sexta-feira, 29 de agosto de 2014

AFINAL, PARA QUE SERVE UM SENADOR – PARTE 1.

Nas eleições desse ano, oito candidatos concorrem a uma única vaga ao Senado Federal. Esta é uma eleição tão concorrida quanto à disputa para o governo do Estado da Paraíba que conta com seis candidatos. Na verdade, a disputa proporcional ao Senado é ainda mais concorrida se considerarmos que ela se dá em um único turno, ao contrário da eleição majoritária, ao governo, que prevê um 2º turno entre os dois candidatos mais bem votados. Cada Estado elege três senadores, para um mandato de oito anos, mas a representação pode ser renovada a cada quatro anos. O sistema é aquele que bem conhecemos – numa eleição se elege um senador e na seguinte se elegem dois.

Vimos como o cargo de Senador é importante naquele processo nada republicano onde se definiram as candidaturas e coligações ao governo do Estado. É que, infelizmente, a vaga ao senado foi posta nas mesas de negociação como valorizada moeda de troca. A vaga para o senado compõe a chapa do candidato ao governo e de seu vice. Aliás, fazem parte do pacote os dois suplentes, registrados na chapa, que podem ou não vir a assumir dependendo do arranjo político-partidário que se fizer. A cadeira do senador tem alta cotação. Foi oferecendo a vaga de senador que Ricardo Coutinho conseguiu a proeza de tirar o PT da composição do PMDB. Para ter Wilson Santiago em sua composição, Cássio aceitou dar um passa fora em Cícero Lucena.

José Maranhão manobrou habilmente, por mais de um ano, os vários interesses de seu partido, o PMDB, para terminar sendo o candidato ao senado, como ele sempre desejou. Não é a toa que o próprio PT resolveu buscar outros ares políticos. O vice-governador Rômulo Gouveia correu todos os riscos, até mesmo o de ficar sem o suporte de um grupo político, como o que é comandado por Cássio Cunha Lima, para ver se viabilizava sua candidatura ao senado. Deu no que deu. Os irmãos Cartaxo concentraram forças para assegurar que Lucélio seria mesmo candidato ao senado. Eles deram tanta prioridade a esse projeto que terminaram aceitando compor com um adversário do nível de Ricardo Coutinho.

Guardando as devidas proporções, as pequenas candidaturas dão o devido valor aos seus candidatos ao senado. O PSTU, de Antônio Radical, lançou a candidatura de Rama Dantas que tem tido papel de destaque na pequena campanha do deu partido. Mas, na entrevista concedida a equipe de jornalismo da Campina FM, Rama Dantas não foi bem sucedida por não ter se preparado bem para o momento e por menosprezar a própria instituição que almeja participar a partir do processo eleitoral. Rama Dantas afirmou que sua candidatura surgiu para combater o machismo e para lutar por mais espaços de representação da mulher na sociedade e no parlamento. A candidata falou sobre a educação e a necessidade de se investir cada vez mais nela.

Um aspecto interessante da entrevista foi quando a candidata afirmou que é preciso que a sociedade desenvolva mecanismos de controle da atividade parlamentar. Para ela, são os trabalhadores que devem controlar a atividade dos congressistas. A entrevista com Rama Dantas transcorria calma e ordeira. As perguntas iam se sucedendo e ela ia dando as respostas que se espera de uma candidata de um partido como o PSTU. Até que veio a pergunta que expôs a mãe de todas as contradições. Perguntou-se a candidata se a questão do maior controle da atividade parlamentar se daria pela instituição do voto distrital. A candidata simplesmente não respondeu e ainda fez um comentário que é, no mínimo, preocupante. Disse ela que: “Na verdade, o partido defende o fim do senado, apesar de eu ser candidata, pois a estrutura dele representa as grandes oligarquias e não representa quem gera riqueza neste país e que deveria estar lá sendo representado”.  

Rama Dantas disse ainda que muita coisa que é discutida na Câmara Federal termina sendo rejeitada no Senado, pois “quem está lá representado é o grande poderio econômico”. Ela terminou dizendo que o PSTU defende o modelo unicameral. Eu fiquei tão surpreso com a resposta da candidata que busquei a gravação da entrevista e repeti esta declaração quatro vezes. É que eu queria ter certeza que tinha realmente escutado tamanho despautério.  De fato, eu preferia mesmo não ter ouvido. Foi tão constrangedor ouvir o que disse Rama Dantas que se achou por bem chamar os comerciais. Na volta do intervalo nem mais se falou da questão. A contradição de uma candidata ao Senado querendo fechar o Senado não é mesmo para se comentar.

Eu diria que essa visão doentiamente de esquerda não contribui em nada para o fortalecimento das instituições democráticas. Pelo contrário, querer acabar com uma delas é só a constatação de uma visão autoritária e antipolítica. Na próxima segunda-feira eu vou continuar analisando as entrevistas com os candidatos paraibanos ao senado federal. Eu decidi, inclusive, que só vou analisar a entrevista daqueles que defendam de forma intransigente a valorização de nossas instituições.

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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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