Eu tenho acompanhado uma movimentação estranha na
política paraibana. Atores políticos relevantes que participaram ativamente
(como candidatos) do 1º turno passaram a assumir uma postura de neutralidade
para este 2º turno. Eu vou analisar essa questão, pois considero que nada pode ser
mais tendencioso do que a neutralidade de um ator político. Se na política
vive-se de fazer escolhas e buscar alternativas, adotar a neutralidade soa, no
mínimo, falso.
Na química, o elemento neutro é aquele que nem é
ácido e nem é base. Na física, neutros são os corpos sem eletrização, são os condutores
que não sediam correntes. Já na gramática, neutras são as palavras que não são
nem masculinas nem femininas. Nas relações de poder entre nações, um Estado é
neutro quando não toma parte em uma guerra. Nações que não participam de um conflito
direta ou indiretamente são chamadas neutras, já as que se envolvem são tidas
como beligerantes.
Em política, assumir-se neutro é não ter (ou não
querer ter) uma posição definida. A neutralidade na política é, em geral, a
atitude de quem prefere não assumir uma posição política à frente de todos para
se preservar para outros momentos. De antemão eu devo dizer que a neutralidade não existe. Quando um ator
político se assume neutro está na verdade assumindo uma postura política,
portanto está deixando de seu neutro.
O político, poeta e
escritor italiano Dante Alighieri, autor de a “Divina Comédia”, afirmou que “no
inferno os lugares mais quentes serão reservados àqueles que escolheram a
neutralidade em tempos de crise”.
Eu não seria radical como
Alighieri, mas bem que o político que assume uma postura dessas deveria sofrer
alguma punição. Na verdade, isso já está acontecendo, pois este festival de
neutralidade que assola a Paraíba vem dos que foram punidos pelas urnas.
A Deputada Daniella Ribeiro optou pela neutralidade
depois de ficar em 3º lugar na eleição do 1º turno. Numa entrevista, com clima
de fim de festa, ela anunciou: “Eu não apoiarei nenhum candidato, não votarei
em nenhum dos dois”. O fato é que a deputada do PP ficou sem alternativas.
Depois de se colocar como independente e de criticar as candidaturas de Romero
Rodrigues e Tatiana Medeiros ela não teve como fazer o caminho de volta.
Arthur Bolinha não só declarou-se neutro como ainda
desdenhou do fato de o eleitorado campinense não ter comprado o projeto
apolítico que ele oferecia. Assim como Daniella, declarou-se neutro e se
afastou do processo. O que Daniella e Arthur não entendem é que ao se
declararem neutros estam cometendo apostasia, ou seja, estam abandonando a
própria sorte seus eleitores que de uma forma ou de outra acreditaram em suas
propostas, intensões e projetos.
Em João Pessoa a neutralidade campeia. Até os
animais do Parque Arruda Câmara (a famosa Bica) se declaram neutros. A ida de
Luciano Cartaxo e Cícero Lucena para o 2º turno deixou muitos sem alternativa. É
que atores e partidos políticos não trabalham com a possibilidade de apoiarem
alguém no 2º turno. Agem para serem apoiados, nunca para apoiar. Além dos mais
eles tanto se desgastaram no processo pré-eleitoral que agora não mais
conseguem dialogar.
Os democratas da Capital foram os primeiros.
Decretaram a neutralidade depois de verem a esdrúxula equação que levou Efraim
Filho a ser o vice de Estelizabel Bezerra fracassar. Na verdade, eles não
ficaram neutros, preferiram sumir do mapa político. A própria Estilizabel
defendeu a neutralidade. Outro caso em que subir ao cimo do muro foi saída
única. É que para ela, e para o governador Ricardo Coutinho, só restava ir para
o 2º turno, pois como compor com inimigos declarados?
O ex-governador José Maranhão declarou-se neutro e,
ato continuo, seu partido (PMDB) seguiu sua orientação. Neste caso, não se
trata de indisposições. É que Maranhão está acostumado a ser seguido, nunca a
seguir.
PDT, PTN e PEN também se declararam neutros, apesar
de terem liberado seus militantes a apoiarem quem bem quiserem neste 2º turno.
Aqui a neutralidade serve de escudo para que se tomem outros caminhos. Renan
Palmeira e o PSOL de João Pessoa se declararam neutros, dizendo que o resultado
da eleição expressa a limitação da democracia brasileira. O que se conclui
disso? Que se Renan estivesse no 2º turno nossa democracia seria ilimitadamente
boa.
A neutralidade foi uma confortável justificativa
encontrada pelos candidatos para se ausentarem dos processos políticos na
perspectiva de não terem que se comprometer em futuras negociações políticos.
Estes atores políticos não entende que no mundo da política se permite muita
coisa. Existem justificativas para tudo, até para as tais condutas vedadas,
menos para a neutralidade.