Alguns dias antes da eleição do 2º turno de 2010 eu
almoçava em um restaurante daqui de Campina Grande quando entrou no recinto o
então candidato a governador Ricardo Coutinho. Ele estava acompanhado de duas
pessoas, provavelmente assessores. Com cara de poucos amigos, Ricardo era a
prova viva do que uma campanha eleitoral faz com um político. Os sinais do
cansaço e do estresse eram visíveis.
Chamou-me atenção que ninguém se aproximou dele. E
vejam que quase todas as mesas do restaurante estavam ocupadas. Enquanto esteve
no local, Ricardo trocou poucas palavras com seus dois acompanhantes e falou
quase todo tempo ao telefone. Nem ao menos ao garçom que lhe serviu, Ricardo
dirigiu alguma palavra.
A demora foi pouca. Encerrada a refeição, Ricardo se
retirou rapidamente do recinto. Por certo estava apressado, pois naquele mesmo dia
teria uma carreata e outras atividades de campanha em Campina Grande.
Naquele momento o resultado da eleição era um tanto
quanto incerto para Ricardo. Quase todas as pesquisas davam como certa a
vitória de José Maranhão. Eu mesmo tinha dúvidas sobre a viabilidade eleitoral
de Ricardo naquelas circunstâncias.
Foi por isso que estranhei que ele não tenha falado
com os eleitores ali presentes. Também estranhei que ninguém tenha dele se
aproximado e que ele não tenha feito menção a quem quer que fosse. As pessoas
pareciam não atentar, mas ali estava o futuro governador da Paraíba.
Ricardo foi eleito e, para mim, ficaram faltando
algumas peças do quebra-cabeça. Elas foram aparecendo na medida em que o tempo
foi passando, pois o Ricardo governador parece ser diferente do Ricardo
prefeito.
Algumas atitudes do governador demonstram uma tendência
ao isolamento político. Não é que ele seja um mau governante. Agora mesmo,
anunciou um investimento de R$ 4 bilhões em obras e ações por toda a Paraíba.
Ricardo governa com racionalidade. Ele vetou a
Medida Provisória que atualiza o salário do magistério para o piso nacional por
considerar que a Assembleia Legislativa não pode criar despesas. A MP foi
editada pelo governador, mas sofreu alterações na Assembleia e ele a vetou.
Sempre poderá se dizer que ele vetou porque queria só
para si o mérito do reajuste. A impressão que se tem é que Ricardo se incomoda
com a presença dos outros poderes, mesmo já tendo sido deputado estadual. Não
falta quem diga que Ricardo é personalista e centralizador ao ponto de não
querer dividir nada, principalmente os ganhos políticos. De minha parte,
percebo certa impaciência do governador para lidar com os atores do mundo da
política paraibana.
Talvez seja por isso que ele não queira que as
pessoas se aproximem dele como de fato aconteceu no caso do restaurante. Já se
disse que pouquíssimas pessoas frequentam as dependências do Palácio da
Redenção reservadas que são ao governador.
No caso do imbróglio do empréstimo da CAGEPA,
Ricardo Coutinho tem suas razões. Pragmaticamente, ele quer saldar dividas
antigas da Companhia de Águas, mas sem pagar juros extorsivos. Muitos dos que
se colocam contra o fazem por interesses políticos. Mas, Ricardo, exatamente
por ser governador, ou seja a autoridade maior do Estado, não parece disposto a
negociar quando se vê com a razão.
Pelo contrário, vai para o enfrentamento com quem
quer que seja. No caso, dos deputados caberia a Ricardo estender a mão para o
diálogo e não desandar a dar declarações mal criadas fechando canais de
negociação. Agora mesmo o que se vê é o governador em rota de colisão com o
presidente da Assembleia Legislativa, o deputado Ricardo Marcelo que até
articulou a criação do PEN na Paraíba para poder aumentar seu poder de barganha
diante do governo estadual.
No caso da briga com o prefeito de João Pessoa, Luciano
Agra, e parte do seu próprio partido, PSB, faltou aos envolvidos tranquilidade
para se buscar um caminho mais ameno. O prefeito de João Pessoa, com seu
temperamento intempestivo, colocou tudo a perder. Como Ricardo não soube manter
o controle da situação perdeu a influência que tinha sobre a questão política
na Capital.
Prova da impaciência de Ricardo Coutinho para lidar
com dificuldades na seara política foi ter chamado Luciano Agra de “biruta de
aeroporto”. Terá esquecido o governador que o prefeito biruta é uma criação
sua? Agora Ricardo tenta colocar o leite derramado de volta na jarra. Ele está
jogando todo o seu peso político para tirar a prefeitura das mãos de seu
ex-aliado e colocá-la nas mãos de sua mais nova pupila.
Ricardo é um bom governante, que não teme às medidas
impopulares. Ele destoa da maioria dos políticos do cenário paraibano e talvez
seja por isso mesmo que enfrente tantas dificuldades. Ricardo é consciente que
é melhor do que muitos outros políticos, mas não sabe lidar com essa sensação.
Ao invés de influir com sua qualidade para que outros melhorem, quer deles se
afastar.
Ricardo Coutinho é o Wanderley Luxemburgo da
política paraibana. Ele tem seguido a risca o preceito luxemburguiano que diz
que “eu ganhei, nos empatamos e vocês perderam”.