Hoje, 05 de
agosto, é feriado estadual, pois estamos comemorando a fundação da Paraíba. A
Constituição Federal define que cada Unidade da Federação tenha direito a um
feriado estadual civil para comemorar sua data magna. Ou seja, cada Estado tem
direito a um feriado para chamar de seu. Apesar de que existe uma polêmica em
torno dessa comemoração, pois hoje é, também, o dia da padroeira de João
Pessoa, Nossa Senhora das Neves. Aqui em Campina Grande, por exemplo, muita
gente se recusa a ter esta data como algo para comemorar, apesar de que quando
o assunto é feriado não há um brasileiro que reclame. Pelo contrário, o
feriadão é nossa instituição informal máxima.
Tudo isso importa pouco para quem, como eu, tem que trabalhar num dia como
hoje. Mas, será que temos mesmo que parar um dia inteiro para lembrar algo que
aconteceu na segunda metade do século XVI? Eu confesso, caro ouvinte, que tenho
uma resistência incorrigível em comemorar essas datas cívicas. Para mim, elas
sempre disseram quase nada. Sim, eu sei que isso é uma brutal contradição, pois
eu sou professor e, para agravar a situação, de História. Eu não vou ficar aqui
falando dos grandes feitos de nossa história. Não vou elencar fatos que
poderiam nos encher de orgulho, como a importante participação da Paraíba nos
eventos que redundaram na chamada “Revolução de 1930”.
Minha “paraibanidade” nunca foi das mais elevadas. Eu sou paraibano e até
gosto de sê-lo, mas não posso fechar os olhos para nossa realidade. Não posso
esquecer que nosso estado é um dos mais subdesenvolvidos num país que cresceu,
mas não se desenvolveu. Em julho de 2013, o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) lançou o Atlas de Desenvolvimento Humano do Brasil
aferindo o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) nos 27 estados e nos 5.570
municípios brasileiros. O caro ouvinte se prepare, pois eu não tenho boas
notícias para dar. Em termos de Desenvolvimento Humano, a Paraíba ocupa o 23º
lugar, estando à frente apenas dos Estados do Piauí, Pará, Maranhão e Alagoas.
IDH é uma referência mundial para avaliar o desenvolvimento humano. O
índice, que vai de 0 a 1, é formado por três variáveis: vida longa e saudável,
acesso ao conhecimento e a um padrão de vida decente. No ranking dos países, o
Brasil ocupa, hoje, o 85º lugar. Ao contrário do que se pode pensar, não é São
Paulo que tem o maior IDH. Em 2013, foi o Distrito Federal que ficou em 1º
lugar. Mas, convenhamos, se não é bom ser o 1º do país que fica em 85º lugar, o
que dirá ser o 23º lugar! Quando o assunto é desenvolvimento e bem estar do
cidadão, a Paraíba, que tem um IDH de 0.718, está atrás de países pobres e
sofridos. Iraque, Palestina, Gabão, Gana e Namíbia possuem, todos, IDH maior do
que o da Paraíba.
Todos estes países estam em guerra ou enfrentando graves crises políticas
e econômicas. A pequena e heroica Paraíba segue pacífica, mas pouco cresce e
não se desenvolve atrasada por décadas e décadas de falta de investimentos
sociais e econômicos. Dos 223 municípios paraibanos, apenas João Pessoa,
Cabedelo, Campina Grande, Várzea e Patos possuem um IDH tido como alto pela
ONU. Sim, alto, se tomarmos como referência a ponta de baixo da tabela do Atlas
do PNUD. Gado Bravo é o município paraibano com pior IDH. Apenas 12.24% de sua
população, com idade entre 18 e 20 anos, possui Ensino Médio completo. Segundo
o PNUD, Gado Bravo tem IDH equivalente a 0.513, numa escala que vai de 0 a 1.
As cidades de Casserengue, Damião, Cacimbas e Cuité de Mamanguape integram
a lista dos cinco piores índices do estado. Não por acaso, a cidade de Damião
era parte dos domínios latifundiários de um conhecido político paraíbano.
Aliás, este fator ajuda a explicar nosso subdesenvolvimento. A maioria
esmagadora dos municípios paraibanos tem seus passados e presentes aferrados às
estruturas de poder de pequenos grupos familiares descomprometidos das questões
sociais. O fato, caro ouvinte, é que a Paraíba ocupa esse nada honroso 23º
lugar no IDH brasileiro porque, por exemplo, tem quase 22% de seus habitantes
sem saber ler e escrever. Pior, outros 33% são analfabetos funcionais.
A taxa de mortalidade infantil na Paraíba é de 35 óbitos por cada mil
crianças nascidas vivas. Quase 20% dos paraibanos não tem acesso à água tratada
e apenas 41% tem acesso à rede de esgoto. Quando o assunto são os índices
negativos, somos imbatíveis. O passado da Paraíba pode ser recheado de glórias,
mas o seu presente é paupérrimo. Nosso frágil IDH não é resultado apenas desse
ou daquele governo, ele é culpa de um Estado descompromissado para com o bem
estar do seu cidadão. No momento em que escrevia esta coluna, ouvia fogos de
artifício pipocando demoradamente pelos comícios eleitorais que nada dizem do
nosso IDH. É a festa da democracia sendo realizado no terreiro da miséria..
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