quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O CASO WATERGATE E O MENSALÃO







No dia 17/06/1972, há exatos 40 anos, cinco homens foram presos após invadirem o escritório do Partido Democrático num edifício chamado Watergate em Washington, capital dos Estados Unidos. Próximo ao Watergate, ex-agentes da CIA e do FBI coordenavam a ação. Membros do governo a monitoravam numa das salas da Casa Branca, que é a sede do governo e a residência do presidente dos EUA.



No curso das investigações se descobriu que o objetivo era grampear os telefones do escritório para chantagear políticos do Partido Democrata que fazia oposição à administração republicana do presidente Richard Nixon.



A ação teria sido mera ocorrência policial se o Jornal Washington Post não tivesse publicado uma matéria sobre o caso e se o faro jornalístico de Bob Woodward e Carl Bernstein não estivesse apurado. Eles descobriram que um dos invasores, preso, trabalhava no comitê de reeleição de Richard Nixon. É que eles contavam com informações de uma fonte conhecida pelo sugestivo apelido de “Garganta Profunda”.



“Garganta” era agente do FBI e tinha acesso aos relatórios confidenciais da invasão. “Garganta” tinha um comportamento republicano e temia morrer assassinada, então exigiu anonimato. Em encontros secretos, “Garganta” passava informações para Bob Woodward e Carl Bernstein. Ele negava ou confirmava a autenticidade das fontes e dos dados colhidos pelos dois intrépidos jornalistas.



Foi por uma dica de “Garganta” que Carl Bernstein descobriu que um cheque, de 25 mil dólares, pertencente ao tal comitê pró-reeleição de Nixon tinha sido depositado na conta de um dos invasores do edifício Watergate. Assim, surgiu a primeira evidência que ligava o fundo de campanha de Nixon, e o próprio Nixon, ao esquema que montou e procedeu a invasão.



Pela insistência dos jornalistas do Washington Post, pela repercussão que o caso teve nos EUA e pelo mundo afora, foi criada uma Comissão no Senado para investigar o caso oficialmente.  Muitas evidência e provas comprovaram que assessores de Nixon conduziram o esquema para favorecer sua reeleição. Pior, demonstrou-se que Nixon não só sabia de tudo como comandava o esquema.



No Senado, os advogados de Nixon tiveram que assumir o envolvimento dele, pois havia gravações de telefonemas no escritório do presidente mostrando que ele dava as diretrizes do esquema. O esquema não ficou impune. Seis assessores, integrantes da equipe do presidente Nixon, foram condenados. Para estancar o processo de impeachment, Nixon renunciou em Agosto de 1974.



O caro ouvinte pode estar se perguntando por que estou falando dessa antiga história. É que eu quero compará-la com o caso do Mensalão. Mas, a comparação só pode mesmo ser feita por contraste.





O “Garganta Profunda” americano fez o que fez por respeito às instituições políticas de seu país. O nosso “garganta”, Roberto Jefferson, assumiu publicamente os crimes cometidos e ainda se vangloria deles. A Comissão do Senado dos EUA foi criada para investigar o caso e o fez, mesmo que pressionada pela sociedade. A “CPI dos Correios”, que virou a do “Mensalão”, cumpriu parcialmente seus propósitos e morreu por inanição.



Nixon negou seu envolvimento no escândalo até quanto pode, depois foi obrigado a assumir e pagou o preço por isso. O ex-presidente Lula negou, e segue negando, seu envolvimento com o caso e opera em vários níveis institucionais para que os mensaleiros sejam inocentados.



Tanto o Watergate como o Mensalão foram urdidos nas dependências de sua respectivas sedes governamentais. A diferença é que Lula foi mais esperto que Nixon e não se deixou gravar. Lula não deixou rastros. Já Nixon deixou suas pegadas por onde passou.



Os acusados no caso Watergate confessaram suas intenções criminosas. Queriam chantagear adversários para ganhar uma eleição. No discurso de sua renúncia, Nixon até admitiu suas culpas quando disse “... lamento profundamente qualquer tipo de dano causado”.



José Dirceu disse que não fez nada de mais. Que apenas montou um esquema para reunir dinheiro, público, e subornar deputados para que eles votassem nos projetos que iriam melhorar a vida do povo brasileiro. Tão nobre, não é mesmo? Eu não sei se os americanos são melhores ou piores do que nós. O que eu sei é que o Watergate fez a sociedade e a imprensa dos EUA ficarem mais atentas para desenvolverem eficientes mecanismos de controle sobre as atividades de seus governantes e representantes no parlamento.



Quanto a nós, assistimos passivamente ao julgamento dos mensaleiros no STF. O que se convencionou chamar de "o maior julgamento da história do Supremo" virou piada. O Jornal Extra comparou os réus do mensalão aos personagens da novela “Avenida Brasil”. Lula seria o Tufão; Zé Dirceu seria a Carminha; Roberto Jefferson seria a Rita; Delúbio Soares seria o Nilo e assim sucessivamente. Como eu não acho a menor graça nem na novela das nove e muito menos no caso do Mensalão, deixo para que o caro ouvinte faça as devidas comparações.