Ontem, quando eu começa a escrever a coluna de
hoje, que analisaria a nova composição que a Câmara Municipal de Campina Grande
terá a partir de 01 de janeiro de 2013, me deparei com uma notícia que me
chamou a atenção. Na verdade, eu não deveria levar essa notícia a sério,
deveria estar agora tratando dos nossos novos representantes. Mas, eu fico
devendo essa coluna para a próxima semana. O caro ouvinte , se quiser, pode me
cobrar.
A notícia, que me desviou da pauta original, dava
conta que o TRE da Bahia proibiu que Nelson Pelegrino, candidato a prefeito de
Salvador pelo PT, exiba o último capítulo da novela "Avenida Brasil",
da TV Globo, em seu comício. Este comício ocorrerá logo mais a noite e contará
com a presença da presidente Dilma Rousseff. Ela mesma tinha manifestado o
desejo de ficar em casa, digo no Palácio da Alvorada em Brasília, junto com sua
mãe assistindo ao último capítulo da novela. Uma coisa meiga, nada soa mais familiar
que sentar no sofá da sala para assistir a novela. Tudo normal, não fosse o
fato de antes da “noveleira Dilma” existe a presidente Dilma que tem toda uma
série de responsabilidades para com o país.
Ao confirmar a presença de Dilma no comício, o
senador e coordenador do comitê de Pelegrino, Walter Pinheiro, disse, em tom de
brincadeira, que “por causa da novela, um telão transmitirá Dilma e Carminha”,
numa alusão a uma das personagens da novela.
O que aconteceu foi que a
coordenação da campanha de Nelson Pelegrino levou a coisa a sério e ficou com
receios de que o comício fosse esvaziado por causa da audiência da novela
“Avenida Brasil”. Eles ficaram em dúvida se as pessoas deixariam de ver a
novela para ir ao comício ver Dilma. Na dúvida, melhor não arriscar. Alguém
teve a brilhante ideia de instalar um enorme telão no local do evento.
O comício será em
Cajazeiras, que é um dos bairros mais populosos de Salvador. Um desses
gêniosinhos do marketing eleitoral deve ter dito: “vamos incorporar o último
capítulo da novela ao comício, pois isso dá muitos votos”.
O aprendiz de Duda Mendonça deve dito: “Já pensou parar
o comício para ver quem foi que matou o Max”. Imagine, caro ouvinte, a cena.
Está lá a presidente Dilma discursando, pedindo votos para seu candidato. Todo
mundo prestando atenção na presidente que vai mostrando como “... nunca antes
na história desse país fomos tão desenvolvidos e tão felizes”. Aí se aproxima
um assessor, cochicha no ouvida da presidente e ela diz: “gente, vamos assistir
a novela?”.
Aí para tudo. Para o comício, para o trânsito, para
o Brasil, porque tudo mundo quer saber quem matou o Max. Será que essa gente imaginou
que isso daria votos para Nelson Pelegrino? Mesmo querendo acreditar que não,
eu acho que pensaram sim. Chega a ser patético. A elite política desse país
aceitando dar um tempo na luta pelo poder (o oxigênio deles) para assistir ao
último capítulo da novela. E sabe o que é mais engraçado? É que houve quem
desse cabimento a um disparate desses.
Foi à coordenação de Campanha de ACM Neto, que
disputa o 2º turno com Pelegrino em Salvador, quem encaminhou o pedido ao TRE
solicitando que fosse proibida a exibição do último capítulo da novela. O advogado Ademir Ismerim, do DEM, argumentou na
solicitação ao TRE que “a prática anunciada pelo PT se assemelharia a um
showmício, algo não permitido pela legislação eleitoral”. E eu fico imaginando
se a legislação eleitoral deveria se preocupar com isso.
A juíza da 9ª Zona Eleitoral, Ana Conceição
Barbudo, disse que “tal conduta teria fins eleitoreiros, usufruindo de imagens
de artistas globais e do Ibope da programação". Ela vedou a exibição, no
telão, de "qualquer tipo de situação que não se relacione com o objeto da
campanha". Eu acho que essa juíza não gosta de novelas. E ela ainda solicitou
que a Polícia Militar garanta o cumprimento da decisão. Imagine, a PM em praça
pública proibindo as pessoas de assistirem o último capítulo da novela. Só
faltou chamar o exército para impedir que a presidente Dilma assista à novela.
O PT baiano chegou a antecipar o horário do comício
para as 19h, para que não coincidisse com o horário da novela. Mas, algum
espírito de porco deve ter dito que as pessoas não chegariam em casa a tempo e
que era melhor passar no telão.
Disso tudo o que se conclui e que continuamos a não
saber separar o que é público do que é privado. E seguimos valorizando o que
não tem importância e desdenhando daquilo que é fundamental para nós.
Hilário foi o comentário de Pelegrino ao saber que
ACM Neto tinha conseguido impedir que ele e a presidente assistissem à novela
de cima do palanque. Solenemente, disse ele que: “meu adversário, mais uma vez,
tem uma conduta contra o povo de Salvador".
Incrível, um defende o povo porque quer que ele
assista à novela, o outro é contra porque tentou impedir. E eu fico a me
perguntar por que deixei de analisar a nova composição da Câmara dos Vereadores
de Campina Grande para falar dessa patuscada toda. Será que eu consegui ser
mais noveleiro do que nossa presidente?