei, constitui família, onde vivo, moro e trabalho.
E disse que isso
não significa que eu tenha que fazer declarações de amor a minha cidade.
Também, não pode servir de justificativa para que eu feche os olhos para os
problemas e defeitos que temos. Pois a cidade é feita pelas pessoas que nela
moram.
Claro, eu não
gosto que alguém de fora fale mal de Campina. É que eu, como a maioria dos
campinenses, acho que para falar mal de Campina tem que ter bebido das águas do
Açude Velho e tem que ter ido, pelo menos uma vez, no Clube Ipiranga. Só fala
mal de Campina quem, nas sextas-feiras, ia ao Clube dos Estudantes Universitários,
o velho e bom “CEU”. Para criticar Campina, só quem saia do “CEU”, atravessava
a rua e entrava no “CAVE”, do saudoso Carlinhos, e depois tirava a pé, com o
dia amanhecendo, lá para o Catolé para ouvir o Bolero de Ravel no REFAVELA.
Eu deixo você
esculhambar com Campina se depois do REFA, a pé também, ia lá para a Feira
Central comer picado de bode com pão e tomar uma lapada de cana lá em D. Maria
do picado. E se não tiver comido a tapioca de D. Maria é melhor nem abrir a
boca. Para mandar ver em minha Campina tem que ter conhecido o Açude de
BODOCONGÓ no tempo em que ele ainda era um açude e que fazia Jackson do
Pandeiro feliz. Elba Ramalho pode falar mal de Campina, pois ela foi feliz lá
no meu Bodocongó.
Certa vez, nos idos do final da década de 80 (que foi perdida para o
Brasil e para Campina Grande) Gilberto Gil veio aqui lançar o Movimento Onda
Azul, no tempo em que era mais fácil ver um marciano vermelho do que um
ecologista. Numa entrevista, Gilberto Gil disse que “Campina Grande tem uma vontade danada de ser New York”. Muita
gente não gostou. Alguns diziam: “quem ele pensa que é para vir aqui e falar
mal de nossa cidade”.
Eu fiquei com raiva de Gilberto Gil. Lembro ter dito: “porque ele não vai
falar mal de Salvador?”. Hoje, olhando em perspectiva, entendo bem o que Gil
quis dizer. É que o campinense é um enxerido por natureza e exibido por
definição.Se não fosse
essa vontade de ser New York, de ser grande, onde estaríamos hoje? Imagine se
nossa vontade fosse ser igual a uma cidade perdida lá do sul dos EUA?
Campinense que é campinense não tem o complexo de vira-latas Nelson
Rodriguiano.
Campinense da gema
nasce aprendendo a lamber suas feridas e não esquece nossa vocação para o
desenvolvimento e que exalamos política e cultura por todos os poros. Não fosse nosso complexo de superioridade
seríamos quase insignificantes.
Como teríamos conseguido
ser a segunda maior exportadora de algodão do mundo se sofrêssemos de um
irremediável complexo de inferioridade? Eu sei que temos que conviver com o
fato de, pelo menos nisso, sermos vice-campeões. Mas, dá para concorrer com
Liverpool, a cidade que ofereceu os Beatles ao mundo? Tudo bem, ficamos em 2º
lugar no algodão, mas quem se desenvolveu mais do que nós graças um produto
agrícola? Foi pura inventividade termos aproveitado os lucros auferidos pelo
ouro branco.
Mas, vejam como
são as coisas, um dos símbolos dessa época de apogeu foi um cabaré, mas não um
cabaré qualquer. Foi no salão do Eldorado que desfilou nossa riqueza econômica
e política que os tropeiros trouxeram para Campina. Foi isso que Luiz
Gonzaga percebeu e cantou tão bem nos “Tropeiros da Borborema”. Aliás, o rei do
baião nasceu em Exu (PE), mas bem que poderia ter nascido aqui. Assim teríamos
mais uma coisa do que nos orgulhar.
Já pensou
colocarmos um grandioso e luminoso portal à entrada principal da cidade que
diria em letras garrafais: “você está chegando à terra do Rei do Baião”. Mas, temos o Maior São João do Mundo, olha aí
nosso complexo de superioridade à flor da pele. É como se olhássemos de cima
para baixo para todo o Brasil e disséssemos: “somos os fiéis depositários da
cultura popular tupiniquim”. Dai que a prefeitura municipal de Campina Grande
bem que poderia se valer dessa vontade danada de ser New York.
Bem que poderia
colocar um portal colossal à entrada de quem vem da capital anunciando não uma
marca de cervejas qualquer, mas que se está chegando à cidade que faz a maior
festa popular do mundo, quiçá da Via Láctea.
Quem tem complexo
de superioridade não deve ter vergonha de nada. Se somos grandes, temos que nos
orgulhar até dos nossos problemas urbanos, pois só os tem quem é grande. Agora
que estamos no 2º turno eu decidi que vou votar naquele que prometer que vai
transformar Campina Grande na New York do sul do Equador.