terça-feira, 7 de agosto de 2012

RICARDO CONTRA TUDO E CONTRA TODOS.



Alguns dias antes da eleição do 2º turno de 2010 eu almoçava em um restaurante daqui de Campina Grande quando entrou no recinto o então candidato a governador Ricardo Coutinho. Ele estava acompanhado de duas pessoas, provavelmente assessores. Com cara de poucos amigos, Ricardo era a prova viva do que uma campanha eleitoral faz com um político. Os sinais do cansaço e do estresse eram visíveis.

Chamou-me atenção que ninguém se aproximou dele. E vejam que quase todas as mesas do restaurante estavam ocupadas. Enquanto esteve no local, Ricardo trocou poucas palavras com seus dois acompanhantes e falou quase todo tempo ao telefone. Nem ao menos ao garçom que lhe serviu, Ricardo dirigiu alguma palavra.

A demora foi pouca. Encerrada a refeição, Ricardo se retirou rapidamente do recinto. Por certo estava apressado, pois naquele mesmo dia teria uma carreata e outras atividades de campanha em Campina Grande.


Naquele momento o resultado da eleição era um tanto quanto incerto para Ricardo. Quase todas as pesquisas davam como certa a vitória de José Maranhão. Eu mesmo tinha dúvidas sobre a viabilidade eleitoral de Ricardo naquelas circunstâncias.

Foi por isso que estranhei que ele não tenha falado com os eleitores ali presentes. Também estranhei que ninguém tenha dele se aproximado e que ele não tenha feito menção a quem quer que fosse. As pessoas pareciam não atentar, mas ali estava o futuro governador da Paraíba.

Ricardo foi eleito e, para mim, ficaram faltando algumas peças do quebra-cabeça. Elas foram aparecendo na medida em que o tempo foi passando, pois o Ricardo governador parece ser diferente do Ricardo prefeito.

Algumas atitudes do governador demonstram uma tendência ao isolamento político. Não é que ele seja um mau governante. Agora mesmo, anunciou um investimento de R$ 4 bilhões em obras e ações por toda a Paraíba.

Ricardo governa com racionalidade. Ele vetou a Medida Provisória que atualiza o salário do magistério para o piso nacional por considerar que a Assembleia Legislativa não pode criar despesas. A MP foi editada pelo governador, mas sofreu alterações na Assembleia e ele a vetou.

Sempre poderá se dizer que ele vetou porque queria só para si o mérito do reajuste. A impressão que se tem é que Ricardo se incomoda com a presença dos outros poderes, mesmo já tendo sido deputado estadual. Não falta quem diga que Ricardo é personalista e centralizador ao ponto de não querer dividir nada, principalmente os ganhos políticos. De minha parte, percebo certa impaciência do governador para lidar com os atores do mundo da política paraibana.

Talvez seja por isso que ele não queira que as pessoas se aproximem dele como de fato aconteceu no caso do restaurante. Já se disse que pouquíssimas pessoas frequentam as dependências do Palácio da Redenção reservadas que são ao governador.

No caso do imbróglio do empréstimo da CAGEPA, Ricardo Coutinho tem suas razões. Pragmaticamente, ele quer saldar dividas antigas da Companhia de Águas, mas sem pagar juros extorsivos. Muitos dos que se colocam contra o fazem por interesses políticos. Mas, Ricardo, exatamente por ser governador, ou seja a autoridade maior do Estado, não parece disposto a negociar quando se vê com a razão.

Pelo contrário, vai para o enfrentamento com quem quer que seja. No caso, dos deputados caberia a Ricardo estender a mão para o diálogo e não desandar a dar declarações mal criadas fechando canais de negociação. Agora mesmo o que se vê é o governador em rota de colisão com o presidente da Assembleia Legislativa, o deputado Ricardo Marcelo que até articulou a criação do PEN na Paraíba para poder aumentar seu poder de barganha diante do governo estadual.

No caso da briga com o prefeito de João Pessoa, Luciano Agra, e parte do seu próprio partido, PSB, faltou aos envolvidos tranquilidade para se buscar um caminho mais ameno. O prefeito de João Pessoa, com seu temperamento intempestivo, colocou tudo a perder. Como Ricardo não soube manter o controle da situação perdeu a influência que tinha sobre a questão política na Capital.

Prova da impaciência de Ricardo Coutinho para lidar com dificuldades na seara política foi ter chamado Luciano Agra de “biruta de aeroporto”. Terá esquecido o governador que o prefeito biruta é uma criação sua? Agora Ricardo tenta colocar o leite derramado de volta na jarra. Ele está jogando todo o seu peso político para tirar a prefeitura das mãos de seu ex-aliado e colocá-la nas mãos de sua mais nova pupila.

Ricardo é um bom governante, que não teme às medidas impopulares. Ele destoa da maioria dos políticos do cenário paraibano e talvez seja por isso mesmo que enfrente tantas dificuldades. Ricardo é consciente que é melhor do que muitos outros políticos, mas não sabe lidar com essa sensação. Ao invés de influir com sua qualidade para que outros melhorem, quer deles se afastar.

Ricardo Coutinho é o Wanderley Luxemburgo da política paraibana. Ele tem seguido a risca o preceito luxemburguiano que diz que “eu ganhei, nos empatamos e vocês perderam”.