No espectro político brasileiro existem alguns
cargos que são verdadeiros fardos. Os cargos de vereador e de prefeito são os
mais difíceis que se pode ter. Primeiro porque o prefeito e o vereador são os
dois políticos mais próximos do eleitor.
Eles moram na mesma cidade, no mesmo bairro e na
mesma rua do eleitor. Literalmente, o prefeito e o vereador não têm como se
esconder do eleitor já que podem se encontrar com ele em todos os lugares. Quando
o eleitor tem um problema, ou quer demandar alguma coisa ao poder público, não
procura o presidente da república ou o governador do estado. Raramente busca um
senador ou os deputados federais e estaduais para o que quer que seja.
Os políticos que estam ao alcance da mão são o
vereador e o prefeito. Imagine se dá para resistir à tentação de falar daquele
buraco, que abriu na rua, para aquele vereador que o eleitor encontrou na fila
do self servisse do shopping? Se o eleitor mora na mesma rua ou no mesmo prédio
do prefeito porque ele vai fingir que aquele com quem cruza todos os dias é um
morador como outro qualquer? Não, não vai. Cada vez que ele encontrar o
prefeito vai querer demandar alguma coisa.
O executivo municipal surgiu para suprir as
necessidades localizadas que o governo geral não tinha como atender. Na época
do Brasil Império não existiam, nas cidades, dois poderes (o executivo e o
legislativo). Havia, apenas, a Câmara Municipal. Foi com a Constituição de 1934
que o cargo de Prefeito ganhou o formato que possui até hoje. Foi a partir daí
que o prefeito passou a chefiar o poder executivo, exercendo um mandato eletivo
para administrar a gestão pública municipal.
Ao prefeito cabe elaborar
políticas públicas para saúde, educação, habitação, transporte público, mobilidade
urbana, etc. Enfim, ao prefeito cabe cuidar de tudo que é pertinente ao
bem-estar e qualidade de vida dos moradores de seu munícipio. Ao prefeito cabe empreender
a gestão da coisa pública, o controle das finanças públicas, o planejamento e
concretização de obras. Sem contar que ele tem que sancionar as leis aprovadas
em votação pela Câmara Municipal.
O prefeito pode, ainda, vetar
leis aprovadas pela Câmara Municipal, além de elaborar projetos de leis. E não
há limites para isso. Ele pode elaborar tantos projetos quanto achar
necessário. Como podemos ver o prefeito tem muito, mas muito
mesmo, poder em suas mãos. Da forma como está disposto na Constituição o
prefeito seria uma espécie de presidente da República em miniatura.
Agora, imagine que o prefeito que foi eleito não reúna as condições necessárias para lidar com tamanho poder e responsabilidade. Imagine que o prefeito eleito não tenha experiência, capacidade intelectual e uma personalidade apta a lidar com tanto poder. Além do mais, ser prefeito em uma cidade como Campina Grande não é nada fácil. Primeiro vamos considerar que os recursos disponíveis são sempre em menor quantidade do que as demandas existentes.
Segundo, os problemas socioeconômicos são cada vez maiores.
Com a crise econômica se alastrando pelo mundo afora não vai demorar muito para
sentirmos seus efeitos. Se é que já não sentimos, pois começamos a perceber
efeitos inflacionários em nosso bolso. Os problemas ambientais se avolumam.
Cada vez mais conseguimos oferecer menos soluções para questões como a poluição
ambiental. Vejam toda a polêmica gerada porque ainda não sabemos bem o que
fazer com o lixo que produzimos.
Campina Grande é uma cidade condenada aos caos em
termos de transportes. Cada vez mais temos mais carros e motos pelas ruas. A
sensação que temos é que as ruas estam encolhendo. O transporte público é uma
punição para quem dele se utiliza. Calcula-se
que daqui a 15 anos o número de carros vai ser igual ao de habitantes.
Calcula-se, também, que cada vez mais o clima vai ficar mais quente. Daqui a
uns 20 anos continuaremos a nos orgulhar de nosso clima serrano?
Eu não quero ser o profeta do caos. Mas, também,
não quero ser um tolo otimista fingindo que não temos problemas. Nós temos
muitos problemas e eles tendem a aumentar. Essa pessoa que elegeremos domingo
vai ter a função de pensar esses problemas todos que temos. O prefeito existe
para tratar dos problemas, das dificuldades e para administrar uma cidade complexa.
Se eu pudesse dizer, ainda, algo a Romero Rodrigues
e Tatiana Medeiros, diria: “você realmente tem certeza que quer ser prefeito,
ou prefeita, de Campina Grande? Pense bem, pois ainda tem tempo para desistir”.