terça-feira, 26 de agosto de 2014

PARA ONDE VOCÊ VAI, MARINA?

Sabe quando agente tem aquela impressão de que está indo tudo muito bem para ser verdade? Sabe quando ficamos com a impressão de que foi muito fácil conseguir algo e que por isso mesmo tem alguma coisa errada? É quando usamos a expressão: “está bom demais para ser verdade”. Dito de outra forma, nem sempre as coisas são do jeito que se mostram. Na política, como na vida, a realidade pode ser mais verdadeira, mais forte, e mais cruel, do que gostaríamos. De fato, o real existe para acima e além de nossas vontades. Foi com essa impressão que fiquei quando vi o anúncio de que Marina Silva assumiria a condição de candidata a presidente da República, pelo PSB, no lugar de Eduardo Campos.

Sabíamos que o anúncio oficial da decisão seria na quarta-feira. Mas, já no velório do ex-governador, em Recife, ainda naquele sábado, os membros do Diretório Nacional do PSB afirmavam que a decisão estava tomada e que Marina era a candidata. Quando vi a notícia de que o PSB e seus aliados haviam superado as divergências e acordado lançar Marina Silva candidata à Presidente fiquei com a impressão de que tudo estava sendo muito fácil. Lembro-me ter perguntado a mim mesmo: “mas, já, tão cedo, tão fácil assim?”. É que eu não esqueci que até pouco tempo atrás Eduardo e Marina corriam de um lado para o outro tentando aparar arestas e apagar incêndios para manter a aliança.

A prova maior de que nem tudo são flores nas hostes socialistas é que desde a tragédia, que vitimou Eduardo Campos, tinha sempre um membro do PSB, ou um de seus aliados, criticando Marina Silva e suas posições políticas. A própria Marina não fez muito esforço para evitar que seus companheiros do Rede Sustentabilidade criticassem duramente, e em público, a forma como o PSB estava conduzindo o processo antes e depois do falecimento de Eduardo Campos. Roberto Amaral, dirigente do PSB, chegou a dizer que Marina seria péssima opção já que ela pretende deixar o PSB quando o “REDE Sustentabilidade” se tornar um partido. Os aliados do PSB diziam que Marina não respeitaria os acordos políticos já feitos.
 
É que Marina até se comprometeu a não romper as alianças regionais feitas por Eduardo Campos, mas deixou claro que não subiria, por exemplo, no palanque do PSDB em São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Ela disse também que não deixaria de criticar o agronegócio e alguns postulados da economia de mercado que Eduardo Campos tanto defendia. O governador de Santa Catarina, Renato Casagrande, até tentou colocar panos quentes nas discussões. Disse ele que: “Marina não vai aonde já não iria”. Foi nesse clima acirrado que se oficializou a candidatura a presidente de Marina Silva e de Beto Albuquerque, como seu candidato vice, na quarta-feira. Parecia tudo calma. Era bom demais para ser verdade.

Enquanto Marina e Beto discursavam no evento que os lançou na campanha, membros do PSB e do Rede Sustentabilidade travavam uma batalha de bastidores para decidir quem teria o controle burocrático, administrativo e financeiro da campanha. Enquanto Marina ia às lágrimas, em seu discurso, ao se referir a Eduardo Campos, o coordenador de campanha, Carlos Siqueira, que é do PSB e fora escalado por Eduardo, se demitia do cargo. Ele saiu dizendo que fora demitido pela própria Marina. A declaração dele fala por si só: “Ela não representa o legado de Eduardo. Quando se está numa situação como hospedeira, como ela é, tem que se respeitar a instituição. Ela que vá mandar na Rede dela, pois no PSB mandamos nós”.
 
Marina disse que não tinha demitido ninguém, que havia indicado o deputado Walter Feldman, pessoa de sua confiança, para atuar junto a Coordenação geral de Campanha do PSB. Marina indicou, ainda, Bazileu Margarida para as finanças de campanha. É que Carlos Siqueira vinha arrecadando recursos junto às indústrias de armas, tabaco e bebidas alcoólicas. Marina disse que não aceitaria jamais dinheiro vindo desses setores produtivos. É difícil acreditar, mas Siqueira disse que Marina foi muito rude com ele. O coordenador de Mobilização e Articulação, Milton Coelho, saiu da campanha alegando que Marina é diferente politica e ideologicamente do ex-governador. Ele só descobriu isso agora? Marina e Eduardo eram como água e óleo, não se misturariam.

Enquanto isso, o vice de Marina, Beto Albuquerque, tentava estancar a sangria de aliados regionais. O PMDB gaúcho avisou que terminaria abandonando o palanque do PSB se Marina “insistisse no discurso estreito do ambientalismo”. Marina fingia não estar ouvindo as criticas e acusações, mas os “marinheiros” de plantão estavam atentos, devolvendo os ataques na mesma moeda. Diziam que o PSB não tem do que reclamar, pois tem uma candidata com chances de ser eleita. Pois é, aqueles sorrisos e abraços eram uma tentativa de dissimular uma verdade que todos viam. Resta saber se Marina conseguirá acalmar os socialistas ou se sua campanha terá um front aberto internamente. Em todo caso, os adversários agradecem penhoradamente.

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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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