segunda-feira, 11 de agosto de 2014

UM CANDIDATO QUE NÃO É POLITICO


A equipe de Jornalismo da Campina FM segue entrevistando os candidatos ao governo do Estado da Paraíba, sempre aos sábados. Hoje, eu analiso o discurso do candidato, pelo PSOL, Tárcio Teixeira que nos concedeu entrevista no dia 02 de agosto. Tárcio iniciou a entrevista já expondo o que vem a ser a principal contradição de sua candidatura. É que ele e o seu partido, como de resto as candidaturas da esquerda socialista, não acreditam no processo eleitoral do qual são atores políticos. Tárcio afirmou que “nossa candidatura tem amplas criticas ao atual sistema político e com a forma excludente como trata a população”. Ele disse que “nossa tradição é no sentido de apresentar uma alternativa coerente a tudo isso”.

Não é de hoje que a esquerda socialista desdenha do sistema político-eleitoral do qual não abre mão de participar. Vem de longe o discurso que menospreza as instituições políticas, mesmo que exista a prática de nelas atuar. Em um artigo de janeiro, intitulado “A pré-candidatura ao Governo da Paraíba não é minha, é nossa!”, Tárcio Teixeira tenta lidar com o paradoxo de ser contra o sistema representativo que temos e, ao mesmo tempo, dele participar.  Diz ele que: “Sou chamado para assumir uma candidatura, para construção partidária ou para disputar vaga no parlamento ou no executivo, mas até hoje não havia assumido uma tarefa no processo eleitoral da democracia burguesa”.

Tárcio diz, ainda, que essa tal democracia burguesa é um “espaço nada favorável aos que acreditam na luta coletiva e em uma sociedade sem explorados e exploradores”. O texto se equivoca com os conceitos da teoria democrática e tropeça nas contradições. No Brasil, praticamos uma democracia de procedimentos eleitorais. O nosso sistema é representativo, onde os vários setores sociais lutam por espaços no parlamento. Sim, o poder econômico é fundamental para se obter o poder político. A esquerda socialista, da qual Tárcio faz parte, acredita na ideia, que vem dos tempos da publicação do Manifesto Comunista de 1848, escrito por Karl Marx e Friedrich Engels, de que o parlamento é o balcão de negócios da burguesia.

Eis o ponto central da contradição. O PSOL, de Tárcio, quer dispor de vagas no parlamento para lutar pelos interesses dos trabalhadores e defender o socialismo, mas de que maneira fará isso numa estrutura que pertenceria à burguesia? De fato, o parlamento não é espaço favorável para se defender o socialismo. Mas, se é assim, porque continuar insistindo em fazer parte dessa estrutura? O que essa esquerda não entende é o tipo de conformação social e política que temos no parlamento. Ele não é exclusivamente burguês. O Congresso Nacional é, na verdade, uma representação, desigual, não tenha dúvidas, dos vários setores políticos, econômicos, sociais, religiosos, futebolísticos, etc, de nossa sociedade.

Outra coisa que me chamou atenção no artigo de Tárcio foi ele ter afirmado que: “Não sou um político, sou um militante da luta cotidiana com lado claro e preciso”. Como assim? Como não é político? Como é que um candidato a um cargo no Poder Executivo pode afirmar que não é político? Não existem diferenças entre ser militante e ser político. Todo e qualquer militante é um político. O militante é aquele que defende uma causa, não importa qual. Quando alguém defende alguma coisa, quando luta por essa coisa, está sendo um político. Uma das coisas que pode fazer, desculpem-me a redundância, um militante-politico é se candidatar a um cargo eletivo.


Tárcio diz que sua candidatura é alternativa e necessária para a realidade, pois ela seria fruto das reivindicações que surgiram das manifestações de 2013. Mas, se lembro bem, os manifestantes abominavam os partidos, inclusive os de esquerda. Como não poderia deixar de ser, Tárcio não se esquivou de criticar duramente o candidato à reeleição, Ricardo Coutinho, e as outras candidaturas que seriam as legitimas representantes da burguesia.  É natural que Tárcio queira dirigir suas criticas ao governo, já que conta com o apoio de sindicatos de categorias do funcionalismo público estadual. Aqui temos crise existencial da esquerda socialista que não sabe como não lidar com sua condição sindicalista.

Inclusive, para Tárcio, não existem várias candidaturas de oposição e de situação. O que existiria, na verdade, são dois grandes blocos. Um que representaria a elite político-econômica e outra que falaria em nome dos trabalhadores. Para Tárcio esta eleição, é na verdade, a reprodução da eterna luta entre explorados e exploradores. Mas, se assim o fosse, Ricardo Coutinho e Cássio Cunha Lima não teriam deixado para trás aquela aliança montada em 2010. De fato, as candidaturas são representantes de determinados setores da sociedade. O que elas fazem, numa eleição, é tentar convencer o eleitorado, no geral, de que suas postulações são viáveis. É, exatamente isso que Tárcio e o PSOL não compreende.

Você tem algo a dizer sobre essa COLUNA ou quer sugerir uma pauta? gilbergues@gmail.com

AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

Nenhum comentário: