Durante todo o final de semana vi muitas pessoas se referindo a Ronaldo
Cunha Lima como “o poeta” que de fato ele foi. Ronaldo foi um apaixonado pela literatura e pela obra de Augusto dos
Anjos. Tanto é que em 1988 ele participou do programa Sem Limite da extinta Rede
Manchete. Muitos devem lembrar que ele respondia as perguntas sobre a vida e
obra de Augusto dos Anjos fazendo rimas e versos.
O presidente da Associação
Paraibana de Letras, da qual Ronaldo era membro, Gonzaga Rodrigues chegou a
dizer que “é uma pena que o fascínio da
política tenha exercido grande poder sobre a vocação do poeta”. Como a
Coluna Politicando não trata de poesia, eu vou me referir a Ronaldo como ator
político, mesmo reconhecendo que ele próprio não fazia uma clara distinção
entre as duas coisas.
Ronaldo Cunha Lima se envolveu na
política no mesmo momento em que se enredou no meio intelectual de Campina
Grande. Foi a convivência com poetas, políticos e intelectuais que o fez seguir
estes dois caminhos distintos. Ronaldo entrou na política pelas mãos de Argemiro
de Figueirêdo, que era da UDN. Quando Argemiro foi para o PTB, Ronaldo foi junto
e foi neste partido que ele começou a atuar na política partidária.
Outra porta que deu acesso a Ronaldo
para a política partidária foi a política estudantil, aliás, foi onde ele foi
lapidando sua veia de bom orador. Na política partidária, Ronaldo estreou como
vereador de Campina Grande em 1959. Em 1962 foi eleito deputado estadual e em
1966 foi reeleito. Foram nestes anos que Ronaldo foi definindo sua
personalidade política.
Quando Jânio Quadros renunciou e
os militares tentaram impedir a posse do vice João Goulart, em 1961, criou-se a
“cadeia da legalidade” liderada por Leonel Brizola. Ronaldo esteve ao lado da
legalidade e junto com outros tantos fez vigília na “Casa de Félix Araújo”
contra o golpe e a favor da constitucionalidade. Assim, Ronaldo esteve ao lado
dos nacionalistas e trabalhistas e contra o golpe militar de 1964. Em 1968 ele
foi eleito prefeito de Campina Grande pela primeira vez.
Com
o endurecimento do regime militar, Ronaldo foi cassado em março de 1969 e se
ausentou da vida política e social do estado da Paraíba por 10 anos. Após ter
sido anistiado, Ronaldo voltou para Campina para ter aquele que foi, talvez, o
seu melhor momento na política. Eu falo de quando ele
foi eleito prefeito de Campina Grande numa memorável eleição onde disputou o
cargo contra Vital do Rêgo, que vem a ser pai do prefeito veneziano vital.
Nesta eleição, Ronaldo
era o publicitário de si mesmo. Não havia as campanhas midiáticas de hoje em
dia. Ronaldo saía pelas ruas, casas, bares e por qualquer lugar onde pudesse
pedir votos com seus discursos rimados. Nesta campanha, Ronaldo adotou um
bordão que pegou. Fazendo um trocadilho com o nome de seu adversário ele dizia
o tempo todo: “Ronaldo é vital!”.
Ronaldo foi eleito governador da Paraíba
em 1990 em outra grande disputa. Tendo perdido o 1º turno para Wilson Braga,
virou o jogo no 2º turno e foi eleito com uma diferença de mais de 100 mil
votos. Foi aí que Ronaldo teve o seu pior momento na vida pública. Refiro-me ao
“caso Gulliver”, quando ele atirou no ex-governador Tarcísio Burity, ao que
tudo indica devido a criticas que Burity teria feito ao hoje senador Cássio
Cunha Lima.
Depois disso, Ronaldo ainda foi
senador da República e deputado federal até que se retirou da vida pública
devido aos vários problemas de saúde que tinha. A carreira de ator político de Ronaldo
Cunha Lima foi a espetacularização da política em seu estado de ebulição. Se
foi drama, se foi comédia, se foi tragédia, ou tudo isso junto, só a história
poderá nos dizer.