Estamos acompanhando o debate acerca da realização ou não das carreatas. Na eleição passada não houve acordo entre os
partidos e atores políticos e elas terminaram acontecendo. Este ano, o debate veio à
tona com força. Aqui mesmo no POLITICANDO eu me coloquei contra a realização do
que chamei de “pavoroso expediente para se pedir voto”, pois as carreatas são uma festa, mas não da democracia.
Novamente, não houve acordo. Vamos ter que aturar as tais carreatas. Mais
uma vez não adiantou a mobilização de setores da sociedade, prevaleceu a
vontade dos que estam se tornando minoria. O fato é que a legislação eleitoral
permite as carreatas. Para que elas não aconteçam é preciso que haja um acordo
entre os envolvidos na eleição. O fato é que alguns concordaram e outros não em
fazê-las.
Eu não vou questionar a lei. Ela
existe para ser respeitada. As carreatas são legais, conforme parecer do
promotor da 72ª zona eleitoral, Luciano Maracajá. O debate acerca das carreatas não questiona sua
legalidade. O que se levanta é se é legítimo fazer algo que incomoda parte
considerável da sociedade.
Existe uma onda contra as
carreatas. Já são 47 cidades na Paraíba onde este tipo de evento ou foi
proibido pela justiça eleitoral ou não acontecerá por um acordo feito entre os
candidatos. A polêmica sobre as carreatas aumentou depois de ocorrências
policiais havidas nas cidades de Remígio e Araras. Agora mesmo, a justiça
eleitoral está decidindo a situação em cerca de mais 20 cidades.
Analisemos as opiniões contra e a favor das
carreatas. Atentemos para as justificativas usadas por aqueles que não entendem
que é o debate, não as carreatas, que faz o eleitor indeciso se definir.
Disse Arthur Almeida que “... As carreatas não contribuem para o debate, pois não ajudam a
definir o voto, além de mostrar o tamanho das campanhas de uma forma
exibicionista”. Já Sizenando Leal
afirmou que “... É o poder econômico que
introduz dinheiro nessas carreatas”. Félix Neto disse que “... Elas trazem prejuízos como a poluição,
o lixo e o trânsito que é afetado pela quantidade de carros”. E Perón
Japiassú levantou a questão da segurança. Para ele “... As carreatas trazem transtornos, pois as pessoas bebem ao volante
e correm muitos riscos”.
Sempre poderá se dizer que eles
são contra as carreatas ou porque não dispõem de meios ou porque não conseguem
juntar pessoas, ou as duas coisas. Mas, isso importa? O fato é que de alguma
maneira estes candidatos estam sendo porta-vozes de um sentimento que cresce na
sociedade. O que se diz a favor das carreatas são verdades inquestionáveis?
Vejo argumentos que são sólidos apenas na aparência, na essência são vazios.
Charles Moura, representando Alexandre
Almeida, disse que “... Acha que dá para
fazer, pois não vai haver sete carreatas no mesmo dia”. Como se precisasse
de tanto, só uma carreata já perturba o suficiente.
José Marques, representando Romero
Rodrigues disse que“... Confiamos na
polícia e o policiamento será reforçado, além de que as carreatas são
permitidas pela legislação.” Ele admite os perigos inerentes a uma carreata
e transfere a questão para a polícia. Ao invés de se evitar problemas, se torce
para que a polícia tenha condições de resolvê-los quando eles vierem a
acontecer.
Júnior Flor,
representando Tatiana Medeiros, afirmou que “...respeitamos
o direito à livre e espontânea
manifestação, além do que a carreata permite o contato direto do
candidato com o eleitor”. No nosso sistema representativo existe o voto, e
a expressão dele através do material de campanha, como canais de manifestação
da opinião. Se um eleitor quer que todos saibam em quem ele vai votar pode usar
as redes sociais. Pode, ainda, sair pelas ruas de seu bairro pedindo votos para
seu candidato. Além disso, como é que o candidato vai ter contato direto com o
eleitor se ele está em cima de uma camionete, em movimento, preocupado em
sorrir, acenar e mandar beijinhos.
O argumento,
aparentemente mais forte, foi do advogado José Mariz, da assessoria jurídica de
Romero Rodrigues. Disse ele que: “...
passamos 30 anos sob a ditadura militar, onde as manifestações de pensamento
eram proibidas e a constituição garante a livre manifestação”.
Certo. Um erro
não justifica o outro. Não é porque fomos oprimidos politicamente, que agora
vamos sair por aí fazendo o que bem entendemos. Sem contar que eu não entendo
como alguém dentro de um carro, possivelmente em adiantado estado de
embriagues, e cercado de barulhos de toda sorte pode conseguir manifestar
livremente sua opinião política.