Hoje eu vou tratar da chamada estratégia da triangulação. Dito dessa
forma, o caro ouvinte pode achar que não tem a menor ideia do que seja isso. Mas,
quando eu começar a explicar, vamos saber que a estratégia da triangulação é
algo comum. O nome pode ser pomposo, mas quer dizer uma situação bem conhecida.
Um
candidato se apodera de parte da agenda de campanha de um adversário para
incorporar ao seu discurso ou como forma de enriquecê-lo ou mesmo para atender
a demandas externas. Um dos princípios das
campanhas eleitorais é a capacidade do candidato de deixar claro para os
eleitores porque a sua postulação é a melhor. Ou seja, o candidato que for mais
eficiente no momento de mostrar que sua candidatura é a melhor de todas sai em
nítida vantagem. Mas, como se faz isso?
O meio mais utilizado é o contraste. Um
candidato vai dizendo que é melhor ao se diferenciar, ou contrastar, com seus
concorrentes. Lógico, o melhor local para isso é mesmo o debate. Dick Morris, que foi consultor políticos do
ex-presidente dos EUA Bill Clinton, afirma que a estratégia da triangulação
“trabalha arduamente para resolver os problemas que motivam os eleitores do
outro partido”.
Mas buscar o contraste não significa
estabelecer uma estratégia baseada no enfrentamento. Não é que um candidato vá
discordar de tudo que seu adversário defende ou propõe. O debate eleitoral não
tem que necessariamente ser um embate entre dois ou três projetos, onde se
tenta provar a superioridade de um sobre os outros. O projeto eleitoral de um
candidato é a tentativa de se estabelecer uma conexão eficiente entre o
político e o cidadão. É a possibilidade do candidato se aproximar do eleitor
para, finalmente, convencê-lo a nele votar.
A estratégia da triangulação pode ser uma
arma eficiente na batalha eleitoral. Ao invés de ir para o enfrentamento,
apodera-se de parte da agenda do adversário para incorporá-la ao discurso
político. É quando se compartilha valores e propostas. É quando o candidato da
oposição, que enfrenta um candidato a reeleição, diz que vai dar continuidade a
ações administrativas do seu oponente, caso ele tenha aprovação popular, claro.
Dick Morris afirma, também, que
quando você resolve os problemas que mantém o outro lado ativo, leva seu
adversário à bancarrota. Quando George Bush Jr., em sua primeira campanha,
criou a o “conservadorismo compadecido” amenizou, com sucesso, o problema da
“frieza social” que sempre pesou sobre a imagem dos republicanos. Ou seja,
quando Bush Jr. dialogou com os eleitores simpáticos às políticas sociais dos
democratas, estava triangulando pela esquerda. Tony Blair, ex-primeiro ministro
da Inglaterra, triangulou pela direita quando prometeu, em sua campanha,
reduzir o poder dos sindicatos e manter os pilares da política liberal.
A relação mal resolvida da
campanha presidencial de Geraldo Alckmin com o bolsa família expôs uma
estratégia fraca e uma triangulação irregular. Alckmin oscilava entre acusar o
programa bolsa família de ser assistencialista e as promessas de manter os
programas sociais do governo federal. Ele mesmo minava a credibilidade de seus
compromissos junto ao eleitor.
Lula sofreu um impasse
estratégico desse tipo que o paralisou em 1994. Diante do sucesso do Plano Real,
sem poder criticar um plano econômico com alta popularidade e com medo de
elogiar para não fortalecer seu adversário, lula terminou derrotado no 1º
turno.