No dia 17/06/1972, há exatos 40 anos, cinco homens
foram presos após invadirem o escritório do Partido Democrático num edifício
chamado Watergate em Washington, capital dos Estados Unidos. Próximo ao
Watergate, ex-agentes da CIA e do FBI coordenavam a ação. Membros do governo a monitoravam
numa das salas da Casa Branca, que é a sede do governo e a residência do
presidente dos EUA.
No curso das investigações se descobriu que o
objetivo era grampear os telefones do escritório para chantagear políticos do
Partido Democrata que fazia oposição à administração republicana do presidente
Richard Nixon.
A ação teria sido mera
ocorrência policial se o Jornal Washington
Post não tivesse publicado uma matéria sobre o caso e se o faro
jornalístico de Bob Woodward e Carl Bernstein não estivesse apurado. Eles descobriram que um dos invasores, preso, trabalhava
no comitê de reeleição de Richard Nixon. É que eles contavam com informações de
uma fonte conhecida pelo sugestivo apelido de “Garganta Profunda”.
“Garganta” era agente do
FBI e tinha acesso aos relatórios confidenciais da invasão. “Garganta” tinha um
comportamento republicano e temia morrer assassinada, então exigiu anonimato. Em encontros secretos, “Garganta” passava
informações para Bob Woodward e Carl Bernstein.
Ele negava ou confirmava a autenticidade das fontes e dos dados colhidos pelos
dois intrépidos jornalistas.
Foi por uma dica de “Garganta” que Carl Bernstein descobriu que
um cheque, de 25 mil dólares, pertencente ao tal comitê pró-reeleição de Nixon
tinha sido depositado na conta de um dos invasores do edifício Watergate. Assim, surgiu a primeira evidência que ligava o
fundo de campanha de Nixon, e o próprio Nixon, ao esquema que montou e procedeu
a invasão.
Pela insistência dos jornalistas do Washington
Post, pela repercussão que o
caso teve nos EUA e pelo mundo afora, foi criada uma Comissão no Senado para
investigar o caso oficialmente. Muitas
evidência e provas comprovaram que assessores de Nixon conduziram o esquema
para favorecer sua reeleição. Pior, demonstrou-se que Nixon não só sabia de
tudo como comandava o esquema.
No Senado, os advogados de Nixon tiveram que
assumir o envolvimento dele, pois havia gravações de telefonemas no escritório
do presidente mostrando que ele dava as diretrizes do esquema. O esquema não
ficou impune. Seis assessores, integrantes da equipe do presidente Nixon, foram
condenados. Para estancar o processo de impeachment, Nixon renunciou em Agosto
de 1974.
O caro ouvinte pode estar se perguntando por que
estou falando dessa antiga história. É que eu quero compará-la com o caso do
Mensalão. Mas, a comparação só pode mesmo ser feita por contraste.
O “Garganta Profunda” americano fez o que fez por respeito
às instituições políticas de seu país. O nosso “garganta”, Roberto Jefferson,
assumiu publicamente os crimes cometidos e ainda se vangloria deles. A Comissão
do Senado dos EUA foi criada para investigar o caso e o fez, mesmo que pressionada
pela sociedade. A “CPI dos Correios”, que virou a do “Mensalão”, cumpriu
parcialmente seus propósitos e morreu por inanição.
Nixon negou seu envolvimento no escândalo até
quanto pode, depois foi obrigado a assumir e pagou o preço por isso. O ex-presidente
Lula negou, e segue negando, seu envolvimento com o caso e opera em vários
níveis institucionais para que os mensaleiros sejam inocentados.
Tanto o Watergate como o Mensalão foram urdidos nas
dependências de sua respectivas sedes governamentais. A diferença é que Lula
foi mais esperto que Nixon e não se deixou gravar. Lula não deixou rastros. Já
Nixon deixou suas pegadas por onde passou.
Os acusados no caso Watergate confessaram suas
intenções criminosas. Queriam chantagear adversários para ganhar uma eleição. No discurso de sua renúncia, Nixon até admitiu suas
culpas quando disse “... lamento profundamente qualquer tipo de dano causado”.
José Dirceu disse que não fez
nada de mais. Que apenas montou um esquema para reunir dinheiro, público, e
subornar deputados para que eles votassem nos projetos que iriam melhorar a
vida do povo brasileiro. Tão nobre, não é mesmo? Eu não sei se os americanos
são melhores ou piores do que nós. O que eu sei é que o Watergate fez a
sociedade e a imprensa dos EUA ficarem mais atentas para desenvolverem
eficientes mecanismos de controle sobre as atividades de seus governantes e
representantes no parlamento.
Quanto a nós, assistimos
passivamente ao julgamento dos mensaleiros no STF. O que se convencionou chamar
de "o maior julgamento da história do Supremo" virou piada. O Jornal
Extra comparou os réus do mensalão aos personagens da novela “Avenida Brasil”.
Lula seria o Tufão; Zé Dirceu seria a Carminha; Roberto Jefferson seria a Rita;
Delúbio Soares seria o Nilo e assim sucessivamente. Como eu não acho a menor
graça nem na novela das nove e muito menos no caso do Mensalão, deixo para que
o caro ouvinte faça as devidas comparações.