Eu afirmei, aqui no POLITICANDO, que em condições normais de temperatura e pressão Marina Silva seria a candidata do PSB, no lugar de Eduardo Campos. Sua indicação seria óbvia se a operação político-partidária no Brasil não fosse tão pouco republicana. Fôssemos uma sociedade acostumada a lidar com a normalidade do processo democrático não haveria toda essa discussão, Marina seria a candidata de uma forma natural, simples. A questão seria escolher um vice para ela. Se nós não tivéssemos essa mania autoritária, pouco convencional em outros povos, de virar a mesa para maximizar interesses, o PSB e seus aliados, além de PT, PMDB e PSDB não teriam movido um único dedo para impedir que Marina fosse candidata.
A imponderável tragédia, que tirou a vida de um candidato a presidente da
República, só deveria impor novas decisões aos eleitores que, por ventura, já
tivessem decidido votar no candidato falecido. Mas, se fosse assim não seria o
Brasil, seria a Dinamarca. O fato é que a ascensão de Marina Silva à condição
de candidata a presidente pelo PSB não foi automática, normal, natural. Até a
sexta-feira haviam bem mais partidos e atores políticos contrários a essa
solução do que pode supor nossa vã filosofia. Lula, Dilma e os caciques do PMDB
não queriam ouvir falar em Marina sendo candidata depois de tudo que fizeram
para impedir que o “REDE Sustentabilidade” se tornasse um partido. Aécio Neves
treme só de pensar em ver Marina lhe tirando a vaga no 2º turno.
É fácil se entender porque os adversários de Marina não queriam vê-la
candidata. Mas, como explicar que a maioria da Executiva Nacional do PSB tenha
defendido outra solução para o dilema de encontrar um substituto a altura de
Eduardo Campos? É bom lembrar do quanto se ponderou que Eduardo Campos é que
deveria ser o vice de Marina Silva, que teve que aceitar ser a vice, já que não
dispunha de uma sigla para chamar de sua, ao contrário de Eduardo que
controlava o PSB com mão de ferro. Márcio França, deputado federal pelo PSB,
que se tornou, contra a vontade de Marina, vice na chapa de Geraldo Alckmin é
um dos que a reprovava como solução para o imbróglio. Para ele, apostar em
Marina deixaria o PSB sem um legado, sem herança.
Roberto Amaral, dirigente do PSB desde a sua recriação após a ditadura
militar, disse que Marina seria péssima opção, pois assim que o “REDE
Sustentabilidade” se tornar um partido ela sairá do PSB levando contingente
considerável de militantes. Mas, existe a vertente no PSB que quer Marina
candidata. Rodrigo Rollemberg, senador e candidato ao governo do Distrito
Federal, e os deputados federais Beto Albuquerque e Júlio Delgado falaram em
manter o legado de Eduardo Campos através de Marina. Roberto Freire, deputado
federal pelo PPS, defendeu a continuidade do projeto Eduardo/Marina. Inclusive,
se cogitou que ele fosse o vice de Marina. PPL, PRP, PHS e PSL, os outros
aliados do PSB, também queriam Marina candidata a presidente.
Mas, eles pediram uma Marina mais maleável. O PSL, por exemplo, disse que
só aceitaria Marina se ela mantivesse os compromissos assumidos por Eduardo
Campos, a exemplo da reforma tributária e dos acordos com o agronegócio. Estes
partidos impõem a Marina que ela aceite as composições estaduais que Eduardo
Campos fez. Mas, Marina Silva tem, também, seus senões. Ela disse que
apresentaria, no momento certo, suas condições para não assumir uma chapa “às
escuras”. Marina quer, sim, ser candidata, mas ela não quer ninguém tolhendo
seu discurso e suas ações. Ela diz que não vai deixar de fazer criticas a
partidos como o PSDB, mesmo que o PSB tenha feito composições com os tucanos em
sete Estados brasileiros.
As notícias do final de semana dão conta que o PSB, e seus aliados,
superaram as divergências e acordaram lançar Marina Silva à Presidência da
República, no lugar de Eduardo Campos, na próxima quarta-feira. Certo, é o mais
lógico a se fazer. Mas, a questão não é o que está acontecendo, mas como
acontece. Como é que o agronegócio, por exemplo, vai aceitar Marina, até para
financiar a campanha, se ela não abre mão de seu discurso em favor da
sustentabilidade? Para que é mesmo que Marina Silva será candidata a
presidente? Ela fará o que quer o PSB? Subirá no mesmo palanque de Geraldo
Alckmin, do PSDB, em São Paulo? Ou ela manterá seu discurso para acima e além
de interesses que ela mesma despreza?
O fato é que Marina deve retornar à cena política por cima da carne seca,
como gostamos de dizer. Com seu capital eleitoral, e com a comoção pela morte
de Eduardo Campos, ela deve vir a se colocar entre Dilma e Aécio nas pesquisas.
Mas, isso é suficiente para ir ao 2º turno e ganhar a eleição? Marina ainda
precisa de um vice leal a Eduardo Campos, que seja de sua confiança e que tenha
a capacidade de unir a “ala petista” e a “ala tucana” do PSB. Ou seja, este
vice não existe. Não há quem possa reunir estes três itens, nem própria Marina.
A preço de hoje, os adversários de Marina são os seus aliados e os seus
concorrentes. Marina vai remar contra uma maré das mais violentas. Como ela se
sairá, só o tempo nos dirá.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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