terça-feira, 23 de outubro de 2012

FATOS POUCO REPUBLICANOS E A FESTA DA DEMOCRACIA - O CASO DE ESPERANÇA.






Logo que acabou o primeiro turno eu solicitei a alunos, colegas e amigos que me enviassem relatos sobre fatos ocorridos na eleição de 07 de outubro passado. Eu pedi narrações que deem conta do quanto nossa cultura política é pouco democrática e de fatos que demonstrem a fragilidade de nossas instituições. O que quero é ter exemplos que mostrem o nosso comportamento pouco republicano em eleições. E quero entender como conseguimos tornar o simples ato de escolher nossos representantes em uma grande festa - a festa da democracia.




Hoje eu vou tratar da eleição na cidade de Esperança. Os fatos me foram relatados por Fernanda Almeida, moradora de lá , ouvinte do Jornal Integração e minha aluna. Lá aconteceu o imponderável. Vejamos que Anderson Monteiro foi eleito prefeito com 9.411 votos e Nilber Almeida ficou em segundo lugar com 9.066 votos.




Mas, eles não eram candidatos até um dia antes da eleição. Os postulantes eram o deputado estadual Arnaldo Monteiro (PSC) e o prefeito, candidato a reeleição, Nobson Almeida (PSB). Os acontecimentos fizeram com que eles não mais concorressem. O fato de termos uma eleição que foi resolvida com uma diferença de apenas 345 votos, num universo de 18.477, já diz muito do estado de coisas nesse município. Vejamos os fatos e notem que tudo ocorreu em um espaço de menos de 24 horas.




Na véspera da eleição, por volta das 17 horas, circulou de mão em mão cópias de uma decisão, assinada pelo Ministro Dias Tofolli do TSE, que indeferia a candidatura de Nobson Almeida, com base na Lei da Ficha Limpa, e o tornava inelegível por oito anos. Os eleitores de Arnaldo Monteiro foram às ruas comemorar, pois a decisão liquidava a fatura da eleição. Já os eleitores de Nobson foram protestar. Os conflitos foram inevitáveis e o caos estabeleceu-se. A Polícia Militar teve que vir para conter a confusão.




Ainda no sábado, por volta das 20 horas, o deputado Arnaldo Monteiro renunciou a sua postulação ao saber que sua candidatura seria negada pelo TSE. Assim, inverteu-se a situação. Quem comemorava passou a reclamar e quem reclamava, comemorou. Com o caos estabelecido, o que será que passava na cabeça do eleitor de Esperança? O que mais perturbava a todos era o fato dessas decisões terem ocorrido não um mês antes da eleição, mas a poucas horas das urnas abrirem.




O que o povo de Esperança se perguntava era o que se passava na cabeça do Ministro Toffoli para tomar tal decisão naquele sábado. Com um mínimo de sensatez, se deixaria para tomá-la na segunda-feira após a eleição. Se o TSE não foi capaz de julgar os casos de Esperança em tempo hábil, deveria ter tido um mínimo de habilidade política para não levar um município com quase 32 mil habitantes aos caos, a uma anomalia política e jurídica.










Mas, a lei permite que um candidato que desistiu, ou foi cassado, indique um substituto. Arnaldo Monteiro indicou seu filho, Anderson, para substituí-lo. Nobson Almeida escolheu seu sobrinho, Nilber, para ir às urnas no seu lugar. O povo de Esperança foi tentar dormir com a seguinte situação. Anderson Monteiro candidato, no lugar de Arnaldo. E Nilber Almeida, candidato no lugar de Nobson, mas esperando aprovação da justiça eleitoral. Agora, vamos imaginar o absurdo da situação.




No domingo da eleição, enquanto os eleitores se dirigiam as urnas, um carro de som anunciava às mudanças. Essa foi forma mais republicana do eleitor ficar sabendo em quem poderia votar. E havia a incerteza quanto à situação de Nilber Almeida. Ninguém sabia ao certo o que aconteceria com os votos que ele obtivesse caso a solicitação de seu registro não fosse aprovada no TRE. Os votos seriam anulados, mas isso não ficava claro e a incerteza e a insegurança só aumentavam.




Foi apenas por volta das três horas da tarde que o tal carro de som foi recolhido e que o TRE comunicou que a candidatura de Nilber era regular. Ou seja, durante quase todo o dia muitos votaram em um candidato sem saber se ele poderia mesmo ser votado. Anderson Monteiro foi eleito e não faltará quem questione se as coisas não poderiam ter sido diferentes. Sim, poderiam. O deputado Arnaldo e o prefeito Nobson teriam poupado esforços se não tivessem levado adiante suas candidaturas.




A justiça eleitoral pouparia o povo de Esperança dessa celeuma toda se fosse mais célere e não tivesse a compreensão unilateral de que todos devem esperar passivamente que ela finalmente tome uma decisão, mesmo que seja na véspera da eleição. A justiça eleitoral toma várias medidas para dar segurança à eleição, até pede tropas federais, mas parece não entender que com decisões como essa causa tumultos de toda sorte. Dessa forma, fica difícil querer que as pessoas festejem a democracia.




Agora, os eleitores de Nilber pedem a anulação da eleição que entrou com uma ação pedindo impugnação da candidatura de Anderson. Os advogados de Nilber dizem que um resultado sairá até a diplomação. A eleição em Esperança vai, agora, para o terceiro turno longe das ruas e das urnas. É Assim que funciona nossa democracia.