sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A REFUNDAÇÃO DA ARENA





A notícia saiu na Folha de São Paulo de 03 de agosto passado. Num primeiro momento eu não quis acreditar. Pois, afinal de contas, não somos lá muito sérios quando o assunto é a política institucional. A manchete dizia que “Estudante tenta refundar a Arena, partido da ditadura”. Eu deveria não ter levado a sério. Deveria mesmo ter passado rapidamente para a próxima matéria. Mas, fazer o quê, a curiosidade falou bem mais alto.

Cibele Bumbel Baginski é estudante do curso de direito na cidade gaúcha de Caxias do Sul. Ela é jovem, tem apenas 22 anos de idade, é fã de "heavy metal" e de cultura gótica, seja lá o que for isso. Cibele está liderando um movimento, pela internet, como é típico dessa geração, para refundar a Aliança Renovadora Nacional, a velha e conservador ARENA - o partido que dava sustentação ao regime ditatorial militar fundado em 1964.

Cibele parece ser simpática ao movimento pela criação da República dos Pampas Gaúchos que quer separar a região sul do resto do Brasil. Ela disse que existe um tipo de eleitor no Brasil que é "conservador e nacionalista". Ao que tudo indica ela pensa em liderar este tipo de eleitor.

Cibele disse que não se identifica com nenhum partido. Mesmo assim, ela já foi filiada ao “Democratas”. Nada mais coerente, pois políticos que foram ou são do DEM estiveram na ARENA. A exemplo de Marco Maciel, Jorge Bornhausen, José Agripino Maia, etc.

Apenas para que se saiba. A ARENA foi fundada em abril de 1966, pelo Ato Institucional nº 02, que extinguiu os partidos da época e instituiu o Bipartidarismo. Junto com a ARENA veio o Movimento Democrático Nacional – MDB, que anos depois tornou-se o atual PMDB.

A função da ARENA era dar sustentação aos governos militares no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas estaduais. Na época, se dizia que a ARENA era o partido do “sim, senhor”, enquanto que o MDB era o partido do “sim”. Foi da ARENA que surgiu, no final da ditadura militar, o PDS que serviu de base para o PFL e que, finalmente, se transformou em DEM. Assim, não é exagero dizer que a ARENA ainda vive nas entranhas do DEM.

Talvez, nem fosse preciso Cibele Baginski criar (ou recriar) a ARENA. Bastaria realizar uma campanha nacional para trazer para o DEM mais filiados e militantes que fossem, claro, conservadores e nacionalistas.

Cibele diz ter apoios em 12 estados da federação. Neste momento, ela se articula para, através das redes sociais da internet, coletar as centenas de milhares de assinaturas necessárias para refundar a ARENA. No Facebook, a ideia de refundar a ARENA já conta com mais de 400 apoiadores. Cibele disse que tem uma lista com o nome de 70 pessoas que querem aparecer como fundadores da nova (ou velha, não sei) ARENA.

A reportagem da Folha de São Paulo perguntou a Cibele sobre o envolvimento da antiga (ou nova, não sei) ARENA em crimes políticos contra opositores do regime militar.  Ela não respondeu, e disse que houve, no regime militar, "coisas boas". Disse, também, que “partido faz política, elege representantes, e que o que esses representantes fizeram é outra coisa”.

Não, não é outra coisa, cara Cibele. Os arenistas defendiam os interesses do ditador de plantão. Não era incomum um deputado, da ARENA, ir à tribuna da Câmara Federal para negar que opositores do regime estivessem sendo torturados e aniquilados pelo país afora.




Cibele oferece uma resposta genérica para não ter que explorar a parte espinhosa da pergunta. Não faz sentido fundar (ou refundar) um partido que serviu a uma ditadura militarizada. Eu não sei se vivemos numa democracia, mas com certeza não vivemos mais num Estado ditatorial.

Faz sentido recriar um partido para agradar a uma pequena fatia do eleitorado? Temos, no Brasil, 52 partidos legalmente constituídos. Deve haver um que agrade ao perfil conservador e nacionalista da jovem roqueira gótica Cibele.

Talvez Cibele Baginski não saiba qual era o papel da ARENA durante os piores momentos da repressão política. Talvez, ela nem seja consciente do que representa hoje ter sido membro da ARENA. Ser da ARENA significava estar ao lado do governo militar que torturava e matava aqueles que faziam oposição ao regime. Significava (ainda significa) ser contra todo e qualquer tipo de mudança.

Mas, Cibele não parece ser alienada, pelo contrário é muito bem articulada e sabe expressar bem suas opiniões. Ela parece ter bem claro o que pretende. Ou seja, ela quer fundar um partido de extrema-direita, antidemocrático, para, a partir dele, influir no cenário político nacional.