Ontem eu afirmei que Romero Rodrigues venceu por
ter decifrado o dilema dessa eleição. Ele entendeu que o eleitorado nem queria
um projeto independente e nem queria uma candidatura dócil e submissa aos
interesses de um chefe político. A estrela da campanha de Romero era ele
próprio. O Senador Cássio Cunha Lima aparecia, claro, mas não numa proporção
que pudesse ofuscar o candidato. O vice Ronaldo Fº, lógico, aparecia também,
mas havia todo um cuidado para que ele não roubasse a cena.
O contrário disso foi a exaustiva utilização, da
imagem de Veneziano, na campanha de Tatiana Medeiros. É como se houvessem duas
campanhas – a da própria Tatiana (secundária) e a do prefeito que visava
atingir o processo eleitoral de 2014. Como não dispunha de capital eleitoral
próprio, Tatiana se fiava na liderança de Veneziano e em sua capacidade de transferir
votos.
Aliás, um erro de sua campanha foi tentar capitalizar
votos com as aparições da presidente Dilma e do Ministro Padilha. A questão é
que Dilma não foi bem votada pelos campinenses em 2010. Mas, o mais importante
é o nosso exacerbado “campinismo”. É que nós somos barristas demais para
aceitarmos que alguém venha de fora dizer em quem devemos votar. A coordenação
da campanha de Tatiana Medeiros não percebia, mas cada vez que Dilma ou seu
ministro apareciam no guia eleitoral, os campinenses interpretavam como uma intromissão
descabida.
O contrário disso é que o
eleitorado campinense aceita, eu diria até exige, que cada candidato apresente
seu lastro de campanha. Ou seja, em Campina Grande ainda não há espaços para
candidaturas verdadeiramente independentes. Ainda não estamos preparados para
aceitar a tese da terceira via. Vejam que os candidatos que tentaram esse
caminho saíram-se mal nas urnas. O fato é que o dilema do poste ainda é bem
aceito em Campina Grande.
É como se precisássemos
de alguém, daqui mesmo claro, com suficiente liderança política para nos dizer
em quem devemos votar ou mesmo para servir de fiador de uma candidatura. Não é a toa que a campanha de Romero só deslanchou
quando o clã Cunha Lima aportou em sua campanha. Foi quando os ânimos se
acalmaram e os aliados que combatiam a postulação de Romero entenderam que
deviam cerrar fileiras e seguir o líder.
O maior problema de Tatiana é ter tido sua
candidatura fruto da vontade de uma única pessoa – o prefeito Veneziano. Desde
que anunciou sua vontade em forma de decisão que Veneziano teve que lidar com
toda sorte de problemas internos. Aliás,
os lideres políticos, como Ricardo Coutinho e nosso prefeito, ainda não
entenderam que tomar decisões isoladas e impô-las ao seu grupo é, em geral, um
suicídio político em doses lentas e nem um pouco homeopáticas.
Pelas regras do jogo, o ganhador leva tudo e o
perdedor não leva nada. Assim, Cássio Cunha Lima vai capitalizar essa vitória.
É bom não esquecer que o chamado “grupo dos 20 anos” voltará ao poder. Se vai ficar
mais 20 anos, neste momento, é impossível afirmar. Algo que vai importar é qual
o comportamento que terá Romero prefeito em relação ao grupo que faz parte.
Manterá a postura que teve na campanha ou aceitará que o grupo, na figura do
senador Cássio Cunha Lima, determine rumos e ações?
Para Veneziano o ônus da derrota é alto. Primeiro pelas
explicações que precisa agora prestar, considerando que a opção pela
candidatura de Tatiana foi um ato isolado seu. E segundo pela extensão dos
danos, que ele ainda sentirá, causados em seu futuro político.
Romero Rodrigues ainda comemora a vitória
inconteste que teve. Mas, a realidade lhe baterá às portas em breve. É preciso
cuidar da transição de governo. Algo que no Brasil é sempre difícil pela
tradição e cultura política pouco republicana que temos. É precisar retomar as articulações com os antigos,
circunstâncias e novíssimos aliados visando compor o secretariado do novo
governo.
Pela experiência que traz da vida parlamentar,
Romero deve começar já a entabular conversar com os vereadores eleitos. Um dos
primeiros atos dos vereadores após a posse em 01 de janeiro de 2013 é a eleição
da Mesa Diretora da Câmara Municipal. Romero sabe, pela experiência, que se o
presidente da Câmara não for um aliado a vida do prefeito pode ficar difícil.
Veneziano que o diga.
Claro, Romero terá que começar a pensar como vai
colocar em prática os projetos e proposta apresentados na campanha eleitoral.
Terá que se concentrar para definir como cumprirá as promessas feitas. É que
aqueles que ainda comemoram vão em algum momento voltar ao normal. Ficarão
sóbrios, deixarão as paixões de lado. Provavelmente, já terão esquecido em quem
votaram e vão, então, querer saber se as promessas já foram cumpridas.
Se sim, dirão que o prefeito não está fazendo mais
do que a obrigação. Se não, irão depositar nele a culpa por todas as mazelas de
nossa sociedade. Essa é a regra do jogo, Sr. Prefeito, bem vindo ao mundo real.