quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Campina só quer ser New York.






Seguindo a lógica do processo de colonização, Campina Grande surgiu, como a “Vila Nova da Rainha” para atender as necessidades da Coroa Portuguesa. O nosso “descobridor” foi Teodósio de Oliveira Ledo, mas eu preferia que tivesse sido outro. É que Teodósio era um raivoso serial killer. Ele matou tantos índios na grande Campina, que ocupava em nome de Portugal, que a própria coroa lhe enviou uma carta pedindo que tivesse moderação. 




Caso similar só o do Gal. George Custer que, na metade do século XIX, foi repreendido pelo governo dos EUA pela carnificina que promovia no oeste. O governo mandara Custer controlar os índios, mas, tal qual Teodósio, ele passou a exterminá-los.



Certa vez eu falava disso em sala de aula e um aluno afirmou que eu sou um campinense que não deu certo. Eu disse a ele que tenho lá meus sentimentos em relação à cidade onde nasci, me criei, constitui família, onde vivo, moro e trabalho.




E disse que isso não significa que eu tenha que fazer declarações de amor a minha cidade. Também, não pode servir de justificativa para que eu feche os olhos para os problemas e defeitos que temos. Pois a cidade é feita pelas pessoas que nela moram.




Claro, eu não gosto que alguém de fora fale mal de Campina. É que eu, como a maioria dos campinenses, acho que para falar mal de Campina tem que ter bebido das águas do Açude Velho e tem que ter ido, pelo menos uma vez, no Clube Ipiranga. Só fala mal de Campina quem, nas sextas-feiras, ia ao Clube dos Estudantes Universitários, o velho e bom “CEU”. Para criticar Campina, só quem saia do “CEU”, atravessava a rua e entrava no “CAVE”, do saudoso Carlinhos, e depois tirava a pé, com o dia amanhecendo, lá para o Catolé para ouvir o Bolero de Ravel no REFAVELA.









Eu deixo você esculhambar com Campina se depois do REFA, a pé também, ia lá para a Feira Central comer picado de bode com pão e tomar uma lapada de cana lá em D. Maria do picado. E se não tiver comido a tapioca de D. Maria é melhor nem abrir a boca. Para mandar ver em minha Campina tem que ter conhecido o Açude de BODOCONGÓ no tempo em que ele ainda era um açude e que fazia Jackson do Pandeiro feliz. Elba Ramalho pode falar mal de Campina, pois ela foi feliz lá no meu Bodocongó.




Certa vez, nos idos do final da década de 80 (que foi perdida para o Brasil e para Campina Grande) Gilberto Gil veio aqui lançar o Movimento Onda Azul, no tempo em que era mais fácil ver um marciano vermelho do que um ecologista. Numa entrevista, Gilberto Gil disse que “Campina Grande tem uma vontade danada de ser New York”. Muita gente não gostou. Alguns diziam: “quem ele pensa que é para vir aqui e falar mal de nossa cidade”.




Eu fiquei com raiva de Gilberto Gil. Lembro ter dito: “porque ele não vai falar mal de Salvador?”. Hoje, olhando em perspectiva, entendo bem o que Gil quis dizer. É que o campinense é um enxerido por natureza e exibido por definição.Se não fosse essa vontade de ser New York, de ser grande, onde estaríamos hoje? Imagine se nossa vontade fosse ser igual a uma cidade perdida lá do sul dos EUA? Campinense que é campinense não tem o complexo de vira-latas Nelson Rodriguiano.




Campinense da gema nasce aprendendo a lamber suas feridas e não esquece nossa vocação para o desenvolvimento e que exalamos política e cultura por todos os poros.  Não fosse nosso complexo de superioridade seríamos quase insignificantes.




Como teríamos conseguido ser a segunda maior exportadora de algodão do mundo se sofrêssemos de um irremediável complexo de inferioridade? Eu sei que temos que conviver com o fato de, pelo menos nisso, sermos vice-campeões. Mas, dá para concorrer com Liverpool, a cidade que ofereceu os Beatles ao mundo? Tudo bem, ficamos em 2º lugar no algodão, mas quem se desenvolveu mais do que nós graças um produto agrícola? Foi pura inventividade termos aproveitado os lucros auferidos pelo ouro branco.




Mas, vejam como são as coisas, um dos símbolos dessa época de apogeu foi um cabaré, mas não um cabaré qualquer. Foi no salão do Eldorado que desfilou nossa riqueza econômica e política que os tropeiros trouxeram para Campina. Foi isso que Luiz Gonzaga percebeu e cantou tão bem nos “Tropeiros da Borborema”. Aliás, o rei do baião nasceu em Exu (PE), mas bem que poderia ter nascido aqui. Assim teríamos mais uma coisa do que nos orgulhar.




Já pensou colocarmos um grandioso e luminoso portal à entrada principal da cidade que diria em letras garrafais: “você está chegando à terra do Rei do Baião”.  Mas, temos o Maior São João do Mundo, olha aí nosso complexo de superioridade à flor da pele. É como se olhássemos de cima para baixo para todo o Brasil e disséssemos: “somos os fiéis depositários da cultura popular tupiniquim”. Dai que a prefeitura municipal de Campina Grande bem que poderia se valer dessa vontade danada de ser New York.




Bem que poderia colocar um portal colossal à entrada de quem vem da capital anunciando não uma marca de cervejas qualquer, mas que se está chegando à cidade que faz a maior festa popular do mundo, quiçá da Via Láctea.




Quem tem complexo de superioridade não deve ter vergonha de nada. Se somos grandes, temos que nos orgulhar até dos nossos problemas urbanos, pois só os tem quem é grande. Agora que estamos no 2º turno eu decidi que vou votar naquele que prometer que vai transformar Campina Grande na New York do sul do Equador.